quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Fichamento do capítulo I de Introdução a uma Estética Marxista, de Georg Lukács

LUKÁCS, Georg. Introdução a uma estética marxista: sobre a Categoria da Particularidade. Rio de Janeiro; Civilização brasileira, 1968.
I - A questão lógica do particular em Kant e schelling
Obs: Essa parte corresponde a uma espécie de revisão bibliográfica situando o início do problema na filosofia. Nela Lukács vai analisar as categorias que ele julga importante para a estética (universalidade – singularidade – particularidade) em alguns autores que já trataram destas, principalmente Kant e Schelling. Em decorrência da rigidez com que o autor aplica o método marxista, algumas categorias de menor importância podem surgir em função da análise das categorias centrais.
 Inicialmente o autor expõe muito sinteticamente noções dessas categorias (particular, universal, singular) em Aristóteles, Platão. 06
 “realismo conceitual” toma a universalidade como única categoria, como única real (desconsidera as demais). 06
 “nominalismo” toma o universal de forma oposta ao “realismo conceitual”. 07
 “quando, na biologia, começaram a aparecer os problemas da evolução, quando a revolução francesa colocou em primeiro plano a luta pela idéia da evolução nas próprias ciências sociais, então, sim, a nossa questão começou a se colocar no centro do interesse filosófico” 07
 “foi a filosofia alemã, que nesse crise do crescimento do pensamento, principiou a colocar o problema da dialética e a buscar uma solução” 08
 A primeira obra na qual a particularidade assume um lugar central é a crítica do Juízo de Kant. 08
 “Lênin apontou as oscilações de Kant entre o idealismo e o materialismo” 08
 Na dialética transcendental (Crítica da Razão Pura), Kant coloca a contradição como problema central da filosofia. Na sua ética, porém, há uma sujeição ilimitada ao “dever ser”, não havendo espaço para os conflitos éticos (contradição, dialética). 08-09
 “a evolução é para Kant conceitualmente incompreensível (não existe). 11
 Kant identifica a faculdade humana de pensar com o pensamento metafísico. 11
 “a incognoscibilidade do mundo objetivo, independente da consciência, se insere em toda e qualquer afirmação concreta, afetando o conteúdo científico e o método científico” (sobre Kant) 17
 “desde o momento em que existe uma biologia como ciência, a filosofia burguesa tem diante dela um dilema insolúvel: ou tenta resolver os problemas biológicos com os meios do pensamento metafísico ([...] procura reduzi-los a lei da mecânica) e cai em contradição com os
fatos específicos da vida, ou tenta compreender os novos fenômenos com uma aparelhagem conceitual que vá além da mecânica e cai necessariamente da categoria da finalidade” 18
 A categoria “finalidade” conduz no idealismo, ao conotações religiosas (teologia). 18
 “para Kant, só é necessário aquilo que pode ser conhecido a priori” 18
 Sobre Kant: “seu mérito histórico estar em ter reconhecido no desenvolvimento das ciências esses problemas da realidade, especialmente em ter pelo menos pressentido as dimensões de tais problemas” 19
 “quando Kant, na relação do particular com o universal, vê o momento da contingência, ele está sem dúvida, parcialmente com razão, levando-se em conta a ruptura com a metafísica rigidamente mecanicista na passagem do particular ao universal e virse-versa” 19
 Outro avanço de Kant é ter compreendido que “aquilo que constitui a particularidade não é, em sua especificidade, passível de ser meramente deduzido do universal, e que de um particular não se pode obter sem mais um universal” 19
 Porém, por não conhecer a dialética da necessidade e da contingência, Kant continua com as antinomias da Crítica da razão pura. 19
 “Kant define o finalismo da seguinte forma: „uma coisa existe como fim da natureza quando é causa e efeito de si mesmo‟ [...] daí resultaria, por um lado, que ela se produz a si mesma tanto como gênero como quanto indivíduo” 20
 “falando rigorosamente, a organização da natureza, não tem, pois, analogia alguma com qualquer causalidade que conheçamos” (apud Kant) 21
 “a tentativa gnosiológica de Kant de fundar uma metodologia científica da vida orgânica acaba, assim, no completo agnosticismo” 21
 Pelo que se entende de Kant, “tudo aquilo que seja estético venha a ser confinado à esfera subjetiva e qualquer conformidade a leis e conceituação efetivamente objetiva venha a ser, portanto, afastada da estética”. 21
 Então, “o juízo estético é, pois, uma particular faculdade de julgar as coisas segundo uma regra, mas não segundo conceitos”. Assim, em Kant a estética é subjetiva e formalista. 21-22
 Em Kant o estético está isolado do conhecimento. 22
 “nosso intelecto é uma faculdade de conceitos, isto é, um intelecto discursivo, no qual são continentes a espécie e as diferenças do particular”. 23
 É interessante notar que não há uma abordagem sobre as origens dos conceitos, como eles são formados e de que forma e que com que fim ocupam este intelecto estabelecido por Kant. Tal situação deixa transparecer de certa forma, o idealismo kantiano.
 Na crítica do juízo viu-se uma abrir de portas exigidas pelas novas ciências, para um novo modo de pensar, o pensar dialético. 24
 Aqui se inicia a discussão com Schelling (25). É interessante notar que Schelling é dialeticamente avançado em relação a Kant.
 “Schelling, porém, assume a antítese kantiana do discussivo e do intuitivo e a identifica com a antítese entre o pensamento metafísico e o pensamento dialético”. 25
 “Schelling vai decisivamente além do conceito kantiano da vida orgânica, levado pelo processo lógico espontâneamente justo segundo o qual a unidade das leis naturais não pode ser eliminada pelo reconhecimento de um particular modo de formar-se daquilo que é orgânico”. 26
 Schelling rejeita a suposição de uma particular vital (geradora da vida).
 “Schelling [...] a vida consiste [...] em um livre jogo de forças, que vêm continuamente mantido por algum influxo externo”. 26
 Schelling notou a importância do ambiente no surgimento e no perecimento da vida, como uma relação dialética. 27
 (Schelling) “a vida se afirma através da contradição da natureza, mas desapareceria se a natureza não a combatesse” 27
 O influxo exterior contrário a vida serve justamente para manter a vida, se o ser for insensível a esse influxo vai perecer. 27
 “as mesmas forças que num determinado período mantiveram a vida, a destroem”. 27
 Schelling coloca que a vida é um estado intensificado de forças naturais (não é uma coisa, mas um movimento, uma tramitar de forças de um estado a outro) comuns. Assim, sendo a morte universal, podemos entender que, o fenômeno da vida é de certa forma, particular, enquanto que o estado de morte, ou a morte é universal. Todavia, a vida é comum aos seres viventes, ou seja, a vida é vida em si onde quer que seja, apesar dos diversos graus e/ou formas de vida. Sendo assim, ela própria é universal. Note-se a dialética.
 “os dois defeitos do jovem Schelling: a nítida contraposição adialética de necessidade e liberdade, como herança kantiana; a mistificação da liberdade, como conseqüência da filosofia da intuição” 28
 (em Schelling) “o mundo objetivo passa a nascer, assim, „por um mecanismo completamente cego da inteligência‟. Só em semelhante mundo, diz ele, pode ser pensada uma atividade finalística sem consciência; só assim a natureza se torna possível como algo „que é finalístico sem ser produzido finalisticamente”. 29
 Só a título de ilustração: a educação é algo objetivo bem como a política, o capitalismo, o esporte etc. todavia, esses complexos não são produzidos por uma consciência cega. Pelo
contrário, são metodicamente elaborados para se obter um certo resultado, ainda que, no final, o resultado seja diversa daquela intenção anterior, devido as contingências.
 Schelling vai mundo além de Kant ao admitir a cognoscibilidade do mundo exterior. 30
 “aplicando convenientemente a interpretação dinâmica das coisas, chega-se a saber como a própria natureza age” (apud Schelling). 30 [avanço]
 “a própria natureza é, por assim dizer, uma inteligência enrijecida com todas as suas sensações e intuições” (apud Schelling). 30 [retrocesso]
 “em Schelling os momentos construtivos das potências e cada uma dessas potências é ao mesmo tempo o absoluto (o universal, o idêntico) e, também, insuprimivelmente, o particular. [...] Schelling só reconhece a objetividade, a reprodução da realidade através do pensamento, na universalidade abstrata” 31
 “esta estética [de Kant] permanecia subjetiva, privada de objeto e de conceito; a concepção idealista subjetiva, tomada à filosofia kantiana da natureza, da adequação do mundo às necessidades da nossa faculdade cognoscitiva, só podia aumentar esse subjetivismo estético” 32
 “a essência da realidade objetiva aparece como cognoscível, mas a idéia não deve ser o reflexo da coisa e sim a coisa é que recebe a sua existência, o seu em si, da ideia”. 32 [sobre Schelling]
 Este pensamento de Schelling nos leva a entender as coisas como idéias, já que estas são o que são, são existentes enquanto tais, devido unicamente a ideia, a ideia é a coisa em si.
 “ele [Schelling] queria ver na arte um coroamento a posteriori que justificasse tudo que o precedia no seu sistema. Contudo, já que conteúdo, matéria, argumento representam o universal, ao passo que a forma particular, a realização formal, [...] não se apresenta como um princípio realmente realizado pela estética: ela rebaixa o universal de sua alta pureza, da sua realidade”. 33
OBS: Tendo Georg Lukács mostrado a abordagem de Kant e Schelling sobre as categorias universal e particular, bem como da dialética em geral, expondo ainda os avanços e retrocessos de cada um desses pensadores. Bem! É possível desses fichamentos pegar pelo menos a idéia central das categorias tratadas por Lukács em Kant e Schelling, segundo a interpretação do próprio Lukács. Este vai agora realizar o mesmo com Hegel, que supera em muitos os precedentes, sem, contudo negá-los.

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