Antes de qualquer coisa, queremos afirmar que nosso compromisso é exclusivamente esclarecer melhor a realidade na qual estamos inseridos. Um ponto de grande importância nesse contexto é a questão da educação, ou mais especificamente no tocante a situação daqueles profissionais docentes da rede pública de ensino fundamental, de modo especial, os que são contratados. Sobre estes, podemos dizer que, assim como o Estado nunca abre concurso público para atender a carência das escolas, o município seguindo a mesma lógica também não o faz. Não é muito difícil perceber a intenção de tal lógica, uma vez que, como sabemos, o professor temporário não faz greve, não reivindica e nem questiona questões próprias de seu “estar” professor em sala de aula.
O posicionamento reacionário tido por estes professores, todavia, não é algo pre-elaborado, por eles mesmos, bem como, não é culpa destes que a educação pareça melhor, enquanto que na verdade, perdeu muitas de suas qualidades. Só a título de exemplo, podemos aludir aqui ao afrouxamento do conteúdo, uma minimização destes em contraposição a uma exacerbação do método. Com isso, acontece que, apesar de estar longe de uma proposta humanista de ensino, o setor privado oferece ao indivíduo oportunidade de ter acesso a um conteúdo diversificado. Enquanto isso, na rede pública, a defesa de uma corrente de pensamento fruto do neo liberalismo, acentuado no Brasil na década de 70, prevalece sobrepondo problemas, sem apontar nenhuma solução plausível.
As teorias de Piaget e afins, fora o fato de algumas serem explicitamente de base biológica, e não social no sentido de não terem sido desenvolvidas histórico-socialmente, mas de forma positivista. Estas são absorvidas pela educação brasileira exatamente na onda de fortalecimento do neo liberalismo como doutrina econômica e política. Todavia, essa doutrina mascara a realidade de diversas maneiras. Segunda esta, por exemplo, ao pregar a total liberdade do mercado, anuncia que todos são iguais, podendo assim crescer economicamente, bastando para isso que tenha vontade. Ora! não há igualdade entre os homens. E isto não implica que tais diferenças devam ser motivo de preconceito, mas a realidade é que elas existem e, são determinadas historicamente. Tal argumento não representa, nada mais, que uma falsa ideologia, que tem como objeto evitar conflitos diante da realidade da desigualdade e da exploração de uma classe sobre outra.
As teorias educacionais postas assim dentro dessa ótica neo liberal, buscam apenas fazer com que a classe pobre, imagine estar recebendo uma boa educação, e que, de fato, não há diferença, somos todos iguais, a lei é para todos. Mas é crime roubar, assaltar um caixa de um banco, não importa se seja por fome ou por diversão (pouco provável), mas não é crime morrer de fome e frio debaixo de uma ponte. Assim, a lei tem a função exclusiva de garantir as posses materiais de quem as conseguiu as custas do trabalho alheio.
Dentro deste emaranhado de problemas, o Professor, na maioria das vezes não percebe que, a postura que ele aprendeu enquanto educador, ou apenas profissional da educação, e ele adquiriu justamente em uma universidade burguesa controlada por um estado burguês, visa tão somente reproduzir a sociabilidade vigente. Mesmo nos mais agudos casos, onde ele entende que esta sujeito à manipulação política, este mesmo Professor não compreende a complexidade dessa manipulação. Mesmo nesses casos, ele é impossibilitado de tomar uma posição ontológica radical, por causa de sua própria estrutura financeira, que o amarra às decisões alheias.
A questão posta na prática sobre o desdobramento dessas relações é: O que devemos fazer? Podemos como resposta dizer o seguinte. Uma vez conhecedores de tais relações, sabemos o motivo de alguns professores terem um postura de completa submissão ao secretário de educação, por exemplo, mesmo que a pessoa que representa esta função, seja, do ponto de vista do compromisso com a qualidade da educação (na medida de suas possibilidades), completamente inútil. Todavia, tais relações são dialéticas, o que permite sempre pequenos espaços de resistência. São estes momentos que devem ser bem aproveitados. Nesses termos, a população de modo geral pode, sempre que perceber tais eventos que reduzem ainda mais a qualidade da educação, tornar sua percepção pública, divulgar mesmo, nos meios que forem possíveis. A melhor opção nesse caso, e que melhor atende a questão dada, é que devemos, sempre, denunciar, seja oficialmente, ou no próprio seio da comunidade. Pois apesar da lei ser unilateral em sua forma geral, ela, bem como o próprio sistema produtivo que lhe serve de base, é contraditória, até porque, principalmente no Brasil, o desenrolar econômico-político é desigual e combinado. Dessa forma, a própria lei corrupta por natureza, é obrigada a agir, reprimir de certa forma, a ação dessas pessoas que se aproveitam da boa fé dos outros para lhe tirarem, na educação, o pouco que ainda resta.
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