Este breve texto constitui-se de sintéticas reflexões acerca das discussões e
comentários realizados em uma aula na pós-graduação em educação
da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Objetiva-se aqui, tão
somente, esclarecer determinadas "acusações" que são comumente
dirigidas ao marxismo. Contudo, alertamos que não estamos com isso,
defendendo o marxismo como verdade, outrossim, expor aquilo que o
próprio Marx teorizou e procurou por em prática, em contraste com as históricas distorções que sua teoria-prática têm sofrido ao longo de anos.
Procuramos nesta sintética comunicação, proceder segundo os
pressupostos marxiano-lukacsiano, pelo fato deste proporcionar um
entendimento da realidade em todas as suas determinações – o que
não quer dizer que seja possível entender a realidade em sua
totalidade, mas sim, aproximar-se dela.
Podemos
resumir
a
exposição
em
três
momentos,
conforme
o
que
foi
dito
na
aula.
Desta
forma,
temos
inicialmente
o
tema
da
teleologia entendida
de forma
mecânica-idealista;
em
segundo
a
determinação economicista
que
de
certo
modo
está
contida
no
item anterior
e,
é
comum
principalmente
entre
os
simpatizantes
de
Focault;
e
por
último,
a
ideia
corrente
de
que
o marxismo
nega o
desenvolvimento das
forças produtiva.
Teleologia/processo teleológico é, grosso modo, o ato de por um
fim, antes de realizar algo, conceber no pensamento o resultado, a
partir de onde se procura os meios para atingir esse fim. Assim, o
mundo é fruto da teleologia divina, pois deus, segundo as religiões,
fez o mundo, bem como sabe o dia de seu fim, e a maneira com se dará
tal fim. Ou seja, tem absoluto domínio sobre ressa realização.
Nesta perspectiva, os críticos do marxismo afirmam que para Marx, o
fim da história é o comunismo. Ou seja, pre-idealizou-se tal modelo
de organização social, busca-se os meios para atingi-lo – a
revolução, por exemplo –, e pronto, chega-se ao comunismo,
simples assim.
Contudo,
a
teleologia
no
marxismo
difere
dessa
concepção.
Lukàcs,
que
resgatou
o
caráter
ontológico
da
teoria
de
Marx,
dando
a
esta
uma
perspectiva
mais
filosófica,
é
claro
ao
expor
que
a
teleologia
só
é
possível
no
trabalho
(ontológico).
Entretanto,
o
trabalho
teleológico,
onde
se
põe
os
fins
pelos
quais
se
busca
os
meios
para
alcança-lo,
está
sempre
sujeito
às
contingências,
as
casualidades.
Isto
se
dá
justamente
porque
o
homem
não
tem
o
absoluto
controle
da
natureza.
Todo
processo
teleológico
está
ainda,
para
o
marxismo,
sujeito
a
faculdade
do
pensar
humano,
ou
seja
a
subjetividade.
Tal
aspecto
encontra-se,
por
exemplo,
na
escolha
das
alternativas.
Em
resumo,
a teleologia
tal como é
entendida pelo
marxismo, não
implica o
domínio absoluto
do fim,
até
porque
isto
é
algo
impossível.
Como exemplo, podemos colocar uma atividade qualquer, como, abrir um
cocô. Uma vez que se tem na ideia o fim (o cocô aberto), procura-se
os meios para alcançar concretizar essa prévia ideação (chave,
pedra, faca, foice, etc), pode ocorrer, todavia, que não se encontre
um ou outro dessas ferramentas, dependendo do local onde se esteja
(as contingências), de acordo com a ferramenta, pode-se até nem
realizar aquilo que foi pre-idealizado. Ou então, concretizando,
vai-se além daquilo que se pensou inicialmente, como por exemplo,
aprende-se qual instrumento é melhor, qual maneira é mais
confortável para realizar aquele fim, qual cocô é melhor para se
abrir, se o pequeno ou o maior, etc. Ou seja, nunca fica-se apenas
naquilo que se pre-idealizou. Além disso, parte-se sempre de uma
necessidade real, concreta.
Sobre
o
determinismo
econômico,
podemos
dizer
que
deriva
de
uma
não
compreensão
de
uma
peça
fundamental
na
teoria
de
Marx,
que
é
a
dialética.
Quem
leu
o
mínimo
da
obra
de
Marx,
sabe
que,
em
virtude
da
dialética
universal-particular-singular,
que
é
concreta
e
histórica,
não
há
do
marxismo
categoria
que
determine
– no
sentido
mais
imediato
do
termo
– outra,
mas
sim,
tem
predomínio sobre
outras,
que
é
o
caso
do
modo
de
produção
em
relação
a
religião,
política,
Direito
etc.,
sendo
que
ambas
determinam-se
reciprocamente
– o
que
é
muito
diferente
do
determinismo
mecânico.
E
quando
na
Ideologia
Alemã,
Marx
diz
que
é
o
material
que
determina
o
pensar,
ele
o
faz,
precisamente
naquele
sentido
que
Lukács
explicou,
ou
seja,
em
última
instância,
pois
há seres
sem consciência,
mas não há
consciência sem
seres.
Veja-se no caso da educação. Este complexo hoje é voltado para o
atendimento do mercado, as medidas tomadas como escola técnica,
PROUNI, os investimentos do Banco Mundial na educação com vistas a
elevar a economia, etc. E ainda, atente-se para o fato de que a
educação hoje é mercadoria com registro na Organização Mundial
do Comércio. Isto põem-se como exigência da produção atual, de
pessoas que saibam manusear maquinas, que estejam 'qualificadas' para
operar as novas tecnologias. Por outro lado, a própria educação,
as pesquisas desenvolvidas por universidades, o conhecimento
adquirido vai contribuir para que cada vez mais se desenvolva as
técnicas de produção, o que implica alterações no próprio modo
de produzir (não estruturais).
Ora! Se para o marxismo a economia determinasse as demais
categorias, de que adiantava os estudos marxista na área da
educação, os debates políticos, os protestos baseados no marxismo,
etc? De que adiantaria realizar a 1ª Internacional? Se a economia
burguesa já estava ali determinando tudo, inclusive o próprio agir
particular de cada indivíduo? Ou seja, não adiantaria fazer nada
para melhorar a sociedade. Pensa assim os deterministas
mecânico-idealistas, os religiosos, etc. Para que se preocupar com o
amanhã? o amanhã a deus pertence! Esta de fato não é a postura
que lemos nos livros de Marx.
Por
fim,
criticam
aqueles
que
se
dizem
marxistas,
ou
simpatizam
com
essa
teoria,
por
comprarem
o
carro
do
ano,
por
trocarem
de
computador,
etc.
Se
defendem
essa
perspectiva
com
convicção
teórica
ou
prática,
é
ou
questão.
O
fato
é
que
o
marxismo
não
nega
o
consumo
daquilo
que
é
fruto
do
desenvolvimento
da
técnica. Em
nenhum
momento
Marx
afirma
que
deve-se,
visando
um
sociedade
mais
humana,
deixar
de
usar
os
bens
produzidos,
ao
contrário,
ele
próprio
afirma
que
o
desenvolvimento
da
produção
é
requisito para
que
se
possa
superar
o
modo
de
produção
capitalista
– entenda-se,
não
quer
dizer
que
uma
vez
desenvolvido
a
produção,
automaticamente
a
sociedade
capitalista
se
converta
em
socialista,
mas
sem
este
requisito,
tal
transformação
torna-se
impossível.
Ademais,
o
problema
não
é
exatamente
'trocar
de/comprar
um
celular
novo.
Trata-se
antes,
de
possibilitar
que
todos
– como
humanos
que
são
– possam
ter
acesso
a
essa
produção
da
humanidade
tornada
privada
pela
apropriação
do
trabalho
alheio,
o
que
para
Marx,
'implica'
que
todos tenham
acesso aos
meios de
produção.
Destarte, essa crítica dirigida aos 'marxistas', é desconhecedora
também, do fato de que, como explica Marx nos Manuscritos e na
Ideologia, não há comunismo em um só país, em um só estado, ou –
como suponho pensarem estes críticos –, em um único homem. Deixar
de trocar de carro como ato particular ou singular, não traz o
comunismo. Todavia, o papel da mídia no fetiche das mercadorias é
outro assunto e, igualmente questionável.
Esperamos que com estas poucas palavras, tenhamos contribuído com o
aclaramento acerca destas distorções do marxismo, ou pelo menos,
que sirvam de motivo para que os críticos ou simpatizantes procurem
compreender melhor esta teoria, não ficando nos comentadores ou nas
orelhas dos livros. No mais, pedimos desculpas pelas falhas, é que
as vezes não dá pra separar a paixão da razão, estas falhas só
podem ser esclarecidas sob o rigor da ciência, e mesmo assim, ainda
existirão sob diferentes formas. Ressaltamos ainda, que este texto é
um mero rascunho de sala de aula, e não um artigo científico,
carecendo assim, de uma mínima esquematização do conteúdo, bem
como da exposição deste.
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