domingo, 24 de janeiro de 2010

Da música arte

     É possível transcendência na música? ou melhor, terá a música em si elementos transcedentes? Estas questões não chegam a nós sem fundamento, por mais absurdas que possam parecer para alguns. É fato que, atualmente, pelo menos nos círculos acadêmicos, se entende/discute a música como uma prática social. Nesse caso, o forró que é popularmente escutado e produzido hoje no ceará, representaria a cultura de maneira geral desse Estado. Assim, uma determinada sociedade em uma determinada época produz de acordo com suas práticas um tipo especial de música. Até aqui tudo bem.
     No entanto, se pararmos para analisar o problema de maneira um pouca mais detalhada encontramos o seguinte. A música enquanto expressão artística, tem, de acordo com Lukács características próprias que a define enquanto obra de arte. Resumidamente, ela tem que abarcar o máximo possível de elementos da realidade; partir sempre da realidade mas conter elementos que saltam a essa realidade e uma vez que o "espectador" estiver a fitá-la, esta deve levá-lo de volta aquela realidade que a fundamenta.
     Pois bem, a principal questão para elucidar o problema é: De onde vêm esses aspectos que saltam a realidade? como se constroem? E se partem da realidade como podem estar acima desta? Estes não poderiam ser oriundos da subjetividade do espectador, já que Lukács diz ser uma aspecto da arte em si, independente de quem observa-la notar ou não tais aspectos. Por exemplo, um senhor com seus cinqüenta e tantos anos, nascido e vivido no interior do ceará, sem nunca ter tido acesso a escola, provavelmente e na maioria dos casos, ao ser posto diante da Monalisa de Da Vince, não veria nada mais do que um desenho de uma mulher, sem nenhum êxtase. Mas as características intrínsecas da arte estão lá. Diante dessas considerações, é licito discutir. Portanto, e desde já desconsiderando a transcedencia religiosa. Pode haver na musica uma essência? Essência essa que quando analisamos a pratica social da musica já não se pode mostra-la?

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Marx Vs. Nietzsche

Em breve, algumas considerações sobre o texto seguinte!

Será que é possível aproximar as filosofias de Marx e Nietzsche? Suas teorias são completamente diferentes, pois um filosofa sobre a escassez e o outro sobre a superabundância; um filosofa para os trabalhadores, pobres e oprimidos e o outro para os fortes e poderosos; um filosofa sobre a política e a economia e o outro sobre o poder e a moral.

Marx criou uma teoria política que explica a história humana como a história da luta de classes. Ele postulou o fim da sociedade capitalista a partir de contradições internas, que culminaria com a revolução proletária, que tomaria o poder. Seu principal livro é o “Capital” que contém uma interpretação sócio-econômica da histórica, conhecida como materialismo-histórico. Também escreveu a “Ideologia Alemã”, onde desvelou os mecanismos de dominação da minoria mais rica sobre o resto da população. Através do seu conceito de ideologia nos mostrou que a consciência que o sujeito tem de si e do mundo é uma falsa consciência, mantendo-os alienados de si mesmo e dos modos de produção. A filosofia de Marx é uma tentativa de transformar a sociedade e libertar o ser humano da repressão e da alienação através de uma mudança revolucionária.

Nietzsche ao contrário de Marx tem horror às massas e aos trabalhadores, é o filósofo do poder, da vontade de potência, da dominação. Enquanto Marx tornou-se o filósofo dos proletários, excluídos e miseráveis, Nietzsche rendeu homenagens aos valores dos fortes, ricos e poderosos, tornando-se inimigo do “amolecimento moderno dos sentimentos” e condenando o homem moral, fraco e religioso. Com isso, propôs-se a si mesmo fazer uma crítica dos valores morais, colocando em questão o próprio valor desses valores. Ele também é considerado o grande crítico da civilização ocidental racionalista, sua crítica está na raiz do que chamamos hoje de “crise da modernidade”. Nietzsche identificou a razão e a racionalidade com a decadência e o ódio aos instintos. A racionalidade, desde o nascimento da filosofia, tornou a razão (logos) o paradigma para o mundo ocidental, fundamentado nas categorias éticas que têm orientado os homens ao longo da história, reprimindo os instintos de vida celebrados pela tragédia grega, em nome de uma vida ética, consciente, sem instinto. Para ele o “logos” subjugou os instintos criadores. O homem trágico que age guiado pelos instintos foi substituído pelo homem racional. A vida foi subjugada pela razão. A filosofia de Nietzsche é uma filosofia dos afetos, das paixões e desejos, que contempla o individualismo, a força, a abundância e os instintos de vida.

Apesar das ressalvas que podemos fazer às filosofias de Marx e Nietzsche, é possível um diálogo entre esses dois pensadores, pois ambos respondem a uma mesma experiência histórica, ambos representam uma mudança decisiva no modo de compreender o homem, a cultura, a sociedade e o poder. Mas o que há de mais peculiar é que ambos possuem uma mesma perspectiva quanto à gênese do sujeito e do pensamento. Ambos concordam que o ser humano não é algo acabado, pronto, estável, não existe uma natureza humana já definida. O sujeito não é uma idealidade auto-suficiente e incondicionada. Para Marx o sujeito é determinado por aquilo que ele faz. O sujeito é determinado pelo seu “ser social”. É o comportamento material que fomenta suas representações e pensamento. Marx nos ensinou que, se examinarmos a maneira pelas quais os homens produzem os bens necessários à vida, é possível compreender as formas de seu pensamento, tais como sua moral, religião e filosofia. “A produção de idéias, de representações e da consciência está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens (…)” (Marx, 1976, p.25). Nietzsche não pensa diferente. Enquanto Marx valoriza os modos de produção na gênese do sujeito e do pensamento, Nietzsche valoriza o comércio como valor civilizador e formador da consciência. Em seu livro “Genealogia da Moral” Nietzsche se opõe à idéia de origem do sujeito e passa a compreender este através de uma genealogia, que o concebe emergindo através de relações de poder, através de um turbilhão de forças que o atinge. Não existe uma identidade metafísica, o ser humano não é um átomo, uma mônada. O sujeito se constitui no terreno dos acontecimentos históricos, das contradições, das relações de força e poder. O conceito de genealogia concebe o sujeito enquanto ser no mundo, onde o corpo se torna visível e um efeito dos embates de forças. Tal como em Marx, as formas de consciência como a filosofia, a moral, a cultura e as leis emergem em Nietzsche através das condições materiais de existência. O sujeito como ser racional e moral surge através das relações de troca e intercâmbio material entre os homens. Com Nietzsche aprendemos que “estabelecer preços, medir valores, imaginar equivalência, trocar – isso ocupou de tal maneira o mais antigo pensamento do homem que num certo sentido constituiu o pensamento: aí se cultivou a mais velha perspicácia, aí se poderia situar o primeiro impulso do orgulho humano, seu sentimento de primazia frente aos outros animais” (Nietzsche, 1988, p.73). São através desses dois livros, a “Ideologia Alemã” e a “Genealogia da moral” que Marx e Nietzsche se reconciliam.

Para Marx o mundo não é uma manifestação das idéias. A história universal não é uma manifestação da razão. Marx em seu texto “Ideologia Alemã” constrói uma ciência da história e toma o materialismo como objeto dessa ciência. Com isso não é mais o desenvolvimento geral do espírito humano que explica a vida social como postulava o idealismo. Para Marx o pensamento é o reflexo do desenvolvimento material objetivo da história. O postulado básico de toda história humana são os indivíduos reais, a sua ação e suas condições reais de sobrevivência. O papel do historiador é o de entender a realidade partindo das condições materiais de existência dos indivíduos, assim deve entender os fios que reconstituem a trama histórica. Busca compreender a conexão e formas de intercâmbio que vão se delineando como uma história universal. Na opinião de Marx, são as formas específicas de produção que determinam as idéias dos homens e as configurações culturais. As idéias religiosas, jurídicas, morais são reflexos das relações econômicas. Decorre disso, que o próprio homem é determinado pelo seu “ser social”. É o comportamento material que fomenta suas representações e pensamento. “A forma como os indivíduos manifestam a sua vida, refletem muito exatamente aquilo que são. O que são, coincide, portanto, com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como a forma como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais de sua produção” (Marx, 1976, p.19).

Em Nietzsche a gênese do sujeito e do pensamento surge a partir das relações de intercâmbio material entre os homens, uma relação entre credor e devedor. Essa tese é mostrada na segunda dissertação do seu livro “Genealogia da Moral”. Segundo sua tese a relação entre credor e devedor tem um caráter civilizador, foi esta experiência cruel que estabeleceu a consciência e os valores morais na espécie humana. O indivíduo que não pagava uma divida ou não cumpria um contrato deveria sofrer uma experiência cruel na mão do seu credor. Não pagar uma divida poderia significar perder uma parte do seu corpo, ser fervido em óleo quente, ser comido por formigas ou perder sua mulher. Para que o homem adquirisse consciência foi preciso muitas mutilações, castrações, penhores e sacrifícios. “Pense-se nos velhos castigos alemães, como a apedrejamento (-a lenda já fazia cair à pedra sobre a cabeça do culpado) a roda (a mais característica invenção, a especialidade do gênio alemão no reino dos castigos!), o empalamento, o dilaceramento ou pisoteamento por cavalos (o ‘esquaterjamento’), a fervura do criminoso em óleo ou vinho (ainda nos séculos quatorze e quinze), o popular esfolamento (‘corte de tiras’), a excisão da carne do peito; e também a prática de cobrir o mal-feitor de mel e deixá-lo às moscas, sob o sol ardente. Com a ajuda de tais imagens e procedimentos, termina-se por reter na memória cinco ou seis ‘não-quero’, com as quais se fez uma promessa, a fim de viver entre os benefícios da sociedade – e realmente! com a ajuda dessa espécie de memória chegou-se finalmente a ‘razão’!” (Nietzsche, 1988, p.63). Foi por meio desta experiência cruel que surgiu a faculdade que julga, discerne, compara. A razão tornou-se relação calculada entre meios e fins, tornou-se cálculo, operação e procedimento eficaz. O pensamento surgiu por meio cruéis e terríveis. O homem aprendeu “a distinguir o acontecimento casual do necessário, a pensar de maneira casual, a ver e antecipar a coisa distante como sendo presente, a estabelecer com segurança o fim e os meios para o fim, a calcular, contar, confiar – para isto, quanto não precisou antes se tornar ele próprio confiável, constante, necessário…” (Nietzsche, 1988, p.59).

Esse sistema de crueldade não foi somente responsável por erigir a razão enquanto a faculdade que calcula e relaciona os meios com os fins, mas também como faculdade moral que compara entre o certo e o errado, entre o útil e prejudicial. Nas relações práticas de comércio a memória foi treinada para a recordação dos deveres, das obrigações, dos contratos e compromissos. O não comprimento dos deveres criou a memória da má consciência, da culpa e do pecado. Na análise nitzscheana, o conceito moral de culpa teve origem no conceito concreto de “dívida”. Ele previu a origem da justiça e da moralidade dos costumes nas relações contratuais entre credor e devedor. A culpa não surge ligada à autonomia da vontade ou ao pecado religioso. Ela surge das relações de comércio e troca de bens e dinheiro. Ela surge da dívida. Através do medo e do terror das penalidades se fomentou a culpa na espécie humana. O não pagamento da dívida produz o castigo e a consciência do castigo produz a culpa. O indivíduo se sente culpado. Ele sabe que sua falta pode lhe causar o prejuízo de uma parte de seu corpo ou a perda de sua mulher. Foi assim que surgiu o homem responsável capaz de cumprir promessas.

O diagnóstico de Nietzsche mostrou que o sentimento de culpa e obrigação pessoal surge da relação entre comprador e vendedor, credor e devedor. Esse foi o primeiro momento em que o homem aprendeu a comparar uma pessoa com a outra, a medir uma pessoa com outra. O homem é o único animal que tem valores, Nietzsche o chamou de “animal avaliador”. Comprar e vender passou a fazer parte da constituição psíquica dos indivíduos. O sentimento de troca, contrato, débito, direito, obrigação, compensação na medida em que começaram a fazer parte das práticas sociais, criou o hábito no homem de comparar, medir, calcular. A partir daí surgiu à razão e a consciência moral. “Ah, a razão, a seriedade, o domínio sobre os afetos, toda essa coisa sóbria que se chama reflexão, todos esses privilégios e adereços do homem: como foi alto o seu preço! Quanto sangue e quanto horror há no fundo de todas as ‘coisas boas’”. (Nietzsche, 1988, p.63).

Do nosso ponto de vista, portanto, Marx e Nietzsche possuem uma mesma perspectiva quanto à gênese do sujeito e do pensamento. As formas de ser e pensar do ser humano foram determinados por aquilo que ele faz. O que o homem sempre fez em toda a história da civilização foi produzir e fazer comércio. Isso acabou por se impor a sua estrutura psíquica formando seus modos de ser, pensar, agir e valorizar. A racionalidade da produção e do comércio entendida como relação calculada entre meios e fins, definindo-se pela eficiência e pela capacidade de classificar, ordenar, dispor os objetos e os homens formou a razão como a faculdade de classificação, inferência e dedução, ou seja, como a faculdade que possibilita o funcionamento abstrato do mecanismo de pensamento. Da mesma forma através das relações de troca surgiram os valores, regras e normas do convívio social que fomentou a moralidade dos costumes. Foram os modos de produção e o comércio material entre os homens que construíram todas as instituições democráticas que conhecemos hoje. A produção e o comércio são produtos e ingredientes de nossa civilização.

Michel Aires de Souza

Extraído de:
http://filosofonet.wordpress.com/

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Marx & Nietzsche


O Sindicalismo Vs Super Homem
Como esses dois pensamentos podem caminhar juntos???