quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tampîri L’éducation

Nas nossas cidades, uma cena já se tornou corriqueira nessa época do ano. Após as escolas terem encerrado o ano letivo, inicia-se um esforço conjunto entre diretores, docentes e funcionários em geral e alunos, para o momento onde estes últimos terão reconhecido o seu trajeto escolar, seja na educação infantil, fundamental ou médio.
Tal momento não é apenas motivo de festa para as escolas, que na medida do possível se enfeitam para agradar a comunidade e os convidados de honra, as autoridades como costumam chamar. Mas é honroso para todos, se não, muitos dos pais, que se felicitam em apreciar aquela conquista de seu filho ou filha. Sem dúvida, o término de ciclo de seu filho na educação, é motivo de alegria. Principalmente quando lembramos que a maioria desses pais que presenciam esse momento festivo e religioso, não tiveram, nem de longe, a oportunidade de passarem por aquele momento e serem parabenizados pelos colegas.
Esses pais são pais trabalhadores, desde muito cedo entenderam que a vida é, acima de tudo, estar vivo. Para tanto, trabalhar e ganhar o alimento eram mais importante que estudar. Outros até tentaram, mas foram por fim, vencidos pela necessidade material. Hoje então, não nos admira que estes pais cansados estejam com os olhos molhados vislumbrando a pequena vitória do filho. Que para eles é a porta para muitas outras.
Esses pais, essas famílias cansadas do peso da vida árdua e às vezes injusta, colocam suas fichas na escola, na educação. Ingenuamente, eles acreditam que a escola possa de fato mudar o mundo de seus filhos. Mal sabem eles que, aquelas autoridades que as escolas convidam para jogar meia dúzia de frases de esperança, que deveriam ao invés disso mostrar na prática aquele discurso vazio, não estão preocupados com a boa educação, não estão preocupados com um futuro mais justo para os filhos daqueles pais esperançosos.
Esses senhores de honra, ou de falsa honra, pelo contrário, procuram a cada minuto, tornar piores as condições da educação de nossas cidades. Procuram de toda forma negar apoio, criar barreiras. E apesar de tudo isso, vestem suas mascaras e distribuem sorrisos, ludibriam, enganam, tornam dia após dia a educação em um faz de conta. Mesmo assim são convidados de honra. Nas escolas falta o básico, professores. Mas com tudo isso, os responsáveis por esse descaso são os convidados de honra.
Tudo eles planejam para atrasar a educação e encher suas contas, esses são os responsáveis pelo fracasso da escola. Em more, dialeto africano, os imbecís que arruínam a educação, a saúde. Aqueles que fingem diante da gente sofrida para mais lhes roubar, que dizem cuidar da educação enquanto a destroem, são chamados Tampîri.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

JUMENT EDITION: O ornitorrinco voltou ! ! !

Já se encontra nas dependências da FECLESC, nos sextos de lixo, e fundos de gaveta, a segunda Edição do Ornitorrinco Buliçoso. Não tem jeito, os burocratas de plantão tentaram esconder, abafar, mas o Ornitorrinco é passado na casca do alho, e deu as caras novamente. E ele já avisa que voltará, em breve, mais ardiloso, provocante e impertinente. Ele agora vai pegar pesado, na ciência, no humor, na poesia denuncia e na crítica.


Saboreiem o Jument Edtion, e se preparem para o próximo!

Boa Leitura ! ! !

Para os iniciantes nos estudos sobre o marxismo, eis uma dica para entender a categoria marxista "trabalho alienado". Os manuscritos economicos-filosóficos de Marx, nos possibilita ainda, mesmo de principio, perceber algumas das principais falhas do sistema hegeliano. Além dessas contribuições, esta obra traz de maneira clara e breve, as intenções do projeto socialista, desmistificando todas as incoerências que hoje são postas sobre esse eixo do marxismo. Compreender-se-á por exemplo, o real sentido da "abolição do Estado" enfatizada por Marx, assim como a relação desse processo com as forças produtivas e com os bens alcançados pela tecnoloia nos dias atuais. Efim, não dá pra explicar muito, só lendo mesmo.


Abraço a todos, e boa leitura!


domingo, 3 de outubro de 2010

Marmeladas 2010 - Últimas noticias!

Bem amigos! passou o primeiro turno das "eleições" 2010. Como voçes sabem, a parada é VOTAR NULO mesmo, mas só pra sacanear com os SERRISTAS e os LULISTAS, eu votei foi PLÍNIO, e anulei o restante. É divertido tirar onda com essa babaquisse de eleição! Confira o video.



Caros colegas, não se enganem, seu voto tem o poder de eleger um, ou outro candidato. Mas não tem o poder de acabar com o real inimigo da sociedade hoje, aquele que gera a miséria, aquele que mata de fome 12 crianças por minuto, ou seja, seu voto não acaba com o capitalismo, pelo contrário, fortalece o sistema, reforça a miséria de muitos enquanto contribui para o luxo de poucos. Não colabore com a miséria e o inferno que é a vida das familias dessas crianças. DIGA NÃO. sabotem as eleições!

VOTE NULO! VOTE NULO! VOTE NULO! VOTE NULO!

domingo, 5 de setembro de 2010

VOTAR OU NÃO VOTAR! EIS A QUESTÃO.

Caros colegas leitores, estamos em período eleitoral, e em poucos dias os brasileiros estarão se dirigindo as urnas para votar. É verdade que já houve um tempo em que tal atitude era concebida como um sonho, como por exemplo, no período ditatorial. Em tal momento, via-se a possibilidade da eleição direta para escolha de governantes como símbolo de liberdade e democracia. Por meio desse ato tudo melhoraria, educação, saúde, imprensa, segurança, lazer, cultura entre outros aspectos da sociedade. Se de fato, tivesse ocorrido essa transformação, deveríamos, é claro, estarmos orgulhos pela aproximação do dia em que mais uma vez estaríamos dando uma injeção de progresso na sociedade brasileira, entretanto, a realidade nos mostra outra verdade. Analisemos então os seguintes pontos, e vejamos se devemos nos dirigir as urnas.

1) O voto não é um ato democrático. Somos obrigados a votar sob pena de multa e, do contrario, temos o acesso impedido a vários serviços como, por exemplo, a concessão de determinados tipos de créditos bancários, impedidos de sair do país e de participar de concursos públicos. Esses são apenas alguns dos exemplos mais corriqueiros.

2) Voto e Educação. Apesar da exigência para que todos votem e escolham alguém para, entre outras coisas, zelar pela educação da nossa cidade, temos hoje o menor índice de reprovação dos últimos tempos. Isso, entretanto, não implica em qualidade, e sim em números. Os estudantes estão sendo aprovados sem os pré-requisitos básicos para cursar a série seguinte, os professores estão indo para a sala de aula sem formação adequada, os conteúdos são cada vez mais simplistas e as escolas continuam sem a estrutura básica para receber os alunos, como um simples Bebedouro.

3) Voto e Segurança. Nosso voto, apesar da exigência – vale repetir –, não garante nossa segurança. Dia após dia, somos noticiados sobre assaltos, roubos, estupros, etc. Entre esses, podemos destacar aqueles nos quais vários políticos da nossa própria cidade estão envolvidos (é só conferir no site do TSE/TRE). Enquanto pessoas comuns estão sendo vítimas desses atos, a polícia está fazendo a segurança de particulares, como por exemplo, do posto de combustível, dos maiores mercantis da cidade e de eventos pelos quais é cobrada uma taxa em torno de cem reais.

4) Voto e Saúde Pública. Apesar do nosso voto, os hospitais continuam precários, faltando por vezes medicamentos básicos para os pacientes. Para se obter uma consulta com um especialista, tenta-se quase um ano e além desses problemas, existe a incompetência de médicos que receitam fisioterapia para quem está à beira de um ataque cardíaco. Isso para não falar do atendimento, que por ser feito por bajuladores do prefeito, é o pior. Essas pessoas acham que são os verdadeiros donos da situação. Com tudo isso, no período eleitoral aparece “doutores” médicos consultando na casa do paciente, só para mostrar a falta de vergonha e desrespeito para com outros.

5) Voto e Mídia. Os canais de TV diariamente incentivam o voto. Isso se deve ao fato de que, são empresas, e como tais, são as que patrocinam essa política suja que em troca, procuram a todo custo validar leis e projetos que beneficiem os donos dos seus cofres.

6) Voto em Branco/Nulo. Somos a todo o momento induzidos a votar em alguém, e que o voto em branco ou anulado não é uma boa opção. Então qual será a melhor opção? Votar em pessoas corruptas que se aproveitam dos cargos públicos? Votar em pessoas que nos dão uma “segurança” desqualificada que pretende impor a ordem através do medo, espancando as pessoas nos bares? Votar em pessoas que dão uma educação de má qualidade para as crianças, sem livros de adequados, sem professores preparados, sem material didático e despreocupada com a formação críticas dessas crianças?

7) VOTE NULO. Companheiros, diante de toda essa vergonha, sinceramente, as pessoas que fazem parte da política hoje, não são dignas de voto. Diante dessa situação, é melhor votar nulo, pelo menos assim, não ficamos com a consciência pesada por estar contribuindo com toda essa desordem. Dessa maneira, talvez, um dia as pessoas que fazem a política criem o mínimo de respeito e compromisso com a sociedade. Não contribua com a corrupção, com a má educação, com uma polícia desastrosa, com empresários ambiciosos que escravizam seres humanos e nem com o luxo pessoal de deputados, senadores, governadores, prefeitos e vereadores!

VOTE NULO

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

METODOLOGIA DA PESQUISA EM EAD

METODOLOGIA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Francisco Romário de Lima
Wallace Stalone Lopes Silva
Gutemberg Nobre de Souza
Antonio Nascimento da Silva

O objeto do presente trabalho como sugere o titulo acima, é de modo geral a educação a distância. Entretanto, tal tema é bastante abrangente para a categoria do esforço agora realizado, sendo assim, restringido apenas as questões referentes aos métodos empregados por essa modalidade de ensino. A preocupação é saber que tipo de métodos são empregados e se eles realmente atendem as necessidades formativas de modo geral. Pois sabemos que, no modelo tradicional, onde há um esforço bem mais anterior no sentido de usar ferramentas e atitudes que propiciem um melhor resultado na aprendizagem, ainda não foi encontrada essa formula que garanta o pleno sucesso na formação do ser, assim como na vida profissional dos usuários, tal como veicula a mídia ao se referir a EAD.
Para conhecer hoje, os motivos ou possíveis que levaram esse modo de fazer educação via “tecnologia” a um lugar de destaque no gosto popular – e apenas popular –, é necessário um breve e introdutório histórico da evolução das técnicas. A priori, devemos quebrar os preconceitos com relação ao termo “tecnologia”, pois a primeira técnica externa usada pelo homem no sentido tirar proveito do meio foi um simples galho de árvore. Assim nos afirma Lukàcs (1983), quando escreve:
Primero se eligen guijarros de determinados caracteres para ciertos usos, y luego Del uso se tiran. Más tarde, esos guijarros aptos para algún uso (hachas) se recogen y guardan en cuanto que se encuentran. Hace falta una larga evolución hasta llegar a la fabricación de tales herramientas de piedra, primero como imitación de sus útiles originales casualmente hallados, tras de lo cual se produce, lenta y paulatinamente, la diferenciación de las herramientas. (P. 87)
A partir desse ponto começa toda a história da evolução das ferramentas, o que culminou nas modernas maquinas usadas pelo homem nos dias atuais. Isso serve apenas para mostrar que tecnologia não implica, por exemplo, em um artigo eletrônico contemporâneo altamente moderno no sentido capitalista do termo.
Desse modo, ao passo que o homem satisfazendo suas necessidades reais, outras tantas, a partir da primeira iam surgindo, avolumando-se dessa forma as objetivações do individuo com relação à natureza. Devemos lembrar que tal processo é antes de tudo o segundo pressuposto básico da história geral da humanidade e consequentemente do desenvolvimento particular de certas técnicas, já que a ausência de um negaria o outro. É o que nos mostra Marx e Engels (2005): “satisfeita essa primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de satisfação já adquirido conduzem a novas necessidades”. Foi então através desse progresso determinado pelas condições concretas que chegamos as atuais ferramentas, e, no nosso caso, ao uso de certos instrumentos tecnologicamente desenvolvidos para promover a formação institucionalizada.
A explosão tecnológica que deu á humanidade contemporânea a possibilidade de comunicação massiva e instantânea, gerou a idéia de que presenciamos neste momento uma sociedade da informação. Entre outras, esse pressuposto fortaleceu a união entre essas novas técnicas e a educação institucionalizada. Sobre essa relação entre as técnicas modernas e a educação, de onde surge a EAD, o artigo “sociedade da informação e inclusão digital: uma análise crítica” traz alguns pontos essenciais para a refutação de argumentos que defendem a existência positiva de uma sociedade da informação.
No trabalho supracitado, realizado por Mattos e Santos (2009), nota-se uma breve leitura crítica da inclusão digital no Brasil. Os autores abordam as tecnologias da informação e da comunicação dentro do contexto do capitalismo presente. Nesse esforço, por meio de dados expõem provas contundentes contra a dita sociedade da informação. O desenvolvimento das tecnologias, segundo a visão da elite, seria algo revolucionário para a sociedade, ocasionando assim uma nova onda de produção e de poder, fatalmente isso geraria uma onda de riqueza e de oportunidades em massa em todos os países. Tal evento constitui-se para a mesma classe que o possibilitou, uma ruptura com o sistema capitalista, levando de fato a uma nova organização social, que eles chamam de a sociedade da informação. O desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação (TIC’s) representaria uma nova era do capitalismo. Entretanto, tal explosão de riquezas e a dita transição a um capitalismo renovado caem por terra diante dos dados, pois estes mostram que os ganhos na produtividade, não estão crescendo, pelo contrário, a cada dia diminuem em comparação com a época de ouro do capitalismo (1945-1973).
No que se refere a propaganda capitalista de inclusão digital, os dados outra vez mostram uma realidade diferente. Podemos perceber no mapa da exclusão digital, elaborado pela FGV, que apenas 15% da população mundial está conectada a grande rede. Um número baixo para o positivismo da elite. Em nível de Brasil, pode-se dizer que a exclusão alcança níveis altíssimos. O que leva a essa falsa propaganda de inclusão digital por parte dos grandes capitalistas é simples, seja deliberadamente ou não, estes não analisam a situação a partir da realidade do cotidiano das pessoas de modo geral, mas apenas vêm o mundo partindo do seu próprio umbigo. É simples perceber que o fato de haver produção em massa de computadores e todos esses equipamentos modernos, não implica de maneira alguma, que estes estão chegando a toda à população, ou que todos estão utilizando essas maquinas. Se a opinião dos proprietários dos meios de produção fosse correta, certamente não haveria miséria na África e em nenhuma outra parte do mundo, já que a produção de alimentos, vestimenta e moradia, seria mais do que suficiente para satisfazer aqueles desprovidos desses bens.
Sobre a ideia anteriormente citada, a respeito de uma sociedade da informação, basta observar um pouco a realidade para percebermos o quanto ilusório é tal argumentação. Vejamos por exemplo, O sertanejo. Distante de toda a tecnologia “moderna” conhece todos os processos referentes ao seu transporte, seu “animal”. Este homem sabe exatamente quais e como por os arreios de maneira que tais equipamentos não traga nenhuma surpresa para si e nem para o “usuário”, conhece mais de que ninguém como se apoiar no animal para obter um melhor equilíbrio, identifica quando seu transporte está acometido de alguma mazela e ainda mais, identifica a doença e aplica-lhe a cura. Por outro lado, o homem do meio tecnológico, sobre seu carro moderno, tem o conhecimento apenas, quando muito, de guia-lo pelas ruas, sendo que, ao sinal do menor problema, quando percebido é claro, recorre imediatamente a outrem, para que este tente identificar o problema e ver as possíveis soluções. Tal exemplo, não provém de devaneios do puro pensar, mas sim, da realidade palpável, sendo passível de constatação empírica dia após dia, agora mesmo. Ademais, tal colocação serve para, de uma vez por todas, acabar com a ilusão de que vivenciamos uma sociedade da informação.
A educação nessa suposta sociedade da informação tem papel importante, pois forma, ou melhor, capacita as pessoas a trabalhar, operar as TICs. Dessa forma, a educação cada vez mais desumanizada pelas novas tecnologias, assume gradualmente um nível mais elevado como instrumento de fortalecimento ideológico e reprodução do capital.
De antemão, ressaltamos aqui a carência de um maior aprofundamento nesse tema que é de imensa relevância para a academia de modo geral, e em particular para os discentes do curso de Pedagogia em suas futuras ações práticas. Tal problema se deve principalmente a falta de uma investigação que se dê no plano real, no cotidiano dos indivíduos, pois aqui, nos limitaremos apenas aos livros e fragmentos destes. Ademais, o caráter de simples trabalho universitário, nos impede, em virtude do tempo, de uma pesquisa mais séria que partisse do cotidiano para só depois chegar ao teórico. Do modo em que somos obrigados a proceder no presente esforço, ficamos inevitavelmente – repito, pelo caráter de “trabalho escolar” –, fadados a cair no pecado de Hegel, qual seja, afirmar que o caminho que leva a compreensão da realidade, ao concreto, inicia-se com a lógica, com o puro pensar. Nessas condições queremos ressaltar que, não é nosso real desejo explicar o tema aqui tratado, pelo idealismo do sistema hegeliano.
Levando em conta as variáveis da pesquisa com relação às fontes, podemos traçar agora nossos objetivos para com o presente labor. De modo geral, pretendemos desmistificar a idéia corrente de que a EAD é a solução para o problema do acesso a educação de qualidade. Decorre desse que, de maneira específica pretendemos: 1) Analisar os métodos utilizados pela EAD, averiguando se esses correspondem às necessidades educativas reais da população; 2) Discutir as bases que fundamentam a EAD; 3) Refutar a ideologia dominante que afirma a existência de uma sociedade da informação.
Portanto, nossas considerações deverão, de maneira clara, atender a tais objetivos. Não por simples exercício, mas como já mencionamos, devido aos sérios impactos que tais assuntos trazem à educação atual, assim como as perspectivas futuras geradas sob a ótica positiva desses temas, pois estas, como serão detalhadas adiante, contradizem as aspirações das massas desprovidas de capital.
A princípio, a consideração que fazemos é sobre os métodos utilizados na EAD, mais precisamente, na metodologia da pesquisa dessa modalidade de ensino. Como é de conhecimento da maioria, no cotidiano de uma sala de aula, ocorre incessantemente a tentativa do educador em buscar o melhor resultado no que tange ensino aprendizagem. Nessa luta, evidenciam-se entre outros tantos obstáculos, a fragilidade material das escolas publicas, a ausência de um currículo que atenda de igual para igual as expectativas e necessidades dos educandos e ademais, a má formação – não por própria culpa, mas por fatores matérias concretos como alimentar sua família–, que traz por último, o problema com relação a que método utilizar para possibilitar o melhor desenvolvimento possível dos discentes. Essa é uma variante conhecida por todos os professores, e estes sabem o quanto esta é importante em suas salas de aula, assim como reconhecem também a dificuldade em conciliar de fato, um método eficiente para cada estudante.
Tais considerações servem para mostrar os problemas sérios encontrados tanto com relação à estrutura como quanto às estratégias utilizadas na modalidade tradicional de ensino para dessa forma refutar antecipadamente, as mil maravilhas ditas sobre a EAD, essa que ao contrário do ensino comum, se processa friamente, sem o contado, sem a interação pessoal entre professor e aluno. Portanto, pode-se já supor que, não em estrutura física, mas em relação a métodos, na EAD esses problemas tendem a se agravarem. Analisemos então, essa questão a partir do ponto de vista da EAD traçado no texto metodologia da pesquisa em educação a distância, um trabalho conjunto de professores da UFPR.
O primeiro ponto que chama a atenção nesse escrito é a atribuição dada a pesquisa. Os autores mergulhados num ideal escolanovista que de fato não se executa na prática forçam a aproximação da pesquisa com o ensino. Eles ressaltam isso no seguinte trecho: “[...] incentivando a pesquisa como instrumento de ação para a organização das atividades necessárias para o aprendizado”. Antes de qualquer comentário referente a esse aspecto, deve-se de uma vez por todas ter a consciência de que pesquisa não é ensino. Qualquer analise prática e mesmo teórica, mostra que as duas são ações extremamente importantes para o progresso da ciência, mas que, no âmbito da educação escolar seguem caminhos paralelos. O ensino em si, é um momento de interação entre professor e aluno, nos âmbitos prático e emocional da mesma relação. Nesse contato, a medida que os conhecimentos são não transmitidos, mas compreendidos pelo estudante, leva-o a um novo degrau lógico e organizacional de seu pensar que, retribui ao educador com novas variáveis daquele conhecimento primeiro. Da consciência desse movimento, o ensino passa a ser ensino-para-si. Lembrando que o conceito não se aplica puro no cotidiano, pois é remodelado e redefinido a cada ato de ensinar, em cada lugar do mundo. Desse modo podemos afirmar que há sim, pesquisa no ato do ensino, entretanto, essa pesquisa tem caráter imediato e se processa nas estruturas cognitivas, no exercício do pensar, num esforço lógico inicial para sentir o feed-back daquelas informações apresentadas com relação à realidade.
Por outro lado, a pesquisa situa-se em um momento posterior ao ensino, não por simples organização hierarquia baseada em graus de importância entre um e outro, mas pelo processo natural de “desenvolvimento” do conhecimento, haja vista que, quando se realiza uma pesquisa, pressupõe-se sempre um determinado conhecimento inicial sobre o objeto de investigação.
Outro aspecto que se destaca no texto supracitado, é a aparência técnica reducionista dos métodos de pesquisa nessa modalidade de ensino. As orientações sobre os vários aspectos da pesquisa e particularmente seus métodos, são traçados no texto não como uma ação que antes de tudo, se radique na realidade, ou seja, que os dados mesmos obtidos podem consequentemente constituir-se como uma variável para o método. Diante disso, evidencia-se o não-humanismo, a carência quanto à interação pesquisador-realidade-método. Tal fato, a priori, parece simples e sem grandes consequências, mas na realidade este se vincula a uma série de outros que tem por meta extinguir a educação pública, por exemplo. Ademais, precisamos esclarecer o que leva a EAD a utilizar métodos com a aparência descrita acima, pois tal atitude não é decorrente de mera arbitrariedade.
No feudalismo, as relações de dominação se davam principalmente entre senhor e servo. Nesse momento da história, as condições materiais não exigiam grande número de pessoas com conhecimento seja esse teórico ou mesmo prático. A educação no feudalismo era acima de tudo responsabilidade da igreja, nesse caso a católica era dominante. Como a produção baseava-se no campo, tudo que era necessário sobre o manejo da agricultura era aprendido pelo servo na própria convivência em meio aquele ambiente. Dentro desse contexto, fatos levaram a revolução política na França e industrial na Inglaterra. Com o desenvolvimento das maquinas foi necessário treinar as pessoas para trabalhar com essas novas ferramentas, daí surge a educação institucional para todos, a escola. Mas no modelo de produção capitalista, a escola é elemento contraditório, pois ao mesmo tempo em que fornece mão de obra para as novas ferramentas, ela também estimula mesmo que suavemente o homem a pensar sobre sua própria vida. Seguindo o raciocínio, destacamos o principal objetivo do capitalismo, qual seja a obtenção sempre maior de lucro. Assim, a escola também significa um gasto perigoso para o estado burguês, este que normalmente, vai sempre tender a reduzir gastos nesse setor, assim como o conhecimento nele vinculado, buscando estritamente a capacitação para o trabalho e por outro lado investindo na educação privada, já que esta é lucrativa e, portanto se encaixa perfeitamente no modelo atual. Com o advento das tecnologias da comunicação e da informação, veio a oportunidade da redução de gastos com a educação sem, aparentemente perda de qualidade, nesse momento surge a EAD.
Como fruto desse modelo de produção, e mais especificamente como uma maneira de economizar com a educação comum, a educação a distancia em si traz a idéia central do capitalismo, priorizado acima de tudo o lucro, ficando sempre em segundo plano o lado humanístico, emocional que inevitavelmente é parte de uma educação emancipadora. Assim fica claro o entendimento sobre os aspectos técnicos da EAD, estes, buscam da mesma forma que a modalidade em si, reproduzir uma ideologia, um comportamento condizente com determinado modelo de Estado. É dessa maneira que se apresenta a metodologia da pesquisa nessa modalidade de ensino, como uma receita pronta a seguir, e ainda por cima misturando indevidamente pesquisa com ensino.
A guisa de conclusão podemos por aqui que, os objetivos de uma metodologia na pesquisa, não alcançam nessa modalidade aqui citada, resultados condizentes com a realidade, haja vista da força maior que a direciona sempre segundo um idealismo burguês, qual seja, o capitalismo moderno. Assim carece, acertadamente, de um feedback entre realidade e teoria nas produções via metodologia da educação a distancia. Por se realizar sem a interação direta entre aluno e professor, essa modalidade busca desesperadamente preparar e repassar uma receita de “como pesquisar” para seus clientes, esquecendo que cada lugar tem suas particularidades, assim como cada pesquisador e sua respectiva pesquisa, e acima de tudo, que a própria pesquisa esta sempre sujeita – se for uma pesquisa séria –, a utilizar novas estratégias e novas formas de proceder, sendo inútil uma receita pronta como oferece aqui a educação a distancia. Assim, segundo o texto a nós apresentados e mediante a análise contextual do problema, concluímos com consideração negativa, sobre a metodologia de pesquisa em EAD.


Bibliografia

LUKÁCS, Georg. Estetica I: La peculiaridad de lo estetico. Bracelona: Crijalbo, 1982.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: Feuerbach – A contraposição entre as cosmovisões materialista e idealista. 3ª edição. São Paulo: Martin Claret, 2005.
MATTOS, Fernando Augusto Mansor de e BRUNA, Daniela Dias Rocchetti Santos. Sociedade da informação e inclusão digital: uma análise crítica. Liinc em Revista, v.5, n.1, Rio de Janeiro, março de 2009.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Enciclopédia das Ciências Filosóficas - Em compêndio (1830): I – A ciência da Lógica. 2ª Edição. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
SILVA, Maria Urbana D. As Pedagogias Diferenciadas e o Papel do Professor Frente à Escola em Mudança. ENCONTRO DE EDUCAÇÃO E MARKETING AEC-SP, 2001.
FERREIRA Daniela Assis Alves. Tecnologia: fator determinante no advento da sociedade da informação? Perspect. cienc. inf., Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 4-11, jan./jun. 2003.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

EXTRA ! ! ! EXTRA ! ! !

"É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".
(Constituição Federal, 1988. Art. 5º In. IX)
Dái a César o que é de César! Assim diz o ditado. Pois bem, vamos aos fatos. No dia 30 de junho de 2010, em Capistrano, ao chegarem para receber a recompensa (salário/pagamento) pelo trabalho feito, os professores com contrato temporário (ilegalmente, pois não assumiram o cargo por meio de concurso público com edital) eram convidados (intimados), a assinarem um novo contrato com vencimento no dia 15 de junho do mesmo ano. Detalhe, esses professores já haviam assinado um contrato no inicio do ano letivo com vencimento em 30 de junho. A intenção na alteração do contrato (por parte da prefeitura), é pagar apenas metade do mês aos professores temporários.
Especificamente sobre as irregularidades:
1ª - Contratos temporários sem seleçao via concurso;
2ª - Alterar contrato sem aviso prévio por escrito ao contratado;
3ª - Negar ao contratado, a sua via do contrato;
4ª - Chantagem. Ameaça ao professor que se negasse a assinar o novo contrato.
Vamos ouvir o que a Promotora de Justiça de Capistrano tem a dizer sobre esses fatos...!

sábado, 19 de junho de 2010

AINDA EXIGEM MELHORIA NA EDUCAÇÃO DE CAPISTRANO!!!

Os alunos de capistrano, assim como a maioria dos alunos da rede publica de outros municípios, sofrem e são agudamente prejudicados com a falta de recussos básicos como biblioteca, computadores conectados à internet, livros didáticos de qualidade, uma sala de aula que proporcione o minímo de conforto e uma merenda digna. Agora, em Capistrano, os administradores achando tudo isso pouco, resolveram de maneira inacreditavelmente "inteligente", tirar dos alunos as próprias aulas. Esse ato que reflete a incompetência da política educacional de Capistrano, foi justificado pelos "sábios" administradores como sendo em consequencia de corte de gastos. De certo eles pensam que o "povo" é cego e burro. Porque enquanto eles estão dando essas desculpas sem o minímo de coerencia, existem várias pessoas ganhando absurdos de dinheiro sem se quer saber onde estam lotadas. É uma vergonha uma administração "economizar" com a educação das inocentes crianças, para poder bancar os puxa-sacos que tão ávidamente defendem seus senhores. Isso causa nojo e repudio à essas pessoas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O VERBO VÔMITO

Isso não é poesia
parece mais com repente
daqueles que sai no impulso
como aquelas raivas grades
que a gente trinca o dente.
as letras tudo adoidada
sem beleza e com inmundice
chega esguia e assoberbada
quer mostar a escandiliçe
que atormenta a molecada.
descreve minino pobre.
sofredor sem ter cultura
que mal um bocado engole
esse angu da prefeitura
negado mais do que pode.
clementes por um cuidado
de direito e merecido
estão sendo saqueado
por uns caras conhecido
estão sendo maltratado.
o que era pra ser normal
está dentro da escola
já se foi pro escambal
mas vai retornar na hora
dos 100 conto eleitoral.
eita vereador duma égua
o prefeito tá sem controle
e o secretário diz arreda
tão fudendo a educação
que já era uma merda.
gente bonita e elegante
parcela o certificado
numa faculdade importante
mas num serve de porra nenhuma
são tudo uns ingnorante.
não tem visão de futuro
saquea a educação
e age sempre no escuro
sem tomar uma decisão
fica sempre sobre o muro.
corruptos e egoístas
não conhecem a realidade
dessa gente tão sofrida
mas sei com sinceridade
vai chegar a sua saída.
é.. vou saindo pro aqui
espalhar esses boato
pra vê se o povo ri
mas a coisa tá séria maxo
se não lutar vai cair.

Da religião: Formas Primitivas de religião

Da religião

1. Formas Primitivas de religião
As manifestações religiosas nem sempre foram como nós às observamos hoje. Assim como as outras construções do intelecto humano - e a própria natureza-, as religiões ou as formas de manifestação religiosa têm consideravelmente se alterando ao longo da história da humanidade. Isso, no entanto, não implica em dizer que as religiões de hoje não trazem em si traços de suas formas anteriores, muito embora, no caminho do tempo, detalhes, traços significante ficaram para trás, ou ainda, foram totalmente resinificados. Credos, objetos de adoração, dogmas, orações e toda ideologia e intenção por trás destes, tem se alterado. Isso de acordo com as condições históricas do momento e sempre com uma finalidade, com um propósito.
Antes de expor as consideradas formas religiosas primitivas, é válido esclarecer sobre como realmente surge não uma religião, mas o sentimento religioso. Este que é responsável pela forma institucional religiosa. Pois seria demasiado vago dizer que em um dado momento da história da humanidade, o homem simplesmente passou a crer em forças que não se constituíam na realidade concreta e objetiva em que vivia. Tal explicação de maneira alguma satisfaz um estudo acadêmico, aproximando-se mais de uma visão de mundo do senso comum. No entanto, para uma explicação clara sobre o fenômeno do surgimento da religião, algumas noções que se tem hoje sobre esse tipo de manifestação, terão que ser superadas. Partes dessas noções de certa forma até preconceituosas sobre as religiões, decorrem do cientificismo de nossa sociedade. Fato intrigante, pois mais adiante mostraremos que a própria ciência tem por trás características típicas de um sentimento religioso, e que o cientista no escuro de seu laboratório, opera com base mais na fé do que em seus dados coletados da realidade concreta.
De inicio, faz-se necessário distinguir sentimento religioso de instituição religiosa. Pois são duas áreas distintas entre si, apesar de frequentemente serem confundidas, motivo pelo qual até o momento tivemos poucos trabalhos realmente satisfatórios com relação ao tema. De maneira simples, mas concisa. Podemos associar o sentimento religioso com o sentimento do belo. De forma alguma podemos extrair o belo de uma sinfonia. Quando ouvimos, sentimos a beleza daquela sonoridade, nos desligamos da realidade dura do cotidiano por alguns instantes. Porém, nenhum físico poderá mostrar cientificamente, através de seus métodos, em que parte, ou detalhe da sinfonia se encontra o belo. Ele mostrará ondas, vibrações, freqüências, em fim, todas as partes concretas da música. Mas não conseguirá mostrar em qual dessas partes se encontra aquele belo sentido pelo apreciador da música.
Semelhante a essa contemplação da música é o sentimento religioso. No sentido de que ele é não uma fuga da realidade, mas uma maneira diferente de viver a realidade. O homem vive continuamente em conflito. As aspirações humanas de vida plena, paz e outras tantas aspirações de caráter até utópico não condizem com a cruel realidade diante de nossos sentidos. Contra as aspirações do coração a realidade mostra morte, derramamento de sangue inocente em guerras sem sentido útil para a manutenção da vida. O homem então, é tomado por essa constante discórdia dentro de si. Esse seria o primeiro momento constituinte do sentimento religioso. De acordo com Ruben Alves:
Desaparecem os horizontes, desaparecem as certezas, desorganiza-se o comportamento, inúteis as súplicas, inútil olhar para o futuro, inútil lutar. Só se ouve o silêncio, só se contempla o vazio, só se sente uma ausência. Chegamos a uma conclusão paradoxal. No seu primeiro momento, a experiência religiosa primordial, longe de ser uma visão de Deus, é o sentimento da dissolução do divino: morte de Deus, eclipse de Deus, ausência de Deus. É significativo que tanto no paraíso quanto na nova Jerusalém não haja templos. Num mundo divino não há lugar para a consciência religiosa. Somente sente a nostalgia religiosa ou aquele que foi expulso do paraíso ou aquele que ainda não encontrou a nova Jerusalém.
(Pág. 141, 2007)
O segundo momento configura-se como uma decisão. Pois neste ponto o homem tem à frente dois caminhos, pelos quais, dependendo de seu estado de espírito seguirá um ou outro. Ruben Alves descreve esse momento da seguinte forma:
Uma possibilidade é o ajustamento: tornarmo-nos realistas e objetivos. Aceitar a realidade socialmente construída como sendo, de fato, a realidade. A outra possibilidade é manter a suspeita de o real não seja real, e guardar, no espaço e no tempo que nos são interiores, os valores e aspirações para os quais não há lugar no mundo: utópicos.
Basicamente, e de forma breve, é dessa maneira que surge no homem o sentimento religioso. Como dissemos anteriormente, este é diferente da instituição religiosa. A ultima, por sua vez, com seus símbolos, templos e dogmas, é antes de tudo um reflexo do sentimento religioso. Ou seja, a religião como conhecemos é um coletivismo do sentimento religioso. Quanto acontece esse agrupamento, os objetivos e fins mudam de acordo com as relações de poder construídas dentro daquele determinado número de pessoas. Que em outras palavras é semelhante ao que acontece com os teólogos. Estes se preocupam em explicar a origem do nome de Cristo, cada letra. Como se isso fosse realmente importante e determinante nos fins construídos e desejados pelo próprio Cristo segundo os escritos que os homens lhe atribuíram.
Diante do exposto, e necessário. Trataremos de abordar especificamente sobre as religiões primitivas. Uma das formas mais primitivas de manifestação religiosa é conhecida como Animismo. Essa denominação tem relação direta com a manifestação em si e foi atribuída pelo Antropólogo Sir Edward. B. Tylor. De acordo Tylor, a noção de alma no homem primitivo surge em situações como, por exemplo, através dos sonhos e de doenças. Diante desses estados, julgou-se que havia uma força presente no homem que de certa forma era independente deste, podendo se manifestar em determinadas situações. O Antropólogo estabelece como sendo este o primeiro momento no surgimento das religiões. Uma fase seguinte seria já, considerando que a alma teria a capacidade sair do corpo humano e habitar qualquer outro componente da natureza. Daqui em diante, o homem primitivo passou a acreditar na existência de espíritos nas árvores, rios, pedras, vento e ouros vários elementos da natureza. Em termos gerais, na crença animista o espírito pode deixar o corpo que abriga por um certo tempo, não deixando com isso de exercer controle sobre esse corpo. No animismo, não existe idéia de ressurreição para os humanos e nem para os espíritos, isso implica que para os animistas os espíritos também morrem. É importante destacar aqui que, segundo Tylor, foi desse ponto que surgiu o fetichismo. Observamos aqui o seguinte. A manifestação religiosa surge de uma incapacidade natural de explicar os fatos tais como eles realmente ocorriam. Aqueles fatos contrariavam o intelecto do homem. Desse impacto, desse descontentamento com o que percebiam passaram a ver o mundo com outros olhos, uma outra leitura da realidade. Basicamente o animismo configura-se no exposto. No entanto, algumas considerações são cabíveis a teoria de Tylor. De acordo com seu trabalho intitulado Primitive Culture(1871), o desenvolvimento das religiões constituem-se em etapas distintas, quais sejam, animismo, fetichismo, totemismo e xamanismo, religiões politeístas e por fim, no ultimo estado evolutivo o monoteísmo. Porem, vários outros estudos já demonstraram que essa regra não é válida. Pois há religiões que passam da forma animista para a monoteísta, sem de forma alguma passar pelas outras etapas. Importante destacar aqui o contexto em vivia o homem. Sua relação era basicamente com a natureza. E como disse Rousseau, “tudo que eles precisavam era de alimento, uma fêmea e um lugar pra deitar”. Ou seja, uma vida extremamente natural.
Não podemos aqui precisar datas com relação a esse surgimento da religião. Pois não há estudo conciso que comprove nenhuma data fixa para o surgimento do animismo.
Para efeito de uma melhor compreensão, ressaltamos o seguinte. É difícil encontrar atualmente uma constituição religiosa pura. Em outras palavras, podemos perceber em uma determinada religião traços de várias outras. Tomemos como exemplo o Cristianismo. Essa crença é fundamentalmente monoteísta, porém, em seus rituais nota-se um toque do fetichismo. É o caso da Hóstia Consagrada. A está é atribuído não só o espírito de Cristo, mas também o seu próprio corpo. Ela é assim, tida como fonte de grandes poderes divinos para os cristãos. Este aspecto é outro que foge aos estudos de Tylor.
Uma outra manifestação religiosa antiga é conhecida como Xamanismo. Frequentemente a palavra tem sido ligada especificamente a crenças indígenas. No entanto, os indígenas foram os principais, se não os únicos responsáveis por manter a tradição das crenças xamanísticas. Foi através deles também que o xamanismo pode chegar a vários outros povos espalhados por todo o planeta. Contudo o xamanismo não é particularidade dos indígenas.
O xamanismo é considerado como uma das mais antigas religiões do homem. Estudos realizados com intenção de um maior aprofundamento sobre essa manifestação atribuem como período de surgimento dessa crença, a era paleolítica. Ou seja, o xamanismo existe há 40.000 (quarenta mil) ou 50.000 (cinqüenta mil) anos atrás. Portanto sua origem remonta a idade da pedra. Durante a primeira metade do século XX, foram descobertas em cavernas nos montes Pirineus, França, pinturas rupestres de figuras humanas com partes do corpo de animais. Por essa e outras características, tais pinturas foram atribuídas a antigas tribos xamãs que habitaram o local em uma época remota. A crença xamanística é fundamentalmente como a maioria das religiões primitivas, cosmológicas. Isso quer dizer que, os xamãs entendem o ser humano como um microcosmo dentro de um macrocosmo. Nessa relação, todas as particularidades da natureza estão entrelaçadas entre si mesmas e com o poder divino. Diferente de crenças não cosmológicas como será mostrado adiante. O homem xamã entende-se como um pedaço do todo “natureza” e do divino que a constituiu. Conclui-se com isso que o xamã ver em todos os detalhes da natureza um poder divino. Tal visão justifica o zelo natural das tribos xamãnicas para com toda a natureza, pois esta é sagrada para a tribo.
Sobre os rituais xamãnicos faz-se necessário um destaque maior. As tribos xamãnicas têm seus determinados instrumentos para uso em cerimônias. Tais instrumentos são de extrema importância, pois estes propiciam um momento de contemplação com a força divina. Entre os vários instrumentos podemos destacar aqui o tambor e o maracá. Os sons produzidos por esses dispositivos favorecem o relaxamento ou o desligamento do corpo físico, facilitando também no xamã um estado de consciência alterado. Exercícios vocais também são usados para induzir o membro da tribo em um transe. Basicamente o ritual xamãnico propõe o alcance de um estado de consciência alterado e profundo. Para os xamãs, é nesse momento de transe, de viagem fora de si, de transcendência, que eles adquirem conhecimento e cura para as doenças. Tais conhecimentos são adquiridos através da comunicação com os seus ancestrais, que, dentro da tribo xamãnica são muito respeitados. Os xamãs são considerados profundos conhecedores do que eles chamam Medicina da Terra. Isso seria basicamente o uso de produtos puramente naturais no tratamento de doenças. Tal capacidade de dominar elementos da natureza na cura de doenças é transmitida de geração em geração via oral, ou durante os momentos de êxtase religioso onde o xamã entra em contato com seus antepassados. Uma das grandes diferenças da crença xamãnica em comparação com as demais religiões, principalmente com as mais recentes, é que no xamanismo não existe o culto a um Deus em especial. Tomando como exemplo o Cristianismo. Este tem sua crença voltada na figura de um único deus. No caso do xamanismo, não há a figura de um deus central e único, nem se quer existe santos. Numa tribo xamãnica prevalece simplesmente o culto aos antepassados, possuidores dos conhecimentos necessários para a vida do próprio xamã em particular e para toda a sua tribo. No mais, por se tratar de uma religião cosmológica, o xamanismo mantém uma dedicação religiosa com os elementos constituintes da natureza a sua volta. Portanto, para os xamãs a união com o natural faz com que a energia deste ultima seja absorvida pelo xamã, que junto com os conhecimentos dos ancestrais formam a base essencial para a vida da tribo.
Como inicialmente comentamos sobre o xamanismo, este foi graças às tribos indígenas preservado e transmitido de geração em geração. Isso permitiu que povos do mundo inteiro viessem a conhecer essa manifestação religiosa. Hoje o xamanismo possui praticantes em todo o planeta. Um fator que contribui para essa expansão do xamanismo é justamente por não existir nessa crença o foco em um único deus, como já mencionamos anteriormente. Com isso, o xamanismo pode adequar-se em qualquer região através de uma religião já existente. Esse adequar-se do xamanismo por vezes leva-o a perder sua essência primordial, em outros casos porem, ele consegue manter fidelidade aos seus preceitos básicos. Outro fator importante para difundir o xamanismo nos dias atuais consiste no seu cuidado especial com a natureza. Nos dias que vivemos, com toda a mídia alertando para os perigos conseqüentes do descaso com o meio ambiente, uma crença que se mostra naturalmente voltada para a proteção e preservação da natureza, e fazendo isso como uma devoção religiosa. É compreensível que tal crença seja vista muito amigavelmente pelos nossos contemporâneos.
Uma outra forma de manifestação religiosa que é bastante comum em tribos é o Totemismo. No inicio do século XX os sociólogos tiveram um grande interesse em estudar esse fenômeno de caráter religioso primitivo. De acordo com alguns dos vários estudiosos do totemismo, essa constitui-se como a forma básica de manifestação religiosa pela qual toda a humanidade já passou.
Como religião primitiva, o totemismo tem fundamentos animistas. No entanto podemos distingui-lo das demais manifestações via características específicas do totemismo. Para melhor compreensão das práticas totêmicas em si, faz-se necessário abordar um pouco sobre a origem da palavra Totem. Em sua essência o termo Totem significa, ou implica, uma relação entre parentes próximos que não podem casar entre si. É com base nesse preceito que se organizam os clãs totêmicos. Dentro do grupo há todo um procedimento para saber se duas pessoas podem ou não se casarem.
A prática religiosa totêmica tem como base a relação com o totem. Este geralmente é um animal. Para os totemistas, o totem é uma representação fiel do sagrado. Ele é responsável pela vida na tribo, interferindo diretamente na rotina do clã. O totem é assim o objeto de adoração do clã, portanto, tem para com a tribo suas restrições, suas regras, seus tabus. Sendo essa mais uma marca forte que distingue o totemismo de outras manifestações. Ou seja o totemismo é fortemente carregado de tabus que tem por objetivo principal separar o sagrado do profano. Outra característica marcante do totemismo diz respeito à organização dos clãs. Ou seja, cada clã tem o seu próprio totem, e a participação religiosa dos membros do clã variam de acordo com o sexo e a idade. Todos no clã respondem pelo nome do Totem, este é também uma espécie de identidade do clã. Por exemplo, se um clã tem como seu totem a águia, todos desse clã se consideram como uma águia, mesmo sabendo existencialmente que não são. Uma outra idéia que encontramos no totemismo é a de mana. Este está presente também do animismo. Conceitualmente, mana seria uma força divina superior, um deus impessoal, imaterial, cuja sua força material se revela no totem.
Os totemistas praticam a exogamia, que em outras palavras significa que, não pode haver casamento na tribo entre parentes de sangue. Essa atitude tem a ver com as questões morais das tribos totêmicas. Importante ressaltar o seguinte. A relação do animal, seja qual for o totem, não é para com um membro do clã de forma individual, e sim o totem é para o coletivo do clã. Muitos atribuem o termo totemista para quem, individualmente tem essa relação com algum animal ou planta, que acredita ser, ou ter poderes sobrenaturais. O que configura-se um equivoco.
Uma manifestação religiosa que pode ser atribuída individualmente, diferente do totemismo, é o Fetichismo. Além da definição religiosa ou antropológica do termo, Fetichismo é definido ainda em duas diferentes áreas, psicologia e sociologia.
Na antropologia, fetichismo é a crença no poder sobrenatural ou divino de algum objeto que essencialmente não tem nada daquilo que lhe atribuído. Religiosamente falando podemos comparar com as imagens dos “santos” cultuados pelo cristianismo católico. Os fiéis tem a convicção de que aquelas imagens tem poderes sobrenaturais que podem intervir curando e amenizando os problemas do cotidiano. Um outro exemplo de pratica fetichista é o Vudo. Nessa pratica, é atribuído a um boneco de pano o poder de manipular outras pessoas. Essa é a orientação religiosa do fetichismo.
Na psicologia, o fetichismo é relacionado com uma patologia. Refere-se principalmente a questão sexual. Ou seja, ao individuo que direcionam seu prazer a um objeto qualquer. Esse objeto acaba por substituir o sexo oposto na relação sexual, daí a atribuição de patologia a esse comportamento. Como no caso religioso, a característica marcante aqui é que esse objeto nada tem a ver com o significado dado a ele pelo fetichista.
Na sociologia Marx também usou o termo fetichismo. Referindo-se aqui a profunda alteração nos valores das “coisas”, seria o fetichismo da mercadoria. Este tipo consiste nos valores da sociedade para com os objetos por ela produzidos. Podemos exemplificar da seguinte forma. A razão de andarmos vestidos, de se usar roupas, é por que a moral da sociedade em que vivemos diz que andar sem roupa é errado. Portanto, a função da roupa é cobrir o corpo. Porém, no modelo econômico em que estamos a roupa parece ter outra função, pois não basta ser uma roupa, tem que ser da Diesel, não basta ser um tênis, precisa ser da Nike. As roupas caras, os tênis de marca, são símbolos de poder, representam status para o usuário, parecem inserir esse na sociedade. Ou seja, na realidade o objeto em si nada disso representa, torna-se assim um objeto de fetiche.
Basicamente o fetichismo consiste nessas representações. Podemos considerar que todas as áreas de conhecimento que empregaram o termo, o fizeram sem subtrair a sua essência.
No momento são necessárias algumas considerações sobre tudo que foi exposto. Totemismo, Xamanismo e Fetichismo são manifestações religiosas primitivas, como já colocamos. Elas atualmente existem ou em sua forma pura, ou mesclada em grandes religiões espalhadas por todo o mundo, e que na maioria das vezes os fiéis não se dão conta das origens dos detalhes dessas grandes religiões. Esses três tipos são essencialmente de base animista. Ou seja, o Animismo é a forma de manifestação das religiões primitivas. Como o Cristianismo que tem vários subgêneros como por exemplo, o Protestantismo, Igreja Apostólica Romana, Catolicismo Ortodoxo entre outros. Portanto, Xamanismo, Totemismo e Fetichismo, são domínios religiosos primitivos do Animismo.

O Hinduísmo

2.1 O Hinduísmo
O hinduísmo é a religião predominante na India atual, assim como a muito tempo atrás. No entanto o Hinduísmo é o que poderiamos chamar de um produto da evolução -através de um processo longo e na maioria das vezes, as três religiões confundiam-se por traços semelhantes-, de duas outras religiões que também já foram bastante populares na India, em tempos remotos. Então para uma melhor compreensão a respeito do hinduísmo, de como ele se dá atualmente na India, abordaremos primeiramente suas bases, suas origens, a começar pela religião Védica, que corresponde a primeira religião que serviu de base para o hinduísmo.
O vedismo tem sua origem bem antes da era cristã, de acordo com Félicien Challaye: “grupos que mais tarde seriam classificados como indu-europeus, vindos quer das proximidades do báltico, quer da Rússia meridional, ocuparam o Irã, a Pérsia moderna” (1998 pág. 60). Esses mesmos povos, tempos depois, por volta do séc XVI a.c., teriam invadido o norte da India e dominado os nativos daquele local que eram conhecidos como os dravidianos. De acordo com estudiosos da cultura indiana, esses povos invasores eram loiros de olhos claros, fisicamente bem formados, por essas caracteristicas chamavam-se árias, ou arianos.
Outros estudos porém, vieram a público opondo-se a idéia até então difundida de que antes dos arianos chegarem a India, ou quandos eles lá chegaram, os dravidianos que eram os habitantes da região não passavam de bábaros sem nenhuma cultura. Tais estudos mostraram que evidencias de uma civilização muito anterior aos invasores. Provavelmente povos sumerianos. Esses povos já existentes na India tinham uma crença basicamente animista e totêmica. Tal cultura, diferente do que se pensou por muito tempo, influenciou bastante na futura religião dos arianos que ali chegaram. Antes do Vedismo propriamente dito, entre os povos próximos da India e aqueles que haviam chegado ali, os arianos. Haviam traços claros do totemismo e do animismo. Mas acima da diversidade de objetos de crença natural dessas formas religiosas primitivas, já se consideravam três divindades principais, Indra, Mitra e Varuna. Esses serão as três principais divindades do Vedismo.
O vedismo é definido pelo Livros dos Vedas. Estes contem mais de mil hinos, eles abordam sobre magia, exorcismo, poesias profundas filosoficamente e outras de carater mais mundano. Ou seja, o Livro dos Vedas contém toda a orientação da religião Védica, é sua bíblia, e a mais antiga de todas, pois data de aproximadamente 1500 antes da era cristã.
O elemento essencial do culto védico é o sacrificio. Por meio deste, unicamente, os homens podem agradar os deuses, e reciprocamente, os deuses retribuiriam os homens com boas dádivas. O sacrificio é então o ato criador de tudo. As práticas rituais sacrificias são especialmente realizadas pos homens chamados bramanes. Um tipo de sacerdote. Apenas o bramane pode realizar o ritual, pois só ele conhece os segredos mágicos do sacrificio. O ritual pode ser realizado por conta própria do bramane ou de forma particular, sob encomenda. Neste caso, o bramane exige algo em troca do ritual, geralmente eram feitos em troca de vacas, pois este animal, assim como na India atual, era sagrado para aquele povo. No vedismo o bramane é a figura mais importante. A sociedade é dividida em castas. Temos então no topo das castas os bramanes, logo abaixo os Kshatrias que compreende os principes e os arianos, em seguida os vaicias, na sequencia os cudras e por ultimo excluido de todas as castas e considerados inferiores a todas elas estão os párias. O culto religioso no vedismo ainda é muito restrito as castas mais altas.
Como acabamos de expor, o ritual do vedismo passa obrigatoriamente pelo bramane, ele tem o monopolio da religião védica. Julga-se que apenas ele conheça as regras e entenda as formulas mágicas do Livro dos Vedas. Certamente todos os bramanes eram figuras criativas, com um bom raciocínio e um exelente poder de oratória para persuadir os povos, sem contar o estados em que eles estavam naquela sociedade, que provalvelmente já decorria de um lado, por seu poder de persuação e conhecimento do Livro dos Vedas, por outro, pelas suas posses materiais.
Diante de tal situação, os bramanes eram realmente muito importantes para aquele povo. No entanto, havia um certo descontentamento por conta da restrição dos rituais que impedia com que todos tivessem direito de prestar seus sacrificios aos deuses. Os bramanes, buscando solucionar o problema, tendo eles profunda interpretação sobre o Livro dos Vedas, iniciaram uma especie de reforma do vedismo, tal processo culminaria em uma nova religião. Como descreve Félicien Challaye: “os bramanes extraíram do vedismo uma religião destinada a justificar o lugar ocupado por eles no primeiro plano da sociedade” (1998. pág. 65). Ou seja, por volta do século IX ou VIII antes da era cristã, os bramanes procuraram através do entendimento que tinham sobre seus escritos sagrados, buscar justificativas para sua posição relevante na sociedade. Mostraram que eles e apenas eles podiam realizar o ritual, pois este exigia habilidades mágicas que não eram comum a todas as pessoas. Argumentaram também que há todo um processo minucioso no que diz respeito aos rituais, algo muito complicado, detalhes que não podem ser conhecidos instataneamente e que fazem toda a diferença no momento do ritual.Uma verdadeira ideologia dizia que era impossivél as pessoas comuns realizarem os rituais. O fruto dessa situação foi novos textos produzidos pelos bramanes, os Bramanas compostos por volta de 300 a 200 a.c., e os Upanichades, compostos aproximadamente entre 600 e 800 antes da nossa era. Textos esses, que apartir de então serviriam como fundamento da religião junto com o Livro dos Vedas. Com esses eventos deu-se o Bramanismo propriamente dito. Essas mudanças constituem-se como as bases para outra religião. O hinduísmo.
O hinduísmo tal como se apresenta hoje, configura-se portanto, como uma sintese dessas duas religiões anteriores. O hinduísmo conservou muitas características tanto do Vedismo como do Bramanismo, enquanto outras foram alterados radicalmente e remodelados. A concepção de salvação mudou assim como a forma do culto. No vedismo e no bramanismo existiam apenas uma via para se alcançar a salvação, que era através do sacrificio. No hinduísmo moderno existem tres maneiras de se alcançar a salvação, quais sejam: o sacrificio, entendimento e devoção. Estas novas maneiras de alcançar a salvação, abriu maiores possibilidades das castas inferiores obterem a salvação. Novos deuses tiveram destaque enquanto antigos apenas ganharam um nome diferente. Os livros sagrados do hinduísmo são os Vedas, Bramanas, Upanichades, os Puaras, e o Mahãbarata. Este ultimo tem sua composição provavélmente entre os séculos III e II antes da nossa era. A sua principal e tida como mais bela parte é de certa forma popular. É o chamado Bhagavat Gîta, este celebra particularmente o deus Krishna. Além desses há um outro chamado Ramaina, quase tão antigo quanto o Mahãbarata.
O hinduísmo mantem uma caracteristica das religiões panteístas. Nestas não existe um deus pessoal. O grande Brahman é o deus impessoal presente em toda parte do universo, de acordo com as tradições do hinduísmo, todos nascem no brahmam, vivem no brahmam e quando morrem retornam ao brahmam. Além dessa essencia divina e impessoal, o hinduísmo presta culto principalmente a Shiva, Vishnu e Krishna. No geral essas três divindades são tidas como manifestações mais pessoais do grande brahmam. Na vida religiosa do hinduísmo, o grande objetivo é romper com o eterno ciclo das reincarnações. Esse sempre renascer já foi visto como algo positivo para os hinduístas, mas com as mudanças que ocorreram na religião ao longo de sua evolução, como por exemplo a noção de brahmam, como a essencia divina de tudo que existe no universo, e atmam como a essencia individual, pessoal, como uma parte do brahmam e devendo a ele novamente unir-se. Assim, a reincarnação passou a ter uma conotaçaõ negativa. Devendo o hinduísta assim, livrar-se das dores do mundo e juntar-se ao brahma. O que rege esses ciclos são os próprios atos de cada individuo, que na tradição hinduísta chama-se karma.
Atualmente a India tem como centro religioso do hinduísmo a cidade de Benarés, onde se localiza milhares de templos religiosos. Importante destacar também o papel da mulher no hinduísmo. Na vida religiosa a mulher deve estar sempre no lugar de aprendiz, de servidora aos sacerdotes. Ou seja, apesar do hinduísmo ter várias deusas, a mulher no hinduísmo ainda é vista como submissa ao homem, e quase sempre não tem tanto acesso as menifestações religiosas como os homens.

AS CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE RELIGIÃO PARA A FORMAÇÃO DA “CONDUTA” DO HOMEM INTEIRO

Governo do Estado do Ceará
Secretaria da Ciência Tecnologia e Educação Superior
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – FECLESC
Curso de Pedagogia


Antonio Nascimento da Silva



AS CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE RELIGIÃO PARA A FORMAÇÃO DA “CONDUTA” DO HOMEM INTEIRO


Quixadá/CE 2010
INTRODUÇÃO
Crescer numa estrutura familiar de caráter religioso pode levar um individuo a ter uma visão restrita, particular e destorcida de mundo. No entanto, sempre procurei ver a questão religiosa com olhos não de um crente fiel, mas sim procurando compreender uma lógica em toda aquela estrutura, buscando seus fundamentos racionais, já que observava que a religião estava em todos os momentos influenciando como fator determinante as ações da minha família. Tornou-se para mim, extremamente importante, ao ingressar na universidade e ter acesso a outros conceitos, analisar em que se funda, a quem beneficia e se realmente traz benefícios como, por exemplo, ser humanamente mais solidário e agente de paz. Com as ferramentas científicas, resolvi então, voltar à atenção a um dos meios que a religião usa para se propagar, a educação escolar, pois através da disciplina de ensino religioso as escolas apresentam aos seus estudantes a doutrina religiosa.
Ao ingressar na Universidade, no meu caso o curso de pedagogia, dá-se início a várias leituras sobre problemas relacionados à educação de forma mais geral, e especialmente questões relacionadas ao ensino no Brasil. Estudam-se diversos teóricos com variado posicionamento sobre o que seria a educação de qualidade, entre essas várias concepções, depara-se freqüentemente com a questão do ensino laico.
Paralelo às leituras acadêmicas, observei algumas aulas de religião na Escola de Ensino Fundamental e Médio Nossa Senhora de Lourdes, no distrito de Serra do Vicente, localizado no município de Capistrano . Esse momento de observação realizou-se em sala de aula de forma passiva com o único intento de perceber quais valores são trabalhados com os alunos pelo educador na aula de religião. A partir dessas observações passei a refletir sobre a necessidade e a importância do ensino de religião dentro da escola. É dessa reflexão que surge a idéia da presente pesquisa.
Diante das circunstâncias em que se vive, onde inúmeros fatores interferem na qualidade da educação recebida, uma sociedade que, apesar de admiráveis avanços científicos culturais e de produção material, sofre fortes influências de dogmas religiosos em diversos setores como, por exemplo, política e educação. No que se refere a educação, precisa-se de uma atenção especial, pois ela corrobora decisivamente a formação da conduta de vida dos indivíduos.
De tal maneira, o presente trabalho torna-se importante, pois se propõe a aclarar a influência religiosa, destacadamente, a do cristianismo, sobre a educação escolar através da disciplina de ensino religioso.
Para atender essa empreitada é preciso compreender bem a doutrina cristã, saber como ela está contida dentro do conteúdo do ensino religioso e como os profissionais de educação estão trabalhando tal aspecto na escola. A didática, forma e conteúdo de como se transmite esses saberes também influencia muito o resultado do processo final da educação escolar. Pode-se até questionar se o ensino de religião pode se desvincular dos princípios básicos do cristianismo. Para tal questão, a pesquisa buscará resultados, os mais claros possíveis, pois precisa-se elucidar, embora de forma sintética, questões cruciais sobre como a educação pretende orientar a vida dos “homens inteiros” segundo uma doutrina baseada em religião.
Farei a opção de entender a relação religião educação a partir do entendimento que tem Lukács sobre o “homem inteiro”, ou seja: da pessoa que vive na cotidianidade, a qual, dito graficamente, está orientado, a realidade com toda a superfície de sua existência (1982, p. 79). Em relação a este, o autor desenvolve o conceito de “homem inteiramente”, que seria a titulo de exemplo, o cientista, o artista ou o desportista por conseqüência de suas objetivações superarem em grau de complexidade as vividas no cotidiano pelos homens inteiros. Todavia, apesar da aparente distância entre as duas categorias, deve-se entender que a “cotidianidade” é em última instância, o princípio do qual deriva dialeticamente todas as outras estruturas da sociedade. Entendendo sempre o trabalho como o ato fundante do ser social. Para começar a entender melhor essa questão, o próprio Lukács (1982, p. 11), esclarece:
[...] Se nós representarmos a cotidianidade como um grande rio, pode ser dito que nele se desprendem em formas superiores de recepção e reprodução da realidade, a ciência e a arte, e essas se diferenciam e se constituem na dependência de suas finalidades específicas, e alcançam forma pura nessa especificidade – que nasce das necessidades da vida social – para daí então, em consequência de seus efeitos, de sua influência na vida dos homens, desembocar novamente na correnteza da vida cotidiana. Essa, por sua vez, se enriquece constantemente com os resultados superiores do espírito humano, os assimila a suas necessidades cotidianas práticas, dando assim lugar a questões e a exigências que originam ramificações de formas superiores de objetivação .
Considerarei a religião e a educação dentro desse movimento. Sendo que a primeira destaca-se da “vida comum”, entre outras coisas, por vincular elementos transcendentes gerais à realidade, modificando-a de certa forma. No caso da segunda, na sua forma institucionalizada, ter-se-á como um espaço de contradição, onde, em decorrência de seu lugar na hierarquia, privilegia uma ideologia de reprodução do estado. Sendo assim, enquanto instituição escolar constitui-se como espaço dialético que pode vir a conferir ao homem comum, o caráter elevado de homem inteiramente. Muito embora, considero o que argumenta Lukács, (1982, p. 80).
[...] A grande escala de matizes de transição não produz a superação da contradição. Acreditamos inclusive que com ela não somente clareia a necessidade da intricação pela qual o comportamento do homem inteiro passa ao do “homem inteiramente”, mas que, ademais, precisa-se da fundamentação deste naquele, sua recíproca fecundação e elevação evolutiva.
Nesses termos, e de modo geral, a escola será vista como fruto da cotidianidade, que por sua vez a enriquece, como um momento de superação da distância entre o homem inteiro e o homem inteiramente, através desse fluxo contínuo impelido por necessidades sociais. Em partes, o mesmo se da com a religião, trazendo segundo seu ponto de vista novos elementos que reorientam a cotidianidade de determinados grupos sociais.
Considerando que a pretensão do ensino religioso, é ensinar seus preceitos morais aos educandos, julgando-se ser esses preceitos os corretos e que estão de acordo com a vontade divina, é proveitoso a reflexão sobre em que realmente consiste a doutrina cristã. A partir de tal reflexão, mostrar em que realmente esses ensinamentos vão contribuir na vida das pessoas, em seus futuros relacionamentos pessoais e com a sociedade de modo geral. Sabe-se que a religião é um fenômeno cultural que influencia decisivamente o cotidiano das pessoas. Portanto, é preciso avaliar as conseqüências desse fenômeno no âmbito da escola, a partir de uma análise da real função da escola, para partindo daí, construir uma avaliação real sobre a necessidade ou não do ensino religioso escolar. Destarte, o presente trabalho se mostra importante, pois buscará explicações sobre questões de grande relevância na vida dos indivíduos, esclarecendo e desmistificando o que até então é tido como essencial para a vida do “homem inteiro”.
Um dos fenômenos culturais mais antigos que se conhece são as manifestações religiosas. Desde suas formas mais primitivas quando estas ainda fundiam-se com a magia e tinham um caráter essencialmente evocativo, onde o homem acreditava que tudo na natureza era dotado de um espírito, estes seriam responsáveis por todo o movimento da natureza circundante. Exemplificando, havia o espírito das águas, o das plantas, o das pedras, enfim tudo sobre a terra teria um espírito. Félicien Challaye (1981, p. 32), se referindo a tal tipo de crença, com base no Etnólogo inglês Tylor, diz ter sido este o criador, na segunda metade do Século XIX, da teoria do animismo. Embora mais tarde esse nome tenha caído em desuso por não representar em essência este fenômeno religioso tribal. Essas primeiras formas religiosas entendiam o homem dentro de uma lógica universal, como se deus estivesse presente em todos os atos humanos, o próprio homem tornava-se uma extensão do divino. É o que afirma Karen Armstrong, (1994, p. 21), “o primeiro homem fora criado da substância de um deus: portanto, partilhava da natureza divina, por mais limitada que fosse a forma. Não havia fosso entre os seres humanos e os deuses”. Por essa relação mágica e constante com deus ou os deuses, essas formas religiosas são tidas como cosmológicas.
Tão antigo quanto às manifestações religiosas é o fenômeno da educação, pois as práticas religiosas não eram transmitidas de geração em geração se não por meio da educação dada pelos mais velhos. Importante destacar que educação nesse contexto difere do sentido moderno, institucionalizado. Anibal Ponce ao tratar sobre a educação da criança nesse estágio primitivo da humanidade, diz que “a sua educação não estava confiada a ninguém em especial, e sim a vigilância difusa do ambiente. Mercê de uma insensível e espontânea assimilação do seu meio ambiente, a criança ia pouco a pouco se amoldando aos padrões referenciados pelo grupo” (1998, p. 18).
Da crença nos espíritos em tudo quanto existisse na natureza, o homem passou para a crença em um determinado número de deidades. Porém, esse período transitório não se deu de forma instantânea, processou-se em várias etapas, estando estas extremamente ligadas a maneira como o homem relacionava-se com o mundo concreto a sua volta, assim como todas as outras categorias além da religião. Possibilitando assim, diversas formas religiosas intermediárias em um longo período de tempo. Os egípcios antigos adoravam vários deuses como, por exemplo, Anúbis, Amon, Hórus, Ísis, Osíris, Rá entre vários outros. Cada um deles com suas atribuições particulares. A essa forma religiosa denominou-se politeísmo.
Outros povos na antiguidade tiveram destaques no aspecto religioso, no entanto, o motivo pelo qual me refiro aqui de modo especial ao Égito, é tão somente por este apresentar um panorama consistente da evolução da religião através de mais de quarenta séculos. Além desse aspecto, a religiosidade dos egípcios se mostrava mais intensa que as demais. Foi no Egito antigo que surgiu o tipo de religião predominante hoje, o monoteísmo. O faraó Akhenaton ou Amenófis IV da 18ª dinastia instituiu a primeira forma de monoteísmo que se conhece, ele decretou que seu povo deveria adorar apenas Aton, o deus solar. Após o reinado de Amenófis IV o Egito voltou a sua forma religiosa anterior, o politeísmo, mas a idéia do monoteísmo sobreviveu e reviveu tempos depois.
Pode-se ver o judaísmo como a segunda manifestação religiosa monoteísta, pois começa a se consolidar após a invasão do reino setentrional pelos Assírios em 722 a.C. (RUSSEL, 1969). Mesmo assim, antes de uma religião definitiva, os judeus ainda cultuavam outros deuses. É o que escreve Bertrand Russel, (1969, p. 7), “javé era, a princípio, um deus tribal que favorecia aos filhos de Israel, mas não se negava que havia outros deuses”. Hoje, o monoteísmo é a forma religiosa dominante, pois as três maiores religiões do planeta são monoteístas: cristianismo, islamismo e judaísmo. Porém, as religiões politeístas não se extinguiram, existem várias espalhadas por todo o mundo como exemplo, vale lembrar a Índia e o Japão. Às vezes duas ou mais dessas religiões cultuam as mesmas divindades variando apenas quanto à importância atribuída a alguns desses deuses.
A priori, todas essas manifestações religiosas parecem bem distintas, mas há algo de comum a todas elas, sejam as politeístas ou as monoteístas. Todas essas formas religiosas têm igualmente ou não um conjunto de regras, de normas, de princípios a serem adotados por seus seguidores. O não cumprimento de tais princípios é gravíssimo e, dependendo da religião, acarreta várias punições.
O conjunto de “normas” de uma religião constitui o seu corpo ético, esse corpo ético diz como seus seguidores devem viver. Sendo assim, seja qual for a religião, essa influenciará moralmente os indivíduos. Nas formas mais primitivas de religião – que aqui me referirei pelo termo animismo –, o homem preocupava-se em acalmar os espíritos das florestas, das águas, para que esses espíritos não os causassem mal algum, de forma evocativa, os primitivos buscavam a proteção dos espíritos e a imunidade frente às ásperas forças da natureza circundante. No Egito antigo, o deus responsável por levar a alma do morto até Anúbis era “agradado” por todos, pois ninguém queria que, por falta de respeito e de culto a esse deus, sua alma não fosse entregue a Anúbis que era o deus dos mortos e guardião da Necrópole. Como visto, a religião, através da formação da conduta do homem inteiro, interfere nas esferas da vida cotidiana?
Toda essa variação de deuses cultuados, por motivos “políticos” e outros que não podem ser postos aqui, aos poucos foram tomando formas mais reduzidas, isso seria o início do caminho para chegar ao momento onde não haveria mais que um deus a quem dedicar os templos e as orações. Embora, isso não implique na extinção por completo da forma religiosa anterior, e sim, apenas um enfraquecimento desta perante a sociedade.
O monoteísmo cristão, que será destaque no presente trabalho, ao que parece, em seus primórdios obteve seu estado de religião com um único deus partindo da arbitrariedade de homens. Pois de acordo com Bertrand Russel (1969, p. 10), “Déutero Isaías, é o mais notável dos profetas. É o primeiro que se refere ao Senhor como tendo dito: não há outro Deus se não eu”. Comparando essa manifestação religiosa com outras, encontrar-se-á tanto religiões politeístas como monoteístas muito mais antigas do que a professada pelo cristão. Eis um dos fatos que nos prende a atenção e torna importante uma melhor aproximação para fins de entendimento sobre esse tipo de culto.
A doutrina cristã propriamente dita fortaleceu-se com o nascimento de Jesus Cristo. Porém, a base que culminaria nessa forma religiosa já existia, ainda que de forma embrionária há muitos anos antes da vinda do “Menino Jesus” . A principal literatura dos cristãos, qual seja, a Bíblia Sagrada, traz de forma clara a divisão desses dois períodos. Este texto sagrado divide-se em Antigo e Novo Testamento. O primeiro tem ainda traços marcantes de uma visão cosmológica de deus, embora consista em um momento transitório e não se compare as formas primitivas como, por exemplo, o xamanismo, onde essa característica de um deus que é parte integrante de toda a natureza é única, portanto, dominante.
Uma característica marcante dessa fase de gênese do cristianismo é a relação dos homens para com deus, uma relação que se dava absolutamente por meio das revelações feitas aos profetas. Estes eram responsáveis por passar o conteúdo desses momentos iluminados ao “povo comum”. Outro ponto que merece destaque é a situação oposta, de deus para com os homens. Essa relação é muitas vezes alvo de crítica, já que consistia em um deus bastante severo com aqueles que ousassem contrariar o que este transmitia por mediação dos profetas. No segundo período, a relação deus-homem muda consideravelmente em comparação com o momento anterior, primeiro por que, os ensinamentos são proferidos principalmente pelo próprio filho de deus, em pessoa. A doutrina que este traz ao cenário religioso é a doutrina da salvação pelo perdão dos pecados. De acordo com a tradição cristã, ele veio para libertar, para semear paz. Não é um deus de vingança, de condenação como se percebe no Antigo Testamento. O próprio Jesus Cristo, como se registrou na história, era homem politizado, sábio e com forte poder de liderança.
Com esse evento, a religião começa a se cruzar definitivamente com a política. A capacidade de conseguir fazer seguidores é algo de enorme importância tanto no cenário político como no religioso. É desse ponto que emerge os grandes movimentos. O cristianismo conseguiu ao longo da história realizar grandes episódios. Posso destacar investidas como as cruzadas orquestradas pela igreja em parceria com alguns monarcas. Assim narra Henry Lincoln sobre a Cruzada Albiguense:
Em 1209 um exercito de cerca de trinta mil homens[...], descem do norte da Euroupa para o Languedoc, as montanhas a nordeste dos Pirineus, onde fica hoje o sul da França. Na guerra que se seguiu, todo o território foi pilhado, as colheitas destruídas, as cidades e vilarejos arrasados[...]. este extermínio ocorreu numa extensão vasta que pode bem ter constituído o primeiro genocídio na história da Europa moderna. Só na cidade de Beziers, por exemplo, pelo menos quinze mil homens, mulheres e crianças foram mortos [...]. quando um oficial perguntou ao representante do papa como ele conseguiria distinguir hereges de crentes verdadeiros, a resposta foi: mate-os todos, deus reconhecerá os seus (1982, p. 22).
Este se configura como o auge do monopólio do divino pela igreja cristã, onde os interesses iam muito além de levar a boa nova aos homens, antes de tudo, consistia em uma luta por poder político entre elites da Santa Igreja Romana e alguns reis espalhados por todo o velho mundo.
O cristianismo, ao longo de sua história, também manteve relações estreitas com a produção econômica vigente, fato curioso se levar em consideração o apelo ao abandono dos bens materiais pregados pelos propulsores da doutrina. Oposto a isso, vejo uma instituição cristã que quando começou a deter o monopólio do divino nos idos do século V, passou a atuar efetivamente no manuseio de somas substanciais de valores. O próprio surgimento do conhecido sistema bancário, símbolo fiel do capitalismo, deve seu início aos Templários, ordem monástica conhecida como “a Milícia de cristo”, sancionada pela Igreja Católica no final do século XII (LINCOLN, 1982).
Essa relação da Igreja com a ordem econômica é então clara nos períodos medievais onde a mesma era detentora de poderes políticos e divinos. Esse vínculo religião-economia, no entanto, veio a se consolidar com o fortalecimento da economia e o Estado declarado de sociedade do capital, nesta, o homem ou instituição tem que ser funcional, ou seja, precisa produzir ou consumir. Dentro dessas diretrizes básicas do atual sistema de produção, o cristianismo se engendrou, pois é notável a disputa por fiéis entre as inúmeras organizações religiosas surgidas após a reforma luterana , e nestas circunstâncias, cada célula religiosa precisa da sua renda para se manter. A própria ética protestante, como reconhece Max Weber (2007), favorece a proximidade entre o cristianismo reformado e o capitalismo . Embora exista uma contradição enorme entre os princípios básicos expressos na bíblia e os do capitalismo, já que a primeira diz que é aos pobres que pertence o reino dos céus (Storniolo, 1990). Além disso, esse vínculo contradiz a pretensão humanística do cristianismo, pois como afirma Karl Marx (2006, p. 47, 48), ao argumentar sobre as alterações impressas na sociedade pela ascensão da classe burguesa detentora do capital:
Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu todas as relações [...], não deixou subsistir de homem para homem outro vínculo que não o interesse nu e cru, o insensível pagamento em dinheiro [...]. A burguesia rasgou o véu de comovente sentimentalismo que envolvia as relações familiares e as reduziu a meras relações monetárias.
Mesmo assim, tais igrejas conseguem convencer as massas de que a obra divina necessita de recursos financeiros. Como se verifica com facilidade, as instituições cristãs hoje são antes de tudo, centros de arrecadação e administração dos recursos mundanos, essenciais para a obra de deus dentro de uma sociedade baseada na compra e venda. Diante disto, tem-se hoje uma igreja envolvida em todas as esferas da sociedade, procurando um meio de manter-se funcional, política e economicamente viável.
Atualmente, é comum ver líderes religiosos ocupando cargos eletivos sejam eles na esfera municipal, estadual ou federal, enfim, vários postos políticos sendo administrados por pessoas da igreja. No setor educacional observa-se várias instituições de ensino subsidiadas por igrejas, umas mais abertas, no sentido de que permitem o aprofundamento em temas não–cristãos . Outras são exclusivamente religiosas. É importante estar ciente que cada religião tem por bem transmitir seus pensamentos, sua forma de vida, sua conduta e isto não deve ser diferente quando uma igreja mantém uma instituição de ensino.
No Brasil, o ensino religioso é obrigatório quanto à oferta, mas não é obrigatória a matrícula por parte do aluno, esse pode optar por qualquer outra disciplina de seu gosto ao invés da religião. Aparentemente não há problema algum na oferta do ensino religioso por parte da escola, haja vista que a maioria das pessoas que olham apenas a aparência desse problema vêem nesse ato apenas vantagens para a formação do indivíduo. Alguns, principalmente os lideres religiosos, defendem a manutenção desse ensino alegando ser ele de imensa importância para a formação humana. Porém, ao proceder uma análise sistemática e com o necessário rigor, será que se encontrará equívoco nessa propositura?
Em nosso país a forma religiosa dominante é o catolicismo, religião de base cristã. O cristianismo tem como as outras bases religiosas, o seu conjunto ético, que vai orientar a conduta, a ação de seus fiéis em todos os momentos de sua vida cotidiana. Estes que na terminologia de Lukács (1982) são homens inteiros, pois apesar da religião ser carregada de elementos metafísicos que parecem transcender o concreto, este tipo de manifestação não é reflexo que surge no imediatamente caótico cotidiano da realidade. Assim, na particularidade do ser não há outra fonte motora se não o real; e nos momentos individuais, da vida concreta, o ser social vive o que lhe é aparente. Por exemplo, os cristãos aprendem desde cedo a ver a sexualidade como algo vergonhoso, nojento, sendo apenas permitida após o contrato monogâmico do casamento. Constituindo o pecado original, pelo qual o filho terá que submeter-se a determinado ritual para purificar a si mesmo e aos seus pais (Storniolo, 1990).
Analisando então a religião dentro da escola, questiono sobre as influências que ela causará na relação docente-discente. Faz parte da ética normativa do cristianismo, que o homem deve ser submisso, deve ser o último, deve aceitar aquilo que tem porque foi deus que providenciou. O cristianismo apropriou-se do princípio da reciprocidade da ética humanista que diz que deve-se tratar os outros de acordo com a maneira que você gostaria de ser tratado, orientando o dever de amar o próximo como a si mesmo, ainda que este seja inimigo (Bíblia Sagrada, Mateus 5, 44)
Posto isso, questiona-se até que ponto, essa formação de conduta contribui para uma boa convivência social? A doutrina cristã, dessa forma, não tende a produzir apenas conformistas? Que tipo de conduta social pretende formar o ensino que diz que o homem deve ser como um servo obediente? Que pessoa humana poderá vir a ser futuramente um ser social que aprendeu na escola que deve ser sempre o último? Não estaria apenas contribuindo o ensino religioso para a manutenção de uma ordem preestabelecida e alheia a vontade do homem? Claro que a educação escolar não se constitui apenas de ensino de religião, mas este a influencia decisivamente.
Refletindo um pouco sobre tais questionamentos chega-se a considerar as seguintes hipóteses: o ensino religioso contribui para a formação de indivíduos não-críticos; faz com que o ser mantenha uma forma de vida submissa a tudo o que lhe é imposto; produz nos educandos uma visão fetichista do mundo, típica da religião; leva os indivíduos a se envergonharem e se privarem de vontades básicas a nós humanos; prega que tudo de ruim que aconteça é culpa do homem, ao passo que tudo de bom é obra divina; é tortura para a mente do educando assimilar a doutrina do pecado; pretende que os jovens necessitados de ciência tomem por base para a vida a fé. Esta que, por sua própria natureza nega ao homem um caminhar na sabedoria enquanto aproximação do real. Por outro lado, a fé leva o ser a aceitação de verdades dogmáticas, imergindo o individuo num cotidiano baseado em mitos que o toma por inteiro e o afasta do concreto. É o que afirma Lukács:
[...] não é em seu caso uma opinião, um estágio prévio ao saber, um saber imperfeito, ainda não verificado, mas, pelo contrário, um comportamento que abre – o solo – o acesso aos fatos e as verdades da religião, e que, ao mesmo tempo contém a disposição de tê-lo conseguido desse modo o critério da vida, da prática imediata, que abarca o homem inteiro e o consome de um modo universal (1982, p. 132)

Ou seja, tal base só o direciona para o senso comum? É preciso então ter bastante cuidado quanto a atribuir ao ensino religioso uma grande importância para a formação do indivíduo. Argumentam os religiosos que o ensino de religião contribui com a formação de uma cidadania, segundo sua concepção de homem. Certo é que não se quer uma escola que ensine o senso comum, pleiteia-se uma formação de seres críticos capazes de refletir sobre os problemas sociais, capazes de tomar decisões, de se afirmar como sujeitos históricos e assumir o protagosnismo de uma mudança radical da sociedade cindida entre exploradores e trabalhadores.
Esse é o contexto em que esta pesquisa pretende como objetivo geral, Analisar o papel do ensino religioso na formação da conduta dos homens inteiros, averiguando se, e em que medida essa educação corrobora com a reprodução do capital. De modo especifico, os objetivos são: 1) examinar a legislação educacional brasileira, 2) historiar contextualizadamente a relação trabalho e educação, observando como essa relação é permeada pela religião. 3) Analisar a partir do contexto anterior a revolução burguesa as contribuições da reforma protestante para o desenvolvimento do capitalismo. 4) Compreender em quais bases se fundamentam as relações entre educação e religião no cenário político atual. 5) Entender como a escola enquanto espaço de contradição, contribui para a reprodução do capital através do ensino de religião.
Esse é o contexto em que esta pesquisa pretende como objetivo geral, analisar o papel da religião na educação dos homens inteiros nos momentos de crise (dúvida da orientação). De modo especifico, os objetivos são: 1) mostrar o desligamento da religião com relação à magia; 2) analisar o debate Tomista e Agostiniano versos a desantropomorfização da ciência; 3) compreender o período da reforma, contra-reforma até Rousseau e a relação da religião com o capitalismo; e, 4) conhecer no contexto da crise estrutural do capitalismo, qual a relação da religião com a educação, 5) analisar as atuais políticas públicas para a educação no Brasil em relação as propostas da CNBB.
Pelo caráter de uma investigação como esta, de características prioritariamente teórico bibliográfica, procederei metodologicamente com diversas análises de literatura relacionada ao assunto, incluindo documentos de escolas de ensino fundamental e leis como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Constituição Federal de 1988. Conseqüentemente, nossa fonte se constituirá de livros, documentos e leis que tratem do ensino religioso.
Em decorrência do objetivo maior da pesquisa, que exigirá uma compreensão ampla do homem em seu cotidiano, nos servirá de base para tal, os conceitos de Lukács (1982), que mostra de forma desmistificada toda a complexidade das relações do homem com a natureza a sua volta; e Karl Marx (1980) por sua imensa colaboração no entendimento das relações sociais segundo o trabalho e a produção de mercadorias. Não menos importante é o trabalho de Engels, que traz uma visão geral da evolução do homem em quanto ser social. Nos aspectos relativos a educação, será fundamento principal a elaboração de Ponce (1998), sobre a evolução da educação ao longo da história, em relação aos diversos modelos produtivos surgidos ao longo dos tempos. Sobre a religião, usarei como base, por sua rica e detalhada análise no tocante ao desenvolvimento das principais religiões, Bertrand Russel (1969) e Karen Armstrong (1999).
Minha opção teórica será baseada nos pressupostos marxianos de entendimento da realidade. Adotarei como sendo determinante para a criação abstrata das categorias de exame o que o próprio objeto sugerir, ou seja, como especificado por Marx, partirei da dialética que se processa entre o concreto real e o concreto pensado. Com efeito, esse método de análise propõe uma dinâmica que sai do geral para o específico e deste para aquele, procurando sempre entender um dado obtido dentro de uma totalidade o quanto maior. Portanto, a iluminação onto teórica desta investigação será o materialismo histórico dialético.
Será exposto sistematicamente o presente trabalho em quatro capítulos. No primeiro será abordado o aspecto da gênese da religião, no segundo capítulo tratarei do debate entre ciência e religião no período medieval, o terceiro constituirá em uma análise da religião em relação ao capitalismo com foco nos períodos de reforma e contra-reforma o quarto capitulo mostrará a relação da religião com a educação no memento de crise estrutural do capitalismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LUKÁCS, Georg. Estetica I: La peculiaridad de lo estetico. Bracelona: Crijalbo, 1982.

STORNIOLO, Ivo (Coord). Bíblia Sagrada. Edição pastoral. São Paulo: Paulus, 1990.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 1ª edição. São Paulo: Martin Claret, 2007. 127 p.

LINCOLN, Henry (Coord). O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. 18ª impressão. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1993. 22 p.

ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da propriedade e do estado. 3ª edição. São Paulo: Editora Presença, 1976.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. 1ª edição. São Paulo: Martin Claret, 2006. 47 p e 48 p.

ARMSTRONG, Karen. Uma história de Deus. 3ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 21 p.

PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. 16ª edição. São Paulo: Cortez, 1998. 18 p.

CHALLAYE, Félicien. As Grandes Religiões. 6ª edição. São Paulo: IBRASA, 1981. 32 p.

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. 3ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. 10 p.