sábado, 12 de março de 2011

REFLEXÕES SOBRE A PRIMEIRA AULA DA DISCIPLINA ONTOLOGIA DE LUKÁCS, DO MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO–UFC/UECE

 

Em muitos aspectos eu invejo o meu pai, um deles, é a incrível capacidade de fazer cálculo mental e conseguir pensar rápido sobre determinado problema. Talvez pareça uma habilidade boba, mas é exatamente por eu não dispor dela, que somente agora, passado vários dias, posso tecer minhas considerações (bastante simples, por sinal) sobre a primeira aula da disciplina de Ontologia de Lukács, ofertada pelo mestrado acadêmico em educação da UFC, que terá como ministrantes os professores Deribaldo e Frederico.

Como esta comunicação é informal, vou me dar o luxo de não usar as exigências da ABNT, que por sinal, são enfadonhas e chatas mesmo. o pessoal que as faz, parecem nunca satisfeitos, estão sempre acrescentado, tirando… é incrível. Até Marx teria dificuldade para compreender a dialética da ABNT. Assim, estarei ao menos por alguns minutos livre dela, dessa forma, quem tiver alguma leitura de Lukács, Marx, Hegel, etc. saberá com maior precisão a quem pertence tal argumento ou categoria. Quem não tiver tal leitura, procure conhecer, pois apesar de parecer apenas um punhado de palavras abstratas, podem ser úteis, bastante úteis para se compreender a realidade.

Pois bem, na verdade (realidade), meus comentários dizem respeito especificamente sobre dois pontos (apesar de a aula ter sido riquíssima), o primeiro deles, consiste na fala do professor Deribaldo, quando este afirmou que a ciência é desantropomorfizada, querendo com isso, como foi entendido, expressar que ela (a ciência) estar fora do sujeito (homem). Como exemplo, na ocasião, o professor disse que a água é H2O, é ciência e esta posta na natureza independente da nossa vontade, querendo ou não ela é H2O.

No momento, houve protestos de alguns dos participantes. Mas vejamos com um pouco mais de calma a questão. Bem, para ser rigoroso, H2O não é ciência. Todavia, sem a ciência, sem o método científico, estes átomos, em si, elementos da natureza “bruta”, não teriam para o homem o significado que tem. Mas estes não deixam de estarem concretamente na natureza se não forem conhecidos pelo homem através de determinado método. Contudo, a ciência enquanto busca para apreender a realidade, não existe sem o homem. Assim, esse processo é humano, do homem, mas só é como tal porque existe a natureza geral exterior a ele, ao mesmo tempo em que ele é parte dessa natureza, bem como H2O, água, líquido da vida, enfim, como queiram.

Assim, a ciência não é desantropomorfizada, ou, rigorosamente, ela não é apenas imediatamente desantropomorfizada. Pois, a ciência pressupõe um nível, mínimo que seja, de desenvolvimento das sociedades, e pressupõe a natureza de modo geral. Ninguém procurará desenvolver a vacina contra a AIDS se não existir alguém que tenha contraído a doença, bem como, se não existir o vírus causador dessa doença. O que dirá então, se nesse contexto inserirmos as ciências sociais? Nesse caso, teremos outra confirmação de que não existe uma ciência exterior ao homem. Assim, é coerente afirmar que, a ciência (como busca pela apreensão da realidade) deve sempre procurar isentar-se das paixões humanas (principalmente nas ciências da ‘natureza’). Dessa forma, e só assim, ela pode ser desantropomórfica, no sentido de ser sempre uma tentativa de livrar-se de preconceitos sobre o objeto.

Bem, existe uma série de problemas a esclarecer sobre isso, mas, por enquanto, se quiser entender bem tal questão precisa-se considerar o princípio básico da dialética. Ou seja, considerar todas essas categorias em intercâmbio, em uma interdependência, preponderando sempre sobre os demais, a natureza material, concreta. Dessa maneira, a ciência não é estritamente antropomórfica, porque apesar de ser um processo humano, ela (ciência) depende dos elementos da natureza exterior ao homem (e do próprio cotidiano deste). Todavia, na era glacial, existia H2O, mas não havia ciência. Bom, sinteticamente é isto, claro que ainda bastante incompleto, pois, para ser mais claro teríamos aqui que analisar o problema de forma histórica considerando todas as mediações.

Em segundo lugar, eu mesmo, na ocasião da aula fiz a observação (partindo de comentários relacionando arte e educação) de que, não é função da arte fazer alguém se sentir bem espiritualmente ou materialmente, bem como não é seu papel educar. Sobre esse argumento, se contrapôs a fala de uma estimada professora de minha graduação, onde esta, pelo que ficou entendido, defendeu que a educação tem si, um papel educativo.

Pois bem, não sou crítico de arte, e muito menos artista. Por isso invocarei (adoro essa palavra, me lembra o Elogio da loucura – Erasmo de Roterdã) Lukács. Em sua Introdução a uma estética marxista, Lukács deixa claro que a arte, ou, para usar seu termo, o reflexo estético não tem compromisso em esclarecer a realidade. Este é justamente o principal ponto que diferencia arte de ciência. Segundo o esteta, no movimento particular-universal-particular, que é característico da arte autentica, é mediado pelo singular. Contudo, essa mediação não é fixa, o que de certo modo, constitui a peculiaridade da arte. Na ciência, a intenção é justamente aproximar-se das determinações concretas para daí ter-se a universalidade do conceito. Na arte não há nenhuma necessidade imediata de especificar o real, as particularidades, nem tão pouco os universais. Na religião, busca-se o universal, deus.

A educação institucional tem por sua vez, o dever de trabalhar com base na ciência, ou seja, ele deve buscar uma aproximação do real, o que se diferencia como visto, da pretensão da arte. Contudo, o próprio Lukács explica que toda arte, quando autêntica, trabalha elementos importantes de seu contexto histórico e social.

Assim, a arte não tem pretensão de educar. O cientista, apesar de toda intencionalidade, dos cálculos prévios, não consegue ter o absoluto domínio do fim, que dirá o artista. O engenheiro sabe que ao final de seu trabalho existirá uma determinada casa, e todos que ao final observarem o produto de sua ação saberá que é uma casa e que serve exatamente para abrigar. A obra de “arte” necessita, ainda muito, do campo homogêneo do observador para ser compreendida como arte. Depende da educação dos sentidos. Todavia, a arte tem seu conteúdo próprio, principalmente quando autêntica, partindo, como disse Lukács, de elementos importantes do cotidiano. Dessa forma, não-institucionalmente, somos educados no contado com ela, assim como somos no convívio com toda a sociedade e seus elementos constituintes, no sentido de apreender algo novo pela experiência do contato. Contudo, é incoerente afirma que a arte tem a função de educar.

Por enquanto (questão de método), quero afirmar que, o que está posto acima, são apenas comentários, não tem nenhuma pretensão de verdade. Na realidade, são apenas inquietações que, como tais, podem despertar outras.

 

Antonio Nascimento da Silva

gpem2@yahoo.com.br

Um comentário:

Unknown disse...

Acho que o professor Deribaldo terá que usar outro exemplo além da água. rsrsrsrs!