quarta-feira, 16 de junho de 2010

ALGUMAS QUESTÕES SOBRE EDUCAÇÃO POPULAR

ALGUMAS QUESTÕES SOBRE EDUCAÇÃO POPULAR

Introdução
Escrever sobre Educação Popular é tarefa demasiada repetitiva, inúmeros autores já discorreram sobre o tema de maneiras variadas, hora critica, hora condizente com o momento histórico no qual se dava a Educação Popular. Tratarei, pois, não desacreditando os outros trabalhos, de expor algumas questões que, longe de serem conceitos – pois seria necessário um estudo mais aprofundado - dão um bom esclarecimento acerca do tema. Claro, devo admitir a importância dos conceitos para um entendimento mais amplo sobre o assunto, principalmente no que se refere à aplicação pratica do tema, porem deixo estes a cargo dos teóricos.
A expressão “Educação Popular” leva a várias definições ou entendimentos a respeito do tema. Abordarei inicialmente a que mais se percebe quando se deparamos com tal expressão. Posteriormente, dedicar-me-ei a outros aspectos que a meu ver não são tão explorados, não deixando, contudo, de serem importantes para o desvelamento do assunto.
Precisamente caminharei sobre duas linhas principais, duas idéias sobre Educação popular, analisando as origens, o porquê do termo, como também sua relação com o antagonismo de classes, chegando ao ponto de discutir sobre de qual classe, legitimamente pertence a educação. Claro, para fins de compreensão do tema em suas particularidades, pois não é coerente definir a educação como um produto pertencente a um ou a outro.

Educação Popular no sentido restrito do termo
Imagina-se logo que: educação popular é tal que, é conhecida por todos, tem popularidade grande na sociedade, daí, entende-se o nome. Em outros termos, seria uma educação que atingiria todos os indivíduos, todos esses conseqüentemente teriam acesso a essa educação. Tal educação, julgo popular. Entretanto o exposto não se concretiza na pratica. Nem todos têm acesso à educação, logo, esta não é popular.
A educação popular nesse sentido, seria também a educação que não variasse quanto a sua qualidade, seria dada com a mesma eficiência e qualidade para todas as classes sociais. A educação de uma pessoa com certo poder financeiro, seria então a mesma aplicada pelo sistema em uma área rural com pessoas de baixa renda.
Este é o primeiro ponto no qual nos referimos quando tratamos da educação popular.
A segunda idéia decorrente do termo é que: educação popular seria aquela que funcionaria no meio mais popular da sociedade. Considerando a divisão de classes, esta se situaria na classe popular. Decorre daqui o seguinte: a educação popular não seria aplicada as classes dominantes, pois seria tão somente, ferramenta da classe dominante, para usar nas classes dominadas. Seriam dois sistemas, duas formas de educação.
Até aqui duas diferenças básicas, a educação popular comum a todos, e a educação popular restrita a camada popular. São duas linhas percebidas naturalmente ao refletir sobre o tema.

Da prática da educação popular: “comum a todos”
Refiro-me a educação escolar. A pratica da educação popular comum a todos, implicaria em uma mudança geral no sistema de produção atual. A relação dominante-dominado impede o comunismo na educação.
A classe dominante tem uma visão de mundo que difere das outras classes. Os objetivos buscados, os meios usados, são todos próprios de uma ou de outra. O estado, defensor da classe dominante e incluído nesta, tem entre os seus papeis principais, a manutenção da ordem. A ordem é: o não conflito entre as classes. O estado tem formas de manter a ordem, a priori, utiliza-se de uma ideologia, quando não funciona, tem o braço armado, os militares. Para passar a ideologia de manutenção da ordem, de a situação está “boa”, e que poderia estar pior, a educação é um caminho oportuno.
Então, tem-se a divisão, a classe dominante formula um modelo de educação para as classes dominadas, tal que, amenize o seu estado de ignorância e acrescente algumas técnicas, não permitindo, no entanto, que este alcance o nível de conhecimento dos dominantes, para assim, não haver a possibilidade de concorrência de igual para igual.
Justifica-se aqui, a impossibilidade de praticar a educação popular no sistema de produção atual.

Das origens do termo
Educação popular surge em decorrência da situação histórica da sociedade, portanto, não foi algo que simplesmente passou a existir. Para um melhor entendimento da origem é necessário algumas considerações sobre a educação.
No momento em que vivemos em meio a grandes empresas capitalistas com produção em rítimo assombroso, dispondo de alta tecnologia em suas linhas de produção, fabricam com grande rapidez. Um fabricante de celulares, tem capacidade de em um curto espaço de tempo fabricar um aparelho celular para cada individuo existente no planeta. Mas porque será que isso não acontece? Pelo seguinte motivo. Produtos não são fabricados para suprir a necessidade de quem não o tem, e sim para quem pode pagar pelo produto, para quem tem um poder econômico que lhe permita comprar. Se puder pagar o valor agregado ao objeto, tudo bem, caso contrario não poderá ter acesso a este. Da mesma forma, as empresas que fabricam alimentos, têm capacidade de acabarem com a fome no planeta, atender imediatamente todos aqueles que mais necessitam de alimentos como a população dos países mais pobres da áfrica. Mas estas empresas não produzem alimento para quem tem necessidade de comer, produzem para quem pode pagar pelo alimento. Isso é um fenômeno do capitalismo.
O que será que tudo isso tem a ver com a educação? Em especial a educação popular? Basta saber que a educação escolar também é um fenômeno do capitalismo. Hoje nem tanto, mas na idade antiga, ter acesso a educação era apenas para as famílias nobres e burguesas, ou seja, para quem tinha posses. A educação não era para aqueles que a queriam, assim como hoje muitos ainda não tem acesso a uma boa educação.
A classe que não detinha poder, não tinha acesso ao saber. É neste momento que surge em comunidades pobres a educação chamada popular, aquela não oficializada, que não tava dentro da escola – importante lembrar que escola na forma que a conhecemos hoje é algo muito recente, surgindo com o capitalismo – porem na classe popular que não dispunha de poder nenhum. Então a necessidade figura aqui como fonte motivadora no surgimento da educação popular. É a necessidade da população mais pobre de buscar o mínimo de conhecimento, para tentar entender um pouco do mundo a sua volta. Basicamente foi dessa forma que se deu a educação em seus primórdios. Importante ressaltar que educação informal vem antes da educação escolar.

Da apropriação da educação pela classe burguesa
A tal ponto, instantaneamente pensa-se, então a educação é burguesa ou não? A principio pode-se pensar que sim. Hora, quem a planeja, financia, dispõe da oferta, se não o estado? E o nosso estado é sem sombra de duvida um estado burguês, detém não só poder econômico, mas também poder político, é a mescla perfeita para uma classe dominante. Também é burguês porque está a serviço da burguesia, de quem é dono do capital. Os grandes empresários patrocinam os políticos, e este retribuem a ajuda procurando sempre favorecer aqueles que podem bancar uma campanha.
No entanto, pelo discorrido no ponto anterior fica claro que a educação popular surge no meio popular, e mesmo a que era aplicada nos círculos burgueses não tinha um caráter de produto dessa classe. Aconteceu então uma apropriação definitiva da educação pela burguesia. Vários foram os motivos para tal apropriação. Primeiro que, ao ter a educação como uma ferramenta para capacitar, adestrar alguém para um determinado serviço. Segundo, quem domina alguns conhecimentos tem mais argumentos, podendo assim, usá-los para convencer quem não tem tais conhecimentos, é o poder do conhecimento.
Diante dessas possibilidades, a educação torna-se muito atraente aos olhos burgueses, pois com controle sobre a educação essa pode propor uma educação de qualidade – embora não seja regra – a sua classe, e ao restante dar o mínimo de conhecimento, o suficiente para ocuparem uma função dentro do “mundo do trabalho”.

Conclusão
Entre as questões sobre a educação popular, várias idéias surgem a cerca do papel da mesma. Teóricos discutem a questão da escola publica de qualidade para todos, uma tentativa de tornar a educação realmente popular, com padrão de qualidade de um extremo ao outro do país. Um esforço que pelo que já foi tratado aqui, fica difícil de concretizar em meio a nossa perversa sociedade desigualitária. O capitalismo, contraditório em seus próprios fundamentos, violentou o sentido da educação, tornou essa um produto e um caminho para alcançar o poder financeiro. Hoje a educação é vista apenas como um meio para se inserir no mercado de trabalho, essa idéia está profundamente enraizada nos jovens estudantes. Uma revolução propriamente dita seria necessário para reverter a imagem degradante que o capitalismo deu a educação.
Deposita-se hoje muita esperança na educação, muitos entendem que ela, somente ela é capaz de tirar a sociedade do abismo ao qual se encontra. O certo é que a educação realmente é um caminho, o que não significa que este caminho esteja disponível para quem quer fazer mudança. Tonet trata da educação em certa obra de sua autoria, sobre a emancipação humana através da mesma. É possível a educação proporcionar tal feito. Mas antes de tudo é preciso se auto-emancipar, abrir mão, ou melhor, deixar para trás antigos tabus que impedem a ascensão do humano até o seu ápice. E não é um processo harmonioso, ao contrario, é doloroso, é morrer para uma vida de servilismo e renascer para um novo e infinito horizonte. Feito isso individualmente, a educação entraria como um grande apoio, mas nunca como a salvação única da situação. Haja vista que a mesma também é um instrumento que ajuda a manter a ordem, e revolução não casa com ordem.

Bibliografia
ANTUNES, Ricardo. A dialética do trabalho. SP, Expressão popular, 2004.
TONET, Ivo. Educação, cidadania e emancipação humana. RS, Injuí Ed., 2005.
______, __. Educação e concepções de sociedade. SP, 1998.

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