LUKÁCS, Georg. Introdução a uma estética marxista: sobre a Categoria da Particularidade. Rio de Janeiro; Civilização brasileira, 1968.
I - A questão lógica do particular em Kant e schelling
Obs: Essa parte corresponde a uma espécie de revisão bibliográfica situando o início do problema na filosofia. Nela Lukács vai analisar as categorias que ele julga importante para a estética (universalidade – singularidade – particularidade) em alguns autores que já trataram destas, principalmente Kant e Schelling. Em decorrência da rigidez com que o autor aplica o método marxista, algumas categorias de menor importância podem surgir em função da análise das categorias centrais.
Inicialmente o autor expõe muito sinteticamente noções dessas categorias (particular, universal, singular) em Aristóteles, Platão. 06
“realismo conceitual” toma a universalidade como única categoria, como única real (desconsidera as demais). 06
“nominalismo” toma o universal de forma oposta ao “realismo conceitual”. 07
“quando, na biologia, começaram a aparecer os problemas da evolução, quando a revolução francesa colocou em primeiro plano a luta pela idéia da evolução nas próprias ciências sociais, então, sim, a nossa questão começou a se colocar no centro do interesse filosófico” 07
“foi a filosofia alemã, que nesse crise do crescimento do pensamento, principiou a colocar o problema da dialética e a buscar uma solução” 08
A primeira obra na qual a particularidade assume um lugar central é a crítica do Juízo de Kant. 08
“Lênin apontou as oscilações de Kant entre o idealismo e o materialismo” 08
Na dialética transcendental (Crítica da Razão Pura), Kant coloca a contradição como problema central da filosofia. Na sua ética, porém, há uma sujeição ilimitada ao “dever ser”, não havendo espaço para os conflitos éticos (contradição, dialética). 08-09
“a evolução é para Kant conceitualmente incompreensível (não existe). 11
Kant identifica a faculdade humana de pensar com o pensamento metafísico. 11
“a incognoscibilidade do mundo objetivo, independente da consciência, se insere em toda e qualquer afirmação concreta, afetando o conteúdo científico e o método científico” (sobre Kant) 17
“desde o momento em que existe uma biologia como ciência, a filosofia burguesa tem diante dela um dilema insolúvel: ou tenta resolver os problemas biológicos com os meios do pensamento metafísico ([...] procura reduzi-los a lei da mecânica) e cai em contradição com os
fatos específicos da vida, ou tenta compreender os novos fenômenos com uma aparelhagem conceitual que vá além da mecânica e cai necessariamente da categoria da finalidade” 18
fatos específicos da vida, ou tenta compreender os novos fenômenos com uma aparelhagem conceitual que vá além da mecânica e cai necessariamente da categoria da finalidade” 18
A categoria “finalidade” conduz no idealismo, ao conotações religiosas (teologia). 18
“para Kant, só é necessário aquilo que pode ser conhecido a priori” 18
Sobre Kant: “seu mérito histórico estar em ter reconhecido no desenvolvimento das ciências esses problemas da realidade, especialmente em ter pelo menos pressentido as dimensões de tais problemas” 19
“quando Kant, na relação do particular com o universal, vê o momento da contingência, ele está sem dúvida, parcialmente com razão, levando-se em conta a ruptura com a metafísica rigidamente mecanicista na passagem do particular ao universal e virse-versa” 19
Outro avanço de Kant é ter compreendido que “aquilo que constitui a particularidade não é, em sua especificidade, passível de ser meramente deduzido do universal, e que de um particular não se pode obter sem mais um universal” 19
Porém, por não conhecer a dialética da necessidade e da contingência, Kant continua com as antinomias da Crítica da razão pura. 19
“Kant define o finalismo da seguinte forma: „uma coisa existe como fim da natureza quando é causa e efeito de si mesmo‟ [...] daí resultaria, por um lado, que ela se produz a si mesma tanto como gênero como quanto indivíduo” 20
“falando rigorosamente, a organização da natureza, não tem, pois, analogia alguma com qualquer causalidade que conheçamos” (apud Kant) 21
“a tentativa gnosiológica de Kant de fundar uma metodologia científica da vida orgânica acaba, assim, no completo agnosticismo” 21
Pelo que se entende de Kant, “tudo aquilo que seja estético venha a ser confinado à esfera subjetiva e qualquer conformidade a leis e conceituação efetivamente objetiva venha a ser, portanto, afastada da estética”. 21
Então, “o juízo estético é, pois, uma particular faculdade de julgar as coisas segundo uma regra, mas não segundo conceitos”. Assim, em Kant a estética é subjetiva e formalista. 21-22
Em Kant o estético está isolado do conhecimento. 22
“nosso intelecto é uma faculdade de conceitos, isto é, um intelecto discursivo, no qual são continentes a espécie e as diferenças do particular”. 23
É interessante notar que não há uma abordagem sobre as origens dos conceitos, como eles são formados e de que forma e que com que fim ocupam este intelecto estabelecido por Kant. Tal situação deixa transparecer de certa forma, o idealismo kantiano.
Na crítica do juízo viu-se uma abrir de portas exigidas pelas novas ciências, para um novo modo de pensar, o pensar dialético. 24
Aqui se inicia a discussão com Schelling (25). É interessante notar que Schelling é dialeticamente avançado em relação a Kant.
“Schelling, porém, assume a antítese kantiana do discussivo e do intuitivo e a identifica com a antítese entre o pensamento metafísico e o pensamento dialético”. 25
“Schelling vai decisivamente além do conceito kantiano da vida orgânica, levado pelo processo lógico espontâneamente justo segundo o qual a unidade das leis naturais não pode ser eliminada pelo reconhecimento de um particular modo de formar-se daquilo que é orgânico”. 26
Schelling rejeita a suposição de uma particular vital (geradora da vida).
“Schelling [...] a vida consiste [...] em um livre jogo de forças, que vêm continuamente mantido por algum influxo externo”. 26
Schelling notou a importância do ambiente no surgimento e no perecimento da vida, como uma relação dialética. 27
(Schelling) “a vida se afirma através da contradição da natureza, mas desapareceria se a natureza não a combatesse” 27
O influxo exterior contrário a vida serve justamente para manter a vida, se o ser for insensível a esse influxo vai perecer. 27
“as mesmas forças que num determinado período mantiveram a vida, a destroem”. 27
Schelling coloca que a vida é um estado intensificado de forças naturais (não é uma coisa, mas um movimento, uma tramitar de forças de um estado a outro) comuns. Assim, sendo a morte universal, podemos entender que, o fenômeno da vida é de certa forma, particular, enquanto que o estado de morte, ou a morte é universal. Todavia, a vida é comum aos seres viventes, ou seja, a vida é vida em si onde quer que seja, apesar dos diversos graus e/ou formas de vida. Sendo assim, ela própria é universal. Note-se a dialética.
“os dois defeitos do jovem Schelling: a nítida contraposição adialética de necessidade e liberdade, como herança kantiana; a mistificação da liberdade, como conseqüência da filosofia da intuição” 28
(em Schelling) “o mundo objetivo passa a nascer, assim, „por um mecanismo completamente cego da inteligência‟. Só em semelhante mundo, diz ele, pode ser pensada uma atividade finalística sem consciência; só assim a natureza se torna possível como algo „que é finalístico sem ser produzido finalisticamente”. 29
Só a título de ilustração: a educação é algo objetivo bem como a política, o capitalismo, o esporte etc. todavia, esses complexos não são produzidos por uma consciência cega. Pelo
contrário, são metodicamente elaborados para se obter um certo resultado, ainda que, no final, o resultado seja diversa daquela intenção anterior, devido as contingências.
contrário, são metodicamente elaborados para se obter um certo resultado, ainda que, no final, o resultado seja diversa daquela intenção anterior, devido as contingências.
Schelling vai mundo além de Kant ao admitir a cognoscibilidade do mundo exterior. 30
“aplicando convenientemente a interpretação dinâmica das coisas, chega-se a saber como a própria natureza age” (apud Schelling). 30 [avanço]
“a própria natureza é, por assim dizer, uma inteligência enrijecida com todas as suas sensações e intuições” (apud Schelling). 30 [retrocesso]
“em Schelling os momentos construtivos das potências e cada uma dessas potências é ao mesmo tempo o absoluto (o universal, o idêntico) e, também, insuprimivelmente, o particular. [...] Schelling só reconhece a objetividade, a reprodução da realidade através do pensamento, na universalidade abstrata” 31
“esta estética [de Kant] permanecia subjetiva, privada de objeto e de conceito; a concepção idealista subjetiva, tomada à filosofia kantiana da natureza, da adequação do mundo às necessidades da nossa faculdade cognoscitiva, só podia aumentar esse subjetivismo estético” 32
“a essência da realidade objetiva aparece como cognoscível, mas a idéia não deve ser o reflexo da coisa e sim a coisa é que recebe a sua existência, o seu em si, da ideia”. 32 [sobre Schelling]
Este pensamento de Schelling nos leva a entender as coisas como idéias, já que estas são o que são, são existentes enquanto tais, devido unicamente a ideia, a ideia é a coisa em si.
“ele [Schelling] queria ver na arte um coroamento a posteriori que justificasse tudo que o precedia no seu sistema. Contudo, já que conteúdo, matéria, argumento representam o universal, ao passo que a forma particular, a realização formal, [...] não se apresenta como um princípio realmente realizado pela estética: ela rebaixa o universal de sua alta pureza, da sua realidade”. 33
OBS: Tendo Georg Lukács mostrado a abordagem de Kant e Schelling sobre as categorias universal e particular, bem como da dialética em geral, expondo ainda os avanços e retrocessos de cada um desses pensadores. Bem! É possível desses fichamentos pegar pelo menos a idéia central das categorias tratadas por Lukács em Kant e Schelling, segundo a interpretação do próprio Lukács. Este vai agora realizar o mesmo com Hegel, que supera em muitos os precedentes, sem, contudo negá-los.
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