segunda-feira, 14 de março de 2011

FICHAMENTO

INTRODUÇÃO À CONTRIBUIÇÃO PARA A CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARX (1859)

Produção, Consumo, Distribuição, Troca (Circulação)

1. Produção

a) O objeto a considerar em primeiro lugar é a produção material

· O ponto de partida deve ser a produção de indivíduos socialmente determinada.

· Os profetas do século XVIII sob os quais se apóiam Smith e Ricardo tomam o homem que surgia nesse período não como produto das relações anteriores em dialética com a nova que surgia, mas sim como o começo da história.

· Marx diz que quanto mais recuarmos na história veremos sempre o individuo (o produtor individual) dentro de um grupo, dependendo diretamente ou indiretamente. Primeiro o individuo naturalmente é membro da família (família aqui não tem as conotações psicológicas e sociais modernas do termo), depois da ampliação da família, ou seja, a tribo. Em seguida ele é parte de uma comunidade de tribos que se formam, de modo geral pelo antagonismo e pela e afinidades entre as diversas tribos. Apenas na sociedade moderna, a “tribo”, ou o conjunto é visto como algo exterior, o qual é buscado apenas como meio de se obter vantagens financeiras, e não mais com o espírito de interdependência de outrora.

· Justamente quando na sociedade surge essa idéia de indivíduo isolado, é que as relações entre homens estão de modo geral mais universalmente postas. Sobre isso, basta atentarmos para a própria produção onde certos produtos para serem finalmente consumidos dependem de várias pessoas em diferentes países. Lembremos também das comunicações. Veja a contradição, quando mais dependentes estamos em um contexto global, mais forte é a cada dia a idéia de cada um por se, de você pode, só depende de você!

· O homem não é apenas um animal social, mas político também. Ele apenas pode individualizar na coletividade.

· É idéia completamente absurda que a produção possa desenvolver-se em um indivíduo isolado, assim como é igualmente absurdo que a linguagem desenvolva-se sem que existam homens com a necessidade (fundada no trabalho) de utilizá-la.

· A produção em geral é uma abstração que tem um sentido fundado na produção particular, concreta.

· Todos os períodos da produção diferem-se entre si, mas também têm traços comuns.

· Nunca podemos esquecer-nos das diferenças existentes entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre o indivíduo e a natureza, pois isso conduz a grandes falseamentos da realidade. Os economistas modernos devem toda sua argumentação ao esquecimento dessas diferenças.

· Ressalta a importância de distinguir claramente entre: produção em geral, ramos particulares de produção e a totalidade da produção.

· Os livros ou teóricos da economia moderna, sempre querem mostrar, ao tratarem da economia, as condições sem as quais seria impossível a produção, e as características que podem ampliar ou reduzir a produção. Como por exemplo, o clima, a proximidade de lagos etc.

· Tais teóricos da economia moderna também procuram mostrar que a produção é determinada por leis eternas da natureza. a conseqüência disto é a afirmação da atual sociabilidade burguesa como natural, não podendo assim, ser alterada. Enquanto isso, eles, os economistas modernos, tomam a distribuição como arbitrária, de modo que esta pode se realizar conforme a vontade do indivíduo. Marx exemplifica sobre a distribuição que, tanto o escravo, como o servo, o empregado, o clero etc... ambos recebem uma parte da produção social, contudo, as leis que regem a distribuição da produção que chega até o clero é diferente das leis que regem a produção que chega ao escravo. Apesar disso, o mesmo dito antes sobre características comuns aos vários modelos de produção que se deram ao longo da história, também aqui, com relação a distribuição da renda, existem pontos comuns entre as distribuição de renda na sociedade escravista e no capitalismo.

· A argumentação desses economistas modernos de acordo com o posto acima produz várias tautologias, como exemplo, dizem eles que a propriedade é condição para a produção. Primeiro que toda produção é apropriação da natureza por um indivíduo no seio de uma determinada sociedade.

· Com relação a proteção da propriedade, hoje, os capitalistas preferem a policia do que a antiga lei do mais forte. Mas eles esquecem que, cada forma de produção gera a suas próprias leis, e que, atualmente, o que eles chamam de Estado da Lei, é apenas a aplicação da lei do mais forte.

2. As relações gerais entre a produção e a distribuição, a troca e o consumo.

· A produção é determinada por leis gerais da natureza, a distribuição se dá segundo contingências sociais que podem até certo ponto interferir ou motivar a produção. A troca é uma espécie de termo médio, que é socialmente “determinado”, e por fim, o consumo é o ato final, que situa-se fora da economia política.

· Os economistas são acusados por seus inimigos de separarem partes do todo ao procederem às suas análises.

a) Produção e consumo

· Toda produção é consumo. Ao se produzir algo, existe o consumo da força mesmo de quem realiza o ato, bem como das ferramentas etc.

· Só existe consumo com produção, mas só existe produção com consumo. Tem-se portanto uma relação dialética. A produção é imediatamente consumo, e este é imediatamente produção. Marx exemplifica com os trilhos de um trem. Se por eles não passa nenhum trem, se eles de maneira alguma são utilizados, se no meio onde pode estar não tem nenhuma relação produtiva com a natureza, nós podemos até dizer que estes trilhos existem apenas na idéia, pois eles não têm nenhuma finalidade. Assim, para que produzir se ninguém irá consumir? E o que quê consumir se não há nada produzido?

· Sobre essa dinâmica acima, Marx diz: “cada um é imediatamente o seu contrário”.

· O consumo influi na produção de duas maneiras, primeiro que, o produto só é produto no ato do consumo, ou seja, através deste. Isso por si só, influencia na produção. Segundo porque, a produção tem o objeto manifesto no seu ato, mas o consumo, o consumir produz na idéia o objeto da produção e, uma vez que esta ultima existe para o consumo, ela é alterada pelo consumo e por sua vez o altera. É um circulo dinâmico. Marx ressalta, todavia, que o consumo reproduz as necessidades.

· Mar argumenta que, a produção determina, ou seja, predomina sobre o consumo. Ela acaba criando o consumidor, moldando-o. Podemos entender isso da seguinte maneira: todas as pessoas têm necessidades básicas, como alimentar-se, por exemplo. Mas existem outras de segunda ordem que já não compõem o básico, e que são, na verdade postas do exterior para dentro do consumidor. Um exemplo são os celulares, que estão praticamente se superando a cada dia, e a cada novo lançamento o indivíduo sente a necessidade de possuir aquele novo modelo. Nesse caso, a produção de aparelhos celulares, por meio da mídia, molda aquela pessoa para que ela consuma não o modelo anterior, não o de outra marca, mas aquele específico, determinado aparelho. Assim há diferentes tipos de produção, e diferentes tipos de consumo ou consumidores. Marx diz sobre isso que a fome apesar de parecer universal, tem suas particularidades, pois a fome que é saciada em restaurante com carne bem preparada, com gafo e facas, é diferente daquela fome que é saciada nos lixões com pedaços de carne semiputrefadas, agarrados com as próprias mãos.

· Marx diz que a produção cria um sujeito para o objeto.

· A produção, porém não é apenas imediatamente consumo, e nem o consumo é apenas imediatamente produção. Um não só o meio para o outro, e o outro não é só o fim do primeiro. Mas sim, quando o consumo se realiza em sua determinação, ele realiza a produção. Eles realizam-se ao mesmo tempo, o próprio produtor só é tal quando o consumidor absorve o produto (objeto) da produção realizada pelo produtor (geral e particular).

· É especificado aqui que, a produção prepondera sobre o consumo. Este último é elemento interno no processo de produção. Deve-se ficar alerta portanto, com aqueles que identificam diretamente produção com consumo.

· Destacamos aqui a dialético constantemente presente no argumento marxista. Vemos a fidelidade de Marx ao seu próprio método. Tal procedimento não obscurece, não torna impossível o entendimento da realidade, não a mistifica, pelo contrário, é o que mais chega próximo da realidade do movimento.

· A distribuição é a mediação entra produção e consumo (a priori se dá por contingências sociais).

b) Distribuição e produção

· Os economista correntes (da época de Marx) tomam o capital como determinante da produção. Eles não tomam o salário como trabalho assalariado. De forma semelhante não tomam a renda imobiliária como forma evoluída da propriedade agrária rural, mas sim pressupondo apenas a terra limpa e seca.

· A distribuição é determinada pela produção, é um momento no processo de produção. A distribuição lida com o objeto produzido. Ao mesmo tempo, o modo como um determinado grupo participa da produção, especifica particularmente a parcela da produção que caberá a esse grupo.

· Interessante ressaltar que pelo fato do indivíduo ao nascer, depender da parcela que lhe é socialmente cabida para poder ativamente produzir, lhe faz imaginar que a distribuição vem antes da produção. Quando na verdade a primeira já foi estabelecida antes pela segunda.

· Marx procura mostrar exemplos históricos pelos quais, a má interpretação dos economistas modernos pode levá-los a crer que a produção é eterna, e apenas a distribuição é histórica. Como exemplo podemos imaginar a colonização de uma terra, onde os colonizadores definem as partes da terra que caberá a cada colono para que este possa produzir, ou, em outro caso, se os colonizadores escravizarem os nativos para sobrevirem do trabalho destes (como no caso da maior parte da áfrica). Nestes exemplos somos levados a entender que de fato, é a distribuição que determina a produção, ou, que a distribuição é histórica e a produção não.

· Na colonização três possibilidades são postas: primeiro o colonizador impõe sua produção aos colonizados; segundo, os colonizadores deixam permanecer a produção já existente e cobram apenas tributos e em terceiro, há uma correlação entre ambas as partes, de modo que gera uma nova produção, diferente daquela do colonizador e daquela dos colonos.

· Nas três possibilidades postas, ou seja, nas três maneiras diferentes de distribuir ou, no caso, redistribuir a produção, já pressupõe uma produção anterior.

· Marx esta sempre defendendo a produção material como fator preponderante sobre todos os demais. É o que nos deixa entender quando afirma que, para pilhar um povo, tribo, nação, ou qualquer outra forma de agrupamento, é necessário antes que nesse local exista algo a ser pilhado, ou seja, que já exista algo produzido. E até a própria forma de pilhagem é preponderantemente definida pela produção. Pois não se pilha a bolsa de valores da mesma maneira que se pilha uma sociedade escravista. Quem irá querer tomar escravos de uma região e levar para outra onde o escravo não será aceito como tal?

c) Troca e produção

· A troca, bem como o consumo e a distribuição, é um momento da produção. Assim, sem troca ninguém irá produzir, mas só há troca se houver um produto a ser trocado. Assim, a produção prepondera sobre o momento da troca.

· Concluí-se, portanto, que a produção, a distribuição, a troca e o consumo, não são idênticos. Todos esses elementos constituem-se como a diversidade no todo, são particularidades que formam a universalidade. Sendo que, a produção prepondera sobre os demais, existindo assim, não uma divisão entre eles por serem cada um, uma dada particularidade, mas sim que, todos estão em interação entre si.

3. O método da economia política.

· Geralmente os economistas ao analisarem a economia de um país partem do que eles entendem como sendo concreto, ou seja, partem da população, suas divisões em classes etc., contudo, tal modo de prosseguir é errado, pois é abstração considerar a população fora de todas as relações que a torna existente realmente. Assim, considerar o Capital sem produção, sem troca, sem valor, sem consumo, é querer analisar a partir de abstração pura.

· O método científico correto precisa considerar todas as relações. Determinações simples dentro desse conjunto possibilitam conhecer a estrutura como um todo.

· O concreto é concreto porque que é a síntese de múltiplas determinações, é a unidade do diverso. Segundo Marx, ele aparece ao pensamento como processo de síntese e não como ponto de partida, embora seja realmente o ponto de partida, inclusive das intuições e representações do pensamento.

· Hegel, sobre o dito acima, considerava o concreto como resultado do pensamento, assim, toda tentativa de ir do abstrato ao concreto, ou de se conhecer profundamente a realidade, consiste apenas em um movimento interno do pensamento, de si, em si, e para si.

· Todavia Hegel tem razão em iniciar a sua filosofia do direito pela posse. Se bem que a posse pressupõe uma forma de estado, mesmo o mais simples, ou seja, a família. Assim, existem famílias ou tribos que possuem, mas não tem propriedade. Assim, não parece correto que um selvagem que possua mas não tenha propriedade evolua para a família.

· Marx destaca o avanço na forma de conceber a riqueza. Primeiro concebia-se o dinheiro como fonte da riqueza, em seguida, os fisiocratas concebiam como fonte de riqueza o trabalho, mas um trabalho determinado, o trabalho agrícola. Em seguida, a concepção de Adam Smith, de que a riqueza pertence ao trabalho, ao trabalho em geral. Contudo Marx argumenta que Smith as vezes tende a aproximar-se dos fisiocratas.

· As abstrações mais gerais só podem surgir quando há um desenvolvimento do concreto. Nesse caso, o trabalho – antigo como ele é – só pode se tornar categoria geral abstrata enquanto fonte de riqueza, quanto se realizou como tal na sociedade moderna.

· Marx enfatiza – questão de método – que a sociedade burguesa é a mais evoluída forma de produção – obviamente não implica que seja a ultima – pela qual podemos entender as formas anteriores.

· Contudo, por exemplo, a economia burguesa só entende a feudal, com a qual lutou se realizar uma crítica a se mesmo. Semelhante aconteceu com relação a religião, como na crítica do protestantismo ao catolicismo, ou ainda do cristianismo ao paganismo.

· Ao ter certo entendimento do atual, podemos criticar e entender a anterior. Ao fazer isso, entendemos melhor a atual.

· Não podemos considerar que uma sociedade existe a partir do momento em que se fala sobre ela, especificamente. Toda sociedade é dada na realidade e na mente e, em toda sociedade existe uma forma de produção determinada e com seus limites.

· Devemos (questão de método) analisar o capital isoladamente, depois a propriedade agrária, e em seguida todas as suas relações.

· As categorias assumem posições diferentes segundo as sociedades nas quais as consideramos.

· Marx, ao utilizar a arte para clarear seu método, diz que, cada arte é determinada por seu contexto histórico e social. A arte grega é fruto daquela época grega, baseada numa forma mitológica de compreender a natureza. Essa forma é incompatível com a do renascimento, neste, a mentalidade do artista é dominado pelas idéias iluministas que apontavam para o capitalismo – apesar de ainda conservar traços míticos em segundo plano. Contudo, o que é interessante nestas artes gregas (antigas, de outros períodos anteriores), é que mesmo nossa mentalidade sendo dominada pelas atuais formas de sociabilidade, estas obras gregas ainda nos causa prazer estético. (provavelmente, como explica Lukács, por elas terem, apesar de ter seus limites históricos e sociais, ou seja, suas especificidades, alcançado um caráter universal.

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