sexta-feira, 4 de maio de 2012

Três equívocos básicos com relação ao marxismo



Este breve texto constitui-se de sintéticas reflexões acerca das discussões e comentários realizados em uma aula na pós-graduação em educação da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Objetiva-se aqui, tão somente, esclarecer determinadas "acusações" que são comumente dirigidas ao marxismo. Contudo, alertamos que não estamos com isso, defendendo o marxismo como verdade, outrossim, expor aquilo que o próprio Marx teorizou e procurou por em prática, em contraste com as históricas distorções que sua teoria-prática têm sofrido ao longo de anos. Procuramos nesta sintética comunicação, proceder segundo os pressupostos marxiano-lukacsiano, pelo fato deste proporcionar um entendimento da realidade em todas as suas determinações – o que não quer dizer que seja possível entender a realidade em sua totalidade, mas sim, aproximar-se dela.
Podemos resumir a exposição em três momentos, conforme o que foi dito na aula. Desta forma, temos inicialmente o tema da teleologia entendida de forma mecânica-idealista; em segundo a determinação economicista que de certo modo está contida no item anterior e, é comum principalmente entre os simpatizantes de Focault; e por último, a ideia corrente de que o marxismo nega o desenvolvimento das forças produtiva.
Teleologia/processo teleológico é, grosso modo, o ato de por um fim, antes de realizar algo, conceber no pensamento o resultado, a partir de onde se procura os meios para atingir esse fim. Assim, o mundo é fruto da teleologia divina, pois deus, segundo as religiões, fez o mundo, bem como sabe o dia de seu fim, e a maneira com se dará tal fim. Ou seja, tem absoluto domínio sobre ressa realização. Nesta perspectiva, os críticos do marxismo afirmam que para Marx, o fim da história é o comunismo. Ou seja, pre-idealizou-se tal modelo de organização social, busca-se os meios para atingi-lo – a revolução, por exemplo –, e pronto, chega-se ao comunismo, simples assim.
Contudo, a teleologia no marxismo difere dessa concepção. Lukàcs, que resgatou o caráter ontológico da teoria de Marx, dando a esta uma perspectiva mais filosófica, é claro ao expor que a teleologia só é possível no trabalho (ontológico). Entretanto, o trabalho teleológico, onde se põe os fins pelos quais se busca os meios para alcança-lo, está sempre sujeito às contingências, as casualidades. Isto se dá justamente porque o homem não tem o absoluto controle da natureza. Todo processo teleológico está ainda, para o marxismo, sujeito a faculdade do pensar humano, ou seja a subjetividade. Tal aspecto encontra-se, por exemplo, na escolha das alternativas. Em resumo, a teleologia tal como é entendida pelo marxismo, não implica o domínio absoluto do fim, até porque isto é algo impossível.
Como exemplo, podemos colocar uma atividade qualquer, como, abrir um cocô. Uma vez que se tem na ideia o fim (o cocô aberto), procura-se os meios para alcançar concretizar essa prévia ideação (chave, pedra, faca, foice, etc), pode ocorrer, todavia, que não se encontre um ou outro dessas ferramentas, dependendo do local onde se esteja (as contingências), de acordo com a ferramenta, pode-se até nem realizar aquilo que foi pre-idealizado. Ou então, concretizando, vai-se além daquilo que se pensou inicialmente, como por exemplo, aprende-se qual instrumento é melhor, qual maneira é mais confortável para realizar aquele fim, qual cocô é melhor para se abrir, se o pequeno ou o maior, etc. Ou seja, nunca fica-se apenas naquilo que se pre-idealizou. Além disso, parte-se sempre de uma necessidade real, concreta.
Sobre o determinismo econômico, podemos dizer que deriva de uma não compreensão de uma peça fundamental na teoria de Marx, que é a dialética. Quem leu o mínimo da obra de Marx, sabe que, em virtude da dialética universal-particular-singular, que é concreta e histórica, não há do marxismo categoria que determine – no sentido mais imediato do termo – outra, mas sim, tem predomínio sobre outras, que é o caso do modo de produção em relação a religião, política, Direito etc., sendo que ambas determinam-se reciprocamente – o que é muito diferente do determinismo mecânico. E quando na Ideologia Alemã, Marx diz que é o material que determina o pensar, ele o faz, precisamente naquele sentido que Lukács explicou, ou seja, em última instância, pois seres sem consciência, mas não consciência sem seres.
Veja-se no caso da educação. Este complexo hoje é voltado para o atendimento do mercado, as medidas tomadas como escola técnica, PROUNI, os investimentos do Banco Mundial na educação com vistas a elevar a economia, etc. E ainda, atente-se para o fato de que a educação hoje é mercadoria com registro na Organização Mundial do Comércio. Isto põem-se como exigência da produção atual, de pessoas que saibam manusear maquinas, que estejam 'qualificadas' para operar as novas tecnologias. Por outro lado, a própria educação, as pesquisas desenvolvidas por universidades, o conhecimento adquirido vai contribuir para que cada vez mais se desenvolva as técnicas de produção, o que implica alterações no próprio modo de produzir (não estruturais).
Ora! Se para o marxismo a economia determinasse as demais categorias, de que adiantava os estudos marxista na área da educação, os debates políticos, os protestos baseados no marxismo, etc? De que adiantaria realizar a 1ª Internacional? Se a economia burguesa já estava ali determinando tudo, inclusive o próprio agir particular de cada indivíduo? Ou seja, não adiantaria fazer nada para melhorar a sociedade. Pensa assim os deterministas mecânico-idealistas, os religiosos, etc. Para que se preocupar com o amanhã? o amanhã a deus pertence! Esta de fato não é a postura que lemos nos livros de Marx.
Por fim, criticam aqueles que se dizem marxistas, ou simpatizam com essa teoria, por comprarem o carro do ano, por trocarem de computador, etc. Se defendem essa perspectiva com convicção teórica ou prática, é ou questão. O fato é que o marxismo não nega o consumo daquilo que é fruto do desenvolvimento da técnica. Em nenhum momento Marx afirma que deve-se, visando um sociedade mais humana, deixar de usar os bens produzidos, ao contrário, ele próprio afirma que o desenvolvimento da produção é requisito para que se possa superar o modo de produção capitalista – entenda-se, não quer dizer que uma vez desenvolvido a produção, automaticamente a sociedade capitalista se converta em socialista, mas sem este requisito, tal transformação torna-se impossível. Ademais, o problema não é exatamente 'trocar de/comprar um celular novo. Trata-se antes, de possibilitar que todos – como humanos que são – possam ter acesso a essa produção da humanidade tornada privada pela apropriação do trabalho alheio, o que para Marx, 'implica' que todos tenham acesso aos meios de produção.
Destarte, essa crítica dirigida aos 'marxistas', é desconhecedora também, do fato de que, como explica Marx nos Manuscritos e na Ideologia, não há comunismo em um só país, em um só estado, ou – como suponho pensarem estes críticos –, em um único homem. Deixar de trocar de carro como ato particular ou singular, não traz o comunismo. Todavia, o papel da mídia no fetiche das mercadorias é outro assunto e, igualmente questionável.
Esperamos que com estas poucas palavras, tenhamos contribuído com o aclaramento acerca destas distorções do marxismo, ou pelo menos, que sirvam de motivo para que os críticos ou simpatizantes procurem compreender melhor esta teoria, não ficando nos comentadores ou nas orelhas dos livros. No mais, pedimos desculpas pelas falhas, é que as vezes não dá pra separar a paixão da razão, estas falhas só podem ser esclarecidas sob o rigor da ciência, e mesmo assim, ainda existirão sob diferentes formas. Ressaltamos ainda, que este texto é um mero rascunho de sala de aula, e não um artigo científico, carecendo assim, de uma mínima esquematização do conteúdo, bem como da exposição deste.

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