terça-feira, 29 de março de 2011

O QUE O SECRETÁRIO NÃO EXPLICOU…

(Secretário de Educação de Capistrano) – Bom dia Rufino, bom dia os ouvintes da FM Maior, satisfação retornar a essa emissora. A gente fica feliz pelo ibope, pelo momento marcante aqui com os professores, o Prefeito falou muito bem, que uma das atribuições da administração em que ele faz parte é incentivo à educação. E a gente vem incentivar de forma bastante espontânea, com dialogo, com todos os envolvidos, dialogo com todos os atores é… que fazem parte desse grande… elo que é a formação dos nossos alunos, uma qualidade que pode ser voltada a todos eles, e que a gente possa contemplar… acima de tudo a aprendizagem, então o momento foi marcante por isso, porque foi um envolvimento em que a partir de agora, a gente tem um norte, agente tem uma perspectiva, e a nossa meta principal no ano de 2011 é alfabetizar os nossos alunos, aqueles alunos que por ventura tenham dificuldades, a gente vai trabalhar dando um incentivo particular, um incentivo diferenciado, afinal de contas, os indicadores estão aí para testar e, o nosso município quer ter bons indicadores, nós queremos envolver nesse sentido a classe dos professores para que eles possam verdadeiramente brilhar conosco nessa grande jornada.

Não precisaria, mas só por questão de reforço, antes de tudo, queremos alertar para a tenuidade da fala transcrita acima. A mesma é claramente vazia e pouco objetiva, para não adiantar o mascaramento da realidade que vem explícito nesta fala. Dois são os possíveis motivos para isso. Ou o ‘repórter’ estava apressado para ouvir outras falas desse tipo… ou o Secretário realmente não tinha nada mesmo de importante para falar.

Primeiro: O Secretário diz há um “incentivo espontâneo” no que se refere a educação. Devemos deixar claro que, se tal incentivo diz respeito a “sorrisos falsos” e “tapinhas nas costas”, eles não contribuem em absolutamente nada com a elevação da qualidade da Educação no município de Capistrano. Todavia, se o “incentivo” refere-se a investimento mesmo, nos salários, formação e compra de materiais utilizáveis pela Educação daquela Cidade, nesse caso, ou esse incentivo sai da Secretaria e não chega na sala de aula, ou se quer sai da Secretaria de Educação. O fato é que a cada dois bimestres professores “temporários” ficam sem ganhar, trabalhando como voluntário para garantir um novo contrato, ou se submetem a uma esmola de R$ 150,00 para poderem sobreviver. No nosso entender, isso não é incentivo.

Segundo: De acordo com o Senhor Secretário, além de haver um incentivo, este é de forma “espontânea”. Sinceramente, os vários professores e pessoas com cargos de confiança (em sua maioria, emprego por favores políticos) não foram espontaneamente nas comunidades pedir voto para os candidatos apoiados pela administração. A maioria destas pessoas submetem-se a essa vergonha, porque sabiam que do contrário perderiam a fonte de seu sustento. O Secretário, nesse caso, não foi de forma alguma espontâneo, ele foi sim, bastante consequente e, quando diz que não é obrigatório que o professor temporário ou o coordenador faça isso, esta na verdade querendo dizer que também não é obrigatório que a administração continue com essa pessoa contratada, caso ela não faça aquilo que foi pedido “espontaneamente”.

Terceiro: Gostaríamos de saber exatamente o que o Sr. Secretário quis dizer quando afirmou que mantém um “diálogo” com todos os envolvidos na educação daquele Município. Dialogar para nós tem a conotação de resolver, discutir aquilo que deve ser discutido em conjunto, respeitando a opinião e a capacidade, a potencialidade dos elementos envolvidos naquela conversa. Como vimos acima, que tipo de diálogo é esse em que alguém, por estar ocupando um cargo a serviço da população, se acha superior a essa população (que por sinal paga seu salário) agindo como um ditador, negando aos professores o direito de colocarem suas opiniões, de realmente poderem fazer uma educação? Como pode existir um diálogo saudável no sentido de que, realmente juntos, possam trabalhar em prol da melhor qualidade na educação de Capistrano, se a Administração ameaça demitir várias das pessoas envolvidas na educação? Que tipo de diálogo democrático, construtivo igualitário pode haver se o Secretário ‘exige’ que os professores temporários saiam às ruas fazendo campanha política? No nosso modo de ver, isto não é ‘dialogar com as partes envolvidas. Mas sim, humilhar os ‘atores’ envolvidos na educação, é não permitir que eles por suas próprias reflexões façam a sua escolha política. Para nós, essa é uma atitude de baixeza de espírito, arrogância e prepotência.

Quarto: Todos esses pontos não acrescentam qualidade alguma à Educação de Capistrano. Contudo, o Secretário fala em contemplar uma “aprendizagem” e que a meta principal é a alfabetização dos alunos. Quem já esteve em uma sala de aula do Ensino Fundamental de Capistrano sabe exatamente – pode até não querer dizer como medo de perseguição política – que nas atuais circunstâncias, é muito difícil que se tenha realmente uma melhora na qualidade da aprendizagem daqueles alunos. Entre os motivos, só para citar alguns como exemplos, a Secretária já chegou a dizer que não tinha condições de xerocar as provas bimestrais de algumas escolas. Em algumas localidades falta o básico, ou seja, professor. Sendo os diretores e coordenadores, algumas vezes, obrigados a assumir a sala de aula. É difícil para nós, entendermos como pode haver incentivo à educação, como pode existir um esforço para melhorar a qualidade da aprendizagem se falta justamente um dos elementos indispensáveis na escola, o professor. É absolutamente triste, vergonhoso saber que uma Administração deixa faltar professor nas salas de aula.

Quinto: Apesar de tudo isso, o Secretário diz que pretender dar incentivo particular para os alunos com dificuldade! É muita hipocrisia. Pois como vimos, falta professor em horário normal de aula, e é comum isso no meio e no final do ano. Imagine então, ter professor extra para atender as dificuldades dos alunos de modo extraclasse. Ele devia ao menos, respeitar as famílias daquelas crianças. Ademais, o Secretário se mostra preocupado com os indicadores. Ou seja, que para o MEC, a educação no Município aparente estar evoluindo qualitativamente. Todavia, queremos só lembrar que, tal interesse não pode ser pelo real crescimento da qualidade da educação no Município, pois se fosse assim, os pontos anteriormente ressaltados, não aconteceriam na realidade. O interesse, porém, é que com altos índices, seja liberada mais verba para a educação do Município, para mais uma vez ser mal gasta.

Nós que fazemos o GPEM, queremos diante dessa pequena nota, apenas mostrar que aqueles que deveriam realmente – pois são pagos para isso – promover a qualidade da educação de Capistrano, estão de fato, piorando-a cada vez mais. Esse é apenas uma alerta a população daquele município, para que procurem cobrar, exigir da Administração providencias sérias com relação a educação, e não apenas discursos.

Ademais, em conseqüência da ânsia de vômito, causada pela memória do modo como essas pessoas oportunistas atuam, retirando o pouco de educação que resta às nossas crianças, queremos apenas lembrar que no passado, presidentes foram depostos e, no presente, ditadores com décadas no poder estão sendo depostos de seus cargos. A história nos mostra que o devir é soberano, e que a mudança é inevitável. Se estas pessoas com poder e representação política de nível internacional caíram, que dirá aqueles de nível municipal.

quinta-feira, 17 de março de 2011

FICHAMENTO

LUKÁCS, Georg. Introdução a uma estética marxista: sobre a Categoria da Particularidade. Rio de Janeiro; Civilização brasileira, 1968.

II – A tentativa de solução de Hegel

“citação direta”

(citação indireta)

[comentário]

· “Este fracasso é causado pela situação histórica daqueles pensadores e pela sua posição em face dos problemas da época” (sobre Kant e Schelling) 35

· “Já Schelling, cujo pensamento se orientava para a compreensão filosófica da evolução, mistificou de modo irracionalista as intuições e as referências então ainda escassas de uma teoria da evolução universal” 36

· “seu pensamento, precisamente no período de máximo florescimento, orientava-se de modo tão decisivo para a filosofia da natureza que lhe faltaram todos os pressupostos para aprofundar tais questões” (sobre Schelling) 36

· “Hegel [...] partiu precisamente da tentativa de compreender filosoficamente as reviravoltas sociais de sua época” 36

· “tão logo ele estende seu método aos fenômenos naturais, surgem nele limites idealistas análogos aos de seus predecessores. [...] como Engels demonstrou para toda a filosofia hegeliana, tais limites derivam da contraposição de sistema e de método” 36-37

· O sistema de Hegel “transforma freqüentemente o desenvolvimento reconhecido pelo método em um desenvolvimento apenas aparente” 37

· “o jovem Schelling esboça uma teoria [...] na qual a natureza é concebida como inconsciente, a história como consciente e sua síntese residiria na arte como atividade consciente-inconsciente” 37

· “o desenvolvimento, ‘a metamorfose não senão ao conceito, pois só a modificação deste é desenvolvimento’” 37

· “Hegel é o primeiro pensador a colocar no centro da lógica a questão das relações entre singularidade, particularidade e universalidade” 37

· O avanço de Hegel deve-se ao fato de ele ter realizado várias “tentativas de compreender filosoficamente as experiências da revolução burguesa de sua época, de encontrar nelas a base da existência de uma dialética histórica” 38

· “a tarefa da revolução, para Hegel, é precisamente a de criar um ordenamento estatal que corresponda as relações sociais reais. Buscando esclarecer filosoficamente esta questão, ele se depara com o problema da dialética histórico-social de universalidade e particularidade.” 38

· Hegel considera o ancien régime como tendo “a pretensão de representar a sociedade como um todo (em lógica: de ser universal), mas um tal Estado serve exclusivamente aos interesses das camadas feudais dominantes (em lógica: do particular)” 38-39

· “a classe revolucionária, a burguesia, o Terceiro Estado, ao contrário, representa na revolução o progresso social, bem como os interesses das outras classes (o particular torna-se universal)” 39

· Como se vê, Hegel transpõe aqui em termos filosóficos as situações sociais e as idéias políticas que as exprimem. Todavia, esta transposição na abstratividade lógica é uma concreta generalização de reais e essenciais motivos da revolução francesa. 39

· [Na verdade Hegel quer mostrar que o aciente regime se diz universal quando na realidade seus interesses são estritamente particulares, ao contrário da burguesia, onde seus interesses são os interesses da coletividade, são interesses universais]

· “Hegel permanecia no terreno dessas ilusões” 40

· (É típico de Hegel tentar resolver filosoficamente problemas sociais e históricos tendo como determinante a Revolução Francesa) 40

· (A categoria ‘positividade’ em Hegel muda no decorrer do amadurecimento de Hegel, o que mostra a importância da base social para a determinação das diferenças filosóficas) 40-1

· “não é a filosofia, portanto, que toma o particular como um positivo, pelo fato de que ele é um particular, mas isto ocorre tão somente na medida em que ele atinge uma parte própria de autonomia fora da conexão absoluta do todo” 43

· “a ‘positividade’ [...] possui primariamente um caráter não filosófico, mas histórico-social” 43

· [Deve entender a categoria ‘positividade’ dentro do problema da universalidade e particularidade. É analisado aqui, por exemplo, que circunstancias o particular ou o universal é positivo, ou em que momento. Sobre isso, Lukács exemplifica em diálogo com Hegel que, se, no caso do feudalismo, ocorre uma grande cisão entre as idéias, o novo (burguesia) se contrapondo ao velho (feudalismo), este último que apenas se pretende universal, mas que segundo Hegel é particular, como cristalizado que está, é tido como ‘positivo’, enquanto que o novo, a burguesia é vista como negativa. Daí os conflitos e a própria revolução. Mas se, ao contrário, dentro do regime feudal, não há possibilidades de outro modelo (do novo), e dessa maneira o feudalismo é hegemônico, como a única forma de eticidade possível. Considerando a escravidão de tal regime bem como outros pontos afins, uma vez entendidos esses pontos, o regime feudal pode ter uma conotação negativa e, ou, positiva se tal situação não perceptiva em sua realidade por quem é partícipe da mesma]

· “a transformação da universalidade em particularidade e, com isto, como vimos, a dialética de universalidade e particularidade é o problema da ininterrupta transformação da sociedade como lei fundamental da história” 44

· [Nota-se, apesar de todo o progresso de Hegel, aspectos bastante idealistas, como por exemplo, o fato dele considerar a universalidade como um momento da idéia produtiva, em um movimento em si e para si.] 44

· [Outros traços desse idealismo, que se relaciona com o anterior, é a forma de Hegel conceber a classe nova que se revela pela Revolução Francesa, ou seja, a burguesia, como a mais evoluída, o topo da evolução das formas de sociedade. Dessa forma, a classe burguesa era tida por ele como gênero (universal), e a sociabilidade “superada”, a feudal, como espécie (particularidade). Entretanto, Lukács ressalta a importante afirmação de Hegel de que devemos conhecer a forma anterior pela posterior, pela mais moderna. E não ao contrário.] 44

· [Cabe aqui a questão: o argumento de que só podemos conhecer as formas anteriores (gerais) partindo das mais evoluídas, é de Marx ou de Hegel?] 44

· [Hegel compreende que o que surge como novo, como a sociabilidade burguesa, de inicio assume características gerais, universais, e que só posteriormente se afirma, e seus pontos concretos se mostram a realidade. Daí segue a dinâmica constante entre seus universais e seus particulares.] 45

· [Hegel depois de sua fase juvenil, abandonou a idéia de que a Revolução Francesa pudesse chegar à Alemanha e trazer, no futuro, transformações. Ele adota, em sua maturidade, o ponto de vista segundo o qual, os eventos progressistas, não apontam para mudanças futuras, mas sim, que eles são já a conclusão, a fase final das mudanças. Dessa forma Hegel não admite mais nenhuma forma de sociabilidade post burguesia.] 46

· [Segundo Lukács, Hegel afirma ser da negação do particular, do determinado que surge o universal. Interessante ressaltar que o particular, como finito, deve necessariamente perecer, é então o particular que nega a si mesmo para daí termos o universal. Dessa consideração de Hegel podemos entender que, necessariamente o universal está presente no particular (em potência e em ato, pois o movimento é eterno), já que este necessariamente deve perecer.] 46

· [Sobre esse ponto acima, podemos lembrar aqui a famosa frase de Spinoza, “toda determinação é uma negação”.]

· [Uma das críticas de Marx dirigidas a Hegel exatamente sobre essa dialética universal e particular, é sobre o fato de que Hegel, apesar de considerar que o particular nega-se a si mesmo, nas lutas “cotidianas”. O próprio Hegel põe o universal como situado fora dessas lutas, como algo transcendente. Ficando assim, fora da história.] 46

· [Interessante notar que, as inconseqüências de Hegel criticadas por Marx são justamente devido a sua descoberta da relação entre trabalho e teleologia.] 48

· [Ao conceber o espírito do mundo como demiurgo da história, Hegel tira do trabalho sua real e necessária função, e o faz por mistificação e generalizações abstratas.] 48

· [Por seu idealismo, Hegel concebe a teleologia antes da vida... como será possível alguém planejar, idealizar algo sem que esse alguém exista?] 49

· [Sobre essa falha de Hegel, Marx faz elogios a Darwin, por seus estudos sobre a evolução da vida mesmo, que contribuíram de forma decisiva para a concepção dialética da história.] 49

· [Lênin diz ser genial o esforço de Hegel em tratar na lógica os problemas da vida. Porém seus limites idealistas causam confusão. Hegel considera, por exemplo, que a natureza é tão somente o estranhamento do espírito, da idéia, uma alienação desta. Dessa forma, Hegel não pode conceber nenhum desenvolvimento no plano histórico, concreto e real, ele o considera apenas na idéia.] 50

· [Hegel chega a afirmar que a vida enquanto posta na natureza é apenas uma exteriorização da existência, enquanto que na idéia ela é uma multiplicidade de formações reais.] 50

· [Hegel, ao considerar para sua dialética universal-particular uma base social determinada, tal como ele entendia, leva a mistificações nesta mesma dialética.] 52

· [Para Hegel, a realidade é a unidade de universal e particular, o ser é determinações do universal.] 52

· [Destacada a influência da economia clássica sobre a filosofia de Hegel. É partindo dessa base que ele analisa a questão do trabalho.] 54

· [Segundo Lukács, a adesão de Hegel à economia clássica, torna-se uma prestação de contas a respeito de suas antigas ilusões heróicas sobre a Revolução Francesa.] 54

· [Hegel destaca que a função dialética desempenhada pelo particular na sociedade de seu tempo, é positiva no sentido da necessidade de renovação daquela sociedade. Contudo, esse mesmo elemento particular nas sociedades antigas fora o motivo de sua decadência.] 55

· [Importante que Hegel não afirma claramente que a dialética do particular seja socialmente condicionada, mas deixa isto implícito, tal como na questão do trabalho.] 55

· [A economia e de Smith e o fato de este ser cristão, serviram para Hegel pensar o presente como o mundo das contradições.] 56

· (O universal atingiu seu pleno reconhecimento através do cristianismo) 56

· [As considerações de Hegel a respeito do universal e particular levando em conta a religião, são ou demonstram, segundo, Lukács, os aspectos falhos da filosofia de Hegel. Contudo, ao menos, pelo fato de ele ter considerado, para esta análise a religião em períodos diferentes, mostra que ele procedeu, ao menos, de maneira histórica. E isso não é pouco, pois indica sua consciência a respeito das determinações históricas.] 56

· [Problema de terminologia faz com que Hegel, por vezes tente entender o presente partindo do passado. Ao invés de classes, ele usa extratos. Isso, segundo Lukács, confunde os limites.] 57

· [Sobre a economia capitalista, Hegel ver também pontos negativos, mas estes não influem de forma decisiva em sua construção conceitual.] 58

· [Sobre diferentes formas de como um individuo, particular, pode pertencer as diferentes camadas sociais, que Hegel chama de extratos, ele cita a sociedade antiga em que o estado mesmo decidia a posição do indivíduo, e cita as castas índias onde o nascimento determina em que estrato da sociedade o indivíduo irá viver.] 58

· [Hegel, se põe contra a questão da universalidade extrair de si mesmo a particularidade, pois segundo ele, quando o indivíduo promove uma finalidade particular, estar promovendo o universal, o universal promove por sua vez a particularidade do indivíduo] 59

· [O homem (particular) com sua capacidade de refletir sobre o seu entorno, diferentemente dos animais, chega a uma infinitude, que na concepção de Hegel é má. Tal gera a desarmonia na sociedade, essa que só pode tornar-se harmônica por via do estado (universal) que domina esses impulsos particulares.] 59

· [Importante destacar que Hegel, tem como origem da dialética universal-particular, a própria realidade. E que os limites de sua lógicas são determinados pela sua posição frente a sociedade] 60

· [Hegel procura delimitar conceitualmente o belo como unidade do teórico e do prático. Entretanto, o teórico, ou seja, o científico, é limitado ao particular] 61

· [Segundo Lukács, Hegel considera o cidadão como sendo universal. Ao que se entende esse cidadão é aquele em função do Estado, que se identifica com o Estado.] 61

· [Ao tentar mostrar logicamente que o monarca contém os três elementos da totalidade, ele de fato usa para tal uma pseudo dialética.] 62

· [É esclarecido que para compreender a importância de Hegel, é necessário estar atento ao que é falso e ao que é justo. Pois, Hegel foi o primeiro a construir uma lógica sobre a dialética de universal-particular-singular.] 63

· [É novamente reforçado por Lukács, e ele tem ao longo do texto exibido provas disso, que o sistema de Hegel corrompe sua dialética, seu método.] 62

· “imediatamente, dado que o universal é apenas idêntico a si mesmo, enquanto ele contém dentro de si a determinação como tolhida, e, portanto, é o negativo enquanto negativo, ele é a mesma negatividade que é a singularidade; e a singularidade, dado que ela é o determinado determinado, o negativo enquanto negativo, é ela mesma imediatamente a mesma identidade que é a universalidade” (Lukács apud Hegel) 63

· [Para Hegel, a determinação é sempre um caminho que leva do universal ao particular (especificação). Para ele, portando, o particular não é um mediador entre universal e singular, mas sim um processo autônomo do movimento da especificação (determinação).] 64

· [Lukács argumenta que, tal idéia de movimento expressa por Hegel, tal como posta acima, já era concebido por Kant. Contudo, para Kant, tal movimento era incognoscível, incompreensivo, enquanto que para Hegel, sendo dialética, a própria das coisas concretas, ela deve ser perfeitamente compreendida pelo intelecto.] 64

· [No fim do parágrafo que termina na pág. 65 existe uma questão a se discutir. Lukács, pelo que deixa entender, vem – mesmo expondo pontos de atraso na filosofia de Hegel –, mostrando ao longo do texto (como se pode perceber em muitas passagens acima) que Hegel, de modo geral, foi metodicamente dialético, pressupõe-se que sua lógica, construída sobre essa dialética de universal-particular-singular, deva ser (como Lukács mesmo afirma em alguns trechos) uma lógica dialética. Todavia neste momento ele questiona sobre as limitações de uma lógica formal de Hegel. Bom a questão é saber qual a relação entre lógica formal e lógica dialética (ontológica).] 65

· [A grande diferença entre a lógica de Hegel e a lógica de seus antecessores, é exatamente o fato de que, nos anteriores, a lógica inicia-se com o conceito. Enquanto que, para Hegel, o conceito é a culminação de uma série de determinações lógicas. É por isso que Hegel chama de conceito concreto e total.] 65-7

· [É óbvio que não é possível explicar e muito menos entender a lógica do conceito de Hegel com esse esquema. Este serve apenas como maneira de visualizar o comentário que o precede.]

· [Segundo Lukács, Hegel afirma ser a singularidade, o determinado determinado. a particularidade é universalidade determinada (particular). Ou seja, determinação referindo-se a si mesmo. Dessa forma, a particularidade pressupõe a singularidade.] 66

· [Interessante destacar que nesse ponto a dialética rompe com o empirismo e com o nominalismo, onde estes consideram apenas o singular com ‘concreto’, sendo o universal e o singular puras abstrações.] 66

· [Ainda sobre a questão da singularidade, Lukács destaca novamente o idealismo de Hegel pelo fato deste recusar que se possa chegar ao universal por meio da extração dos traços comuns. Sobre isso, é importante fazermos a seguinte reflexão: como se chega a idéia de fruta? O que determina tal conceito?] 67

· [A atenção de Hegel para não cair no idealismo subjetivista, força-o várias vezes a um enrijecimento de sua filosofia, ao contrário da dialética materialista que por considerar o concreto como um movimento continuo, pode dessa maneira considerar o objetivo com muito mais flexibilidade e de modo muito mais dialético, sem, contudo cair naquilo que Hegel temia, no subjetivismo.] 67

· [Segundo Lukács Hegel organiza assim as categorias: “o universal assume o particular e o singular debaixo de si, o singular assume em si o particular e o universal, o particular assume o universal”] 68

· [Lukács destaca o fato de Hegel ter colocado a particularidade no seu devido lugar] 68

· [Por fim, para se utilizar as geniais descobertas de Hegel na ciência, é preciso tirar delas a visão idealista burguesa.] 71

terça-feira, 15 de março de 2011

FALTA MEDICAMENTO BÁSICO NO HOSPITAL DE CAPISTRANO

As pessoas que necessitam de medicamentos básicos, estão sofrendo com a falta destes no município de Capistrano – CE. Muitos que sofrem de hipertensão, diabetes entre outros problemas, reclamam que, após receberem a receita, se dirigem a farmácia do hospital para receberem seus comprimidos, mas frequentemente dão a viagem perdida, pois ficam sabendo que o medicamento do qual precisam acabou. O que mais chama a atenção, é que os medicamentos que faltam na farmácia são justamente aqueles mais comuns, e que são mais usados e que, por isso mesmo não deveriam faltar. Pois há muitas pessoas, principalmente senhores e senhoras de idade avançada, que não têm condições de pagar por estes medicamentos. Um dos comprimidos que falta frequentemente na farmácia pública é a sinvastatina.sinvastatina

Mas, segundo relatos de usuários da farmácia publica de Capistrano, falta até AS Infantil. Quem sofre com tal situação são as pessoas mais necessitadas, que ficam a mercê da falta de compromisso dos gestores municipais.

O GPEM alerta, esta situação não se resolverá enquanto a população não se dispor a cobrar realmente do Secretário de saúde e do Prefeito Municipal, que tomem de uma vez por todas um posicionamento firme para solucionar este problema. A população não deve abrir mão do direito de ter o mínimo de assistência com relação à saúde.

O GPEM cumprirá sua função social, e não deixará de alertar pelo menos aos que tem acesso a Internet, pois essa situação é prejudicial à camada mais carente de Capistrano e precisa ser resolvida. Ademais nossa intenção é tão somente tornar público, divulgar. Não queremos de maneira alguma prejudicar nenhum “cidadão” daquele Município.

segunda-feira, 14 de março de 2011

AVISO

CC

FICHAMENTO

INTRODUÇÃO À CONTRIBUIÇÃO PARA A CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARX (1859)

Produção, Consumo, Distribuição, Troca (Circulação)

1. Produção

a) O objeto a considerar em primeiro lugar é a produção material

· O ponto de partida deve ser a produção de indivíduos socialmente determinada.

· Os profetas do século XVIII sob os quais se apóiam Smith e Ricardo tomam o homem que surgia nesse período não como produto das relações anteriores em dialética com a nova que surgia, mas sim como o começo da história.

· Marx diz que quanto mais recuarmos na história veremos sempre o individuo (o produtor individual) dentro de um grupo, dependendo diretamente ou indiretamente. Primeiro o individuo naturalmente é membro da família (família aqui não tem as conotações psicológicas e sociais modernas do termo), depois da ampliação da família, ou seja, a tribo. Em seguida ele é parte de uma comunidade de tribos que se formam, de modo geral pelo antagonismo e pela e afinidades entre as diversas tribos. Apenas na sociedade moderna, a “tribo”, ou o conjunto é visto como algo exterior, o qual é buscado apenas como meio de se obter vantagens financeiras, e não mais com o espírito de interdependência de outrora.

· Justamente quando na sociedade surge essa idéia de indivíduo isolado, é que as relações entre homens estão de modo geral mais universalmente postas. Sobre isso, basta atentarmos para a própria produção onde certos produtos para serem finalmente consumidos dependem de várias pessoas em diferentes países. Lembremos também das comunicações. Veja a contradição, quando mais dependentes estamos em um contexto global, mais forte é a cada dia a idéia de cada um por se, de você pode, só depende de você!

· O homem não é apenas um animal social, mas político também. Ele apenas pode individualizar na coletividade.

· É idéia completamente absurda que a produção possa desenvolver-se em um indivíduo isolado, assim como é igualmente absurdo que a linguagem desenvolva-se sem que existam homens com a necessidade (fundada no trabalho) de utilizá-la.

· A produção em geral é uma abstração que tem um sentido fundado na produção particular, concreta.

· Todos os períodos da produção diferem-se entre si, mas também têm traços comuns.

· Nunca podemos esquecer-nos das diferenças existentes entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre o indivíduo e a natureza, pois isso conduz a grandes falseamentos da realidade. Os economistas modernos devem toda sua argumentação ao esquecimento dessas diferenças.

· Ressalta a importância de distinguir claramente entre: produção em geral, ramos particulares de produção e a totalidade da produção.

· Os livros ou teóricos da economia moderna, sempre querem mostrar, ao tratarem da economia, as condições sem as quais seria impossível a produção, e as características que podem ampliar ou reduzir a produção. Como por exemplo, o clima, a proximidade de lagos etc.

· Tais teóricos da economia moderna também procuram mostrar que a produção é determinada por leis eternas da natureza. a conseqüência disto é a afirmação da atual sociabilidade burguesa como natural, não podendo assim, ser alterada. Enquanto isso, eles, os economistas modernos, tomam a distribuição como arbitrária, de modo que esta pode se realizar conforme a vontade do indivíduo. Marx exemplifica sobre a distribuição que, tanto o escravo, como o servo, o empregado, o clero etc... ambos recebem uma parte da produção social, contudo, as leis que regem a distribuição da produção que chega até o clero é diferente das leis que regem a produção que chega ao escravo. Apesar disso, o mesmo dito antes sobre características comuns aos vários modelos de produção que se deram ao longo da história, também aqui, com relação a distribuição da renda, existem pontos comuns entre as distribuição de renda na sociedade escravista e no capitalismo.

· A argumentação desses economistas modernos de acordo com o posto acima produz várias tautologias, como exemplo, dizem eles que a propriedade é condição para a produção. Primeiro que toda produção é apropriação da natureza por um indivíduo no seio de uma determinada sociedade.

· Com relação a proteção da propriedade, hoje, os capitalistas preferem a policia do que a antiga lei do mais forte. Mas eles esquecem que, cada forma de produção gera a suas próprias leis, e que, atualmente, o que eles chamam de Estado da Lei, é apenas a aplicação da lei do mais forte.

2. As relações gerais entre a produção e a distribuição, a troca e o consumo.

· A produção é determinada por leis gerais da natureza, a distribuição se dá segundo contingências sociais que podem até certo ponto interferir ou motivar a produção. A troca é uma espécie de termo médio, que é socialmente “determinado”, e por fim, o consumo é o ato final, que situa-se fora da economia política.

· Os economistas são acusados por seus inimigos de separarem partes do todo ao procederem às suas análises.

a) Produção e consumo

· Toda produção é consumo. Ao se produzir algo, existe o consumo da força mesmo de quem realiza o ato, bem como das ferramentas etc.

· Só existe consumo com produção, mas só existe produção com consumo. Tem-se portanto uma relação dialética. A produção é imediatamente consumo, e este é imediatamente produção. Marx exemplifica com os trilhos de um trem. Se por eles não passa nenhum trem, se eles de maneira alguma são utilizados, se no meio onde pode estar não tem nenhuma relação produtiva com a natureza, nós podemos até dizer que estes trilhos existem apenas na idéia, pois eles não têm nenhuma finalidade. Assim, para que produzir se ninguém irá consumir? E o que quê consumir se não há nada produzido?

· Sobre essa dinâmica acima, Marx diz: “cada um é imediatamente o seu contrário”.

· O consumo influi na produção de duas maneiras, primeiro que, o produto só é produto no ato do consumo, ou seja, através deste. Isso por si só, influencia na produção. Segundo porque, a produção tem o objeto manifesto no seu ato, mas o consumo, o consumir produz na idéia o objeto da produção e, uma vez que esta ultima existe para o consumo, ela é alterada pelo consumo e por sua vez o altera. É um circulo dinâmico. Marx ressalta, todavia, que o consumo reproduz as necessidades.

· Mar argumenta que, a produção determina, ou seja, predomina sobre o consumo. Ela acaba criando o consumidor, moldando-o. Podemos entender isso da seguinte maneira: todas as pessoas têm necessidades básicas, como alimentar-se, por exemplo. Mas existem outras de segunda ordem que já não compõem o básico, e que são, na verdade postas do exterior para dentro do consumidor. Um exemplo são os celulares, que estão praticamente se superando a cada dia, e a cada novo lançamento o indivíduo sente a necessidade de possuir aquele novo modelo. Nesse caso, a produção de aparelhos celulares, por meio da mídia, molda aquela pessoa para que ela consuma não o modelo anterior, não o de outra marca, mas aquele específico, determinado aparelho. Assim há diferentes tipos de produção, e diferentes tipos de consumo ou consumidores. Marx diz sobre isso que a fome apesar de parecer universal, tem suas particularidades, pois a fome que é saciada em restaurante com carne bem preparada, com gafo e facas, é diferente daquela fome que é saciada nos lixões com pedaços de carne semiputrefadas, agarrados com as próprias mãos.

· Marx diz que a produção cria um sujeito para o objeto.

· A produção, porém não é apenas imediatamente consumo, e nem o consumo é apenas imediatamente produção. Um não só o meio para o outro, e o outro não é só o fim do primeiro. Mas sim, quando o consumo se realiza em sua determinação, ele realiza a produção. Eles realizam-se ao mesmo tempo, o próprio produtor só é tal quando o consumidor absorve o produto (objeto) da produção realizada pelo produtor (geral e particular).

· É especificado aqui que, a produção prepondera sobre o consumo. Este último é elemento interno no processo de produção. Deve-se ficar alerta portanto, com aqueles que identificam diretamente produção com consumo.

· Destacamos aqui a dialético constantemente presente no argumento marxista. Vemos a fidelidade de Marx ao seu próprio método. Tal procedimento não obscurece, não torna impossível o entendimento da realidade, não a mistifica, pelo contrário, é o que mais chega próximo da realidade do movimento.

· A distribuição é a mediação entra produção e consumo (a priori se dá por contingências sociais).

b) Distribuição e produção

· Os economista correntes (da época de Marx) tomam o capital como determinante da produção. Eles não tomam o salário como trabalho assalariado. De forma semelhante não tomam a renda imobiliária como forma evoluída da propriedade agrária rural, mas sim pressupondo apenas a terra limpa e seca.

· A distribuição é determinada pela produção, é um momento no processo de produção. A distribuição lida com o objeto produzido. Ao mesmo tempo, o modo como um determinado grupo participa da produção, especifica particularmente a parcela da produção que caberá a esse grupo.

· Interessante ressaltar que pelo fato do indivíduo ao nascer, depender da parcela que lhe é socialmente cabida para poder ativamente produzir, lhe faz imaginar que a distribuição vem antes da produção. Quando na verdade a primeira já foi estabelecida antes pela segunda.

· Marx procura mostrar exemplos históricos pelos quais, a má interpretação dos economistas modernos pode levá-los a crer que a produção é eterna, e apenas a distribuição é histórica. Como exemplo podemos imaginar a colonização de uma terra, onde os colonizadores definem as partes da terra que caberá a cada colono para que este possa produzir, ou, em outro caso, se os colonizadores escravizarem os nativos para sobrevirem do trabalho destes (como no caso da maior parte da áfrica). Nestes exemplos somos levados a entender que de fato, é a distribuição que determina a produção, ou, que a distribuição é histórica e a produção não.

· Na colonização três possibilidades são postas: primeiro o colonizador impõe sua produção aos colonizados; segundo, os colonizadores deixam permanecer a produção já existente e cobram apenas tributos e em terceiro, há uma correlação entre ambas as partes, de modo que gera uma nova produção, diferente daquela do colonizador e daquela dos colonos.

· Nas três possibilidades postas, ou seja, nas três maneiras diferentes de distribuir ou, no caso, redistribuir a produção, já pressupõe uma produção anterior.

· Marx esta sempre defendendo a produção material como fator preponderante sobre todos os demais. É o que nos deixa entender quando afirma que, para pilhar um povo, tribo, nação, ou qualquer outra forma de agrupamento, é necessário antes que nesse local exista algo a ser pilhado, ou seja, que já exista algo produzido. E até a própria forma de pilhagem é preponderantemente definida pela produção. Pois não se pilha a bolsa de valores da mesma maneira que se pilha uma sociedade escravista. Quem irá querer tomar escravos de uma região e levar para outra onde o escravo não será aceito como tal?

c) Troca e produção

· A troca, bem como o consumo e a distribuição, é um momento da produção. Assim, sem troca ninguém irá produzir, mas só há troca se houver um produto a ser trocado. Assim, a produção prepondera sobre o momento da troca.

· Concluí-se, portanto, que a produção, a distribuição, a troca e o consumo, não são idênticos. Todos esses elementos constituem-se como a diversidade no todo, são particularidades que formam a universalidade. Sendo que, a produção prepondera sobre os demais, existindo assim, não uma divisão entre eles por serem cada um, uma dada particularidade, mas sim que, todos estão em interação entre si.

3. O método da economia política.

· Geralmente os economistas ao analisarem a economia de um país partem do que eles entendem como sendo concreto, ou seja, partem da população, suas divisões em classes etc., contudo, tal modo de prosseguir é errado, pois é abstração considerar a população fora de todas as relações que a torna existente realmente. Assim, considerar o Capital sem produção, sem troca, sem valor, sem consumo, é querer analisar a partir de abstração pura.

· O método científico correto precisa considerar todas as relações. Determinações simples dentro desse conjunto possibilitam conhecer a estrutura como um todo.

· O concreto é concreto porque que é a síntese de múltiplas determinações, é a unidade do diverso. Segundo Marx, ele aparece ao pensamento como processo de síntese e não como ponto de partida, embora seja realmente o ponto de partida, inclusive das intuições e representações do pensamento.

· Hegel, sobre o dito acima, considerava o concreto como resultado do pensamento, assim, toda tentativa de ir do abstrato ao concreto, ou de se conhecer profundamente a realidade, consiste apenas em um movimento interno do pensamento, de si, em si, e para si.

· Todavia Hegel tem razão em iniciar a sua filosofia do direito pela posse. Se bem que a posse pressupõe uma forma de estado, mesmo o mais simples, ou seja, a família. Assim, existem famílias ou tribos que possuem, mas não tem propriedade. Assim, não parece correto que um selvagem que possua mas não tenha propriedade evolua para a família.

· Marx destaca o avanço na forma de conceber a riqueza. Primeiro concebia-se o dinheiro como fonte da riqueza, em seguida, os fisiocratas concebiam como fonte de riqueza o trabalho, mas um trabalho determinado, o trabalho agrícola. Em seguida, a concepção de Adam Smith, de que a riqueza pertence ao trabalho, ao trabalho em geral. Contudo Marx argumenta que Smith as vezes tende a aproximar-se dos fisiocratas.

· As abstrações mais gerais só podem surgir quando há um desenvolvimento do concreto. Nesse caso, o trabalho – antigo como ele é – só pode se tornar categoria geral abstrata enquanto fonte de riqueza, quanto se realizou como tal na sociedade moderna.

· Marx enfatiza – questão de método – que a sociedade burguesa é a mais evoluída forma de produção – obviamente não implica que seja a ultima – pela qual podemos entender as formas anteriores.

· Contudo, por exemplo, a economia burguesa só entende a feudal, com a qual lutou se realizar uma crítica a se mesmo. Semelhante aconteceu com relação a religião, como na crítica do protestantismo ao catolicismo, ou ainda do cristianismo ao paganismo.

· Ao ter certo entendimento do atual, podemos criticar e entender a anterior. Ao fazer isso, entendemos melhor a atual.

· Não podemos considerar que uma sociedade existe a partir do momento em que se fala sobre ela, especificamente. Toda sociedade é dada na realidade e na mente e, em toda sociedade existe uma forma de produção determinada e com seus limites.

· Devemos (questão de método) analisar o capital isoladamente, depois a propriedade agrária, e em seguida todas as suas relações.

· As categorias assumem posições diferentes segundo as sociedades nas quais as consideramos.

· Marx, ao utilizar a arte para clarear seu método, diz que, cada arte é determinada por seu contexto histórico e social. A arte grega é fruto daquela época grega, baseada numa forma mitológica de compreender a natureza. Essa forma é incompatível com a do renascimento, neste, a mentalidade do artista é dominado pelas idéias iluministas que apontavam para o capitalismo – apesar de ainda conservar traços míticos em segundo plano. Contudo, o que é interessante nestas artes gregas (antigas, de outros períodos anteriores), é que mesmo nossa mentalidade sendo dominada pelas atuais formas de sociabilidade, estas obras gregas ainda nos causa prazer estético. (provavelmente, como explica Lukács, por elas terem, apesar de ter seus limites históricos e sociais, ou seja, suas especificidades, alcançado um caráter universal.

sábado, 12 de março de 2011

QUEREMOS VER A REAÇÃO…

CARTAZ1

Este é apenas um rascunho de cartaz, não temos nada marcado, mas a ideia é verdadeira. Esperamos que os interessados se manifestem, sabemos que existem pessoas por perto que estão muito bem capacitadas para por em prática essa ideia. Estamos completamente abertos a discutir a melhor maneira de concretizar esta ideia que, sem dúvida, muito contribuirá para a comunidade.

 

Aguardamos…

gpem2@yahoo.com.br

REFLEXÕES SOBRE A PRIMEIRA AULA DA DISCIPLINA ONTOLOGIA DE LUKÁCS, DO MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO–UFC/UECE

 

Em muitos aspectos eu invejo o meu pai, um deles, é a incrível capacidade de fazer cálculo mental e conseguir pensar rápido sobre determinado problema. Talvez pareça uma habilidade boba, mas é exatamente por eu não dispor dela, que somente agora, passado vários dias, posso tecer minhas considerações (bastante simples, por sinal) sobre a primeira aula da disciplina de Ontologia de Lukács, ofertada pelo mestrado acadêmico em educação da UFC, que terá como ministrantes os professores Deribaldo e Frederico.

Como esta comunicação é informal, vou me dar o luxo de não usar as exigências da ABNT, que por sinal, são enfadonhas e chatas mesmo. o pessoal que as faz, parecem nunca satisfeitos, estão sempre acrescentado, tirando… é incrível. Até Marx teria dificuldade para compreender a dialética da ABNT. Assim, estarei ao menos por alguns minutos livre dela, dessa forma, quem tiver alguma leitura de Lukács, Marx, Hegel, etc. saberá com maior precisão a quem pertence tal argumento ou categoria. Quem não tiver tal leitura, procure conhecer, pois apesar de parecer apenas um punhado de palavras abstratas, podem ser úteis, bastante úteis para se compreender a realidade.

Pois bem, na verdade (realidade), meus comentários dizem respeito especificamente sobre dois pontos (apesar de a aula ter sido riquíssima), o primeiro deles, consiste na fala do professor Deribaldo, quando este afirmou que a ciência é desantropomorfizada, querendo com isso, como foi entendido, expressar que ela (a ciência) estar fora do sujeito (homem). Como exemplo, na ocasião, o professor disse que a água é H2O, é ciência e esta posta na natureza independente da nossa vontade, querendo ou não ela é H2O.

No momento, houve protestos de alguns dos participantes. Mas vejamos com um pouco mais de calma a questão. Bem, para ser rigoroso, H2O não é ciência. Todavia, sem a ciência, sem o método científico, estes átomos, em si, elementos da natureza “bruta”, não teriam para o homem o significado que tem. Mas estes não deixam de estarem concretamente na natureza se não forem conhecidos pelo homem através de determinado método. Contudo, a ciência enquanto busca para apreender a realidade, não existe sem o homem. Assim, esse processo é humano, do homem, mas só é como tal porque existe a natureza geral exterior a ele, ao mesmo tempo em que ele é parte dessa natureza, bem como H2O, água, líquido da vida, enfim, como queiram.

Assim, a ciência não é desantropomorfizada, ou, rigorosamente, ela não é apenas imediatamente desantropomorfizada. Pois, a ciência pressupõe um nível, mínimo que seja, de desenvolvimento das sociedades, e pressupõe a natureza de modo geral. Ninguém procurará desenvolver a vacina contra a AIDS se não existir alguém que tenha contraído a doença, bem como, se não existir o vírus causador dessa doença. O que dirá então, se nesse contexto inserirmos as ciências sociais? Nesse caso, teremos outra confirmação de que não existe uma ciência exterior ao homem. Assim, é coerente afirmar que, a ciência (como busca pela apreensão da realidade) deve sempre procurar isentar-se das paixões humanas (principalmente nas ciências da ‘natureza’). Dessa forma, e só assim, ela pode ser desantropomórfica, no sentido de ser sempre uma tentativa de livrar-se de preconceitos sobre o objeto.

Bem, existe uma série de problemas a esclarecer sobre isso, mas, por enquanto, se quiser entender bem tal questão precisa-se considerar o princípio básico da dialética. Ou seja, considerar todas essas categorias em intercâmbio, em uma interdependência, preponderando sempre sobre os demais, a natureza material, concreta. Dessa maneira, a ciência não é estritamente antropomórfica, porque apesar de ser um processo humano, ela (ciência) depende dos elementos da natureza exterior ao homem (e do próprio cotidiano deste). Todavia, na era glacial, existia H2O, mas não havia ciência. Bom, sinteticamente é isto, claro que ainda bastante incompleto, pois, para ser mais claro teríamos aqui que analisar o problema de forma histórica considerando todas as mediações.

Em segundo lugar, eu mesmo, na ocasião da aula fiz a observação (partindo de comentários relacionando arte e educação) de que, não é função da arte fazer alguém se sentir bem espiritualmente ou materialmente, bem como não é seu papel educar. Sobre esse argumento, se contrapôs a fala de uma estimada professora de minha graduação, onde esta, pelo que ficou entendido, defendeu que a educação tem si, um papel educativo.

Pois bem, não sou crítico de arte, e muito menos artista. Por isso invocarei (adoro essa palavra, me lembra o Elogio da loucura – Erasmo de Roterdã) Lukács. Em sua Introdução a uma estética marxista, Lukács deixa claro que a arte, ou, para usar seu termo, o reflexo estético não tem compromisso em esclarecer a realidade. Este é justamente o principal ponto que diferencia arte de ciência. Segundo o esteta, no movimento particular-universal-particular, que é característico da arte autentica, é mediado pelo singular. Contudo, essa mediação não é fixa, o que de certo modo, constitui a peculiaridade da arte. Na ciência, a intenção é justamente aproximar-se das determinações concretas para daí ter-se a universalidade do conceito. Na arte não há nenhuma necessidade imediata de especificar o real, as particularidades, nem tão pouco os universais. Na religião, busca-se o universal, deus.

A educação institucional tem por sua vez, o dever de trabalhar com base na ciência, ou seja, ele deve buscar uma aproximação do real, o que se diferencia como visto, da pretensão da arte. Contudo, o próprio Lukács explica que toda arte, quando autêntica, trabalha elementos importantes de seu contexto histórico e social.

Assim, a arte não tem pretensão de educar. O cientista, apesar de toda intencionalidade, dos cálculos prévios, não consegue ter o absoluto domínio do fim, que dirá o artista. O engenheiro sabe que ao final de seu trabalho existirá uma determinada casa, e todos que ao final observarem o produto de sua ação saberá que é uma casa e que serve exatamente para abrigar. A obra de “arte” necessita, ainda muito, do campo homogêneo do observador para ser compreendida como arte. Depende da educação dos sentidos. Todavia, a arte tem seu conteúdo próprio, principalmente quando autêntica, partindo, como disse Lukács, de elementos importantes do cotidiano. Dessa forma, não-institucionalmente, somos educados no contado com ela, assim como somos no convívio com toda a sociedade e seus elementos constituintes, no sentido de apreender algo novo pela experiência do contato. Contudo, é incoerente afirma que a arte tem a função de educar.

Por enquanto (questão de método), quero afirmar que, o que está posto acima, são apenas comentários, não tem nenhuma pretensão de verdade. Na realidade, são apenas inquietações que, como tais, podem despertar outras.

 

Antonio Nascimento da Silva

gpem2@yahoo.com.br

terça-feira, 8 de março de 2011

O QUE É DIALÉTICA (FICHAMENTO)

 

KONDER, Leandro. O que é dialética. 25ª edição. Editora brasiliense, 1981.

ORIGENS DA DIALÉTICA

· Na Grécia antiga dialética era a arte do discurso.

· “Aristóteles considerava Zênon de Eléa (aprox. 490-430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideram Sócrates (469-399 a.C.)”

· “Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: é o modo de pensarmos as contradições da realidade”

· “No sentido moderno da palavra, o pensador dialético mais radical da Grécia antiga foi, sem dúvida, Heráclito de Efeso (aprox. 540-480 a.C.)”

· “Parmênides ensinava que a essência profunda do ser era imutável e dizia que o movimento (a mudança) era um fenômeno de superfície”

· “Essa linha de pensamento - que podemos chamar de metafísica - acabou prevalecendo sobre a dialética de Heráclito”

· “Aristóteles, por exemplo, um pensador nascido mais de um século depois da morte de Heráclito, reintroduziu princípios dialéticos em explicações dominadas pelo modo de pensar metafísico”

· “Segundo Aristóteles, todas as coisas possuem determinadas potencialidades; os movimentos das coisas são potencialidades que estão se atualizando, isto é, são possibilidades que estão se transformando em realidades efetivas”

· “Nas sociedades feudais, entretanto, durante os séculos da Idade Média, a dialética sofreu novas derrotas e ficou bastante enfraquecida.”

· “A ideologia dominante - a ideologia das classes dominantes - era monopólio da Igreja, elaborada dentro dos mosteiros por padres [...]Por isso, a dialética foi sendo cada vez mais expulsa da filosofia”

· “Um dos ideólogos mais famosos do Século XI, Petrus Damianus (1007-1072), dizia que, para o ser humano, a única coisa importante era a salvação da sua alma;”

· “O árabe Averróes e o francês Abelardo' procuraram, por caminhos muito diferentes, defender o espaço da filosofia, sem desafiar a teologia.”

· “Abelardo (1079-1142) conseguiu discutir longamente sobre as relações entre as categorias universais e as coisas singulares em termos de pura lógica, -mostrando assim, na prática, que existiam problemas importantes cuja abordagem não precisava da teologia”

· “Occam sustentava que, exatamente porque Deus é todo-poderoso e porque a vontade de Deus não pode ter limites, tudo no mundo é contingente, tudo poderia ser diferente do que é (se Deus quisesse); por isso, a teologia (que tratava de Deus) não devia interferir - segundo Occam - no estudo das coisas contingentes do mundo empírico”

· “O astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) descobriu que Ptolomeu tinha-se enganado, que a Terra nem era imóvel nem era o centro do universo, que ela girava em torno do Sol.”

· “Galileu (1564-1642) e Descartes (1596-1650) descobriram que a condição natural dos corpos era o movimento e não o estado de repouso”

· “Pico de Ia Mirandola (1463-1494) sustentou que o fato de o homem ser "inacabado" e, portanto, poder evoluir lhe conferia uma dignidade especial e lhe dava até certa vantagem em comparação com os deuses e anjos (que são eternos, perfeitos e por isso não mudam)”

· “Com o Renascimento, a dialética pôde sair dos sobterrâneos em que tinha sido obrigada a viver durante vários séculos”

· “O caráter instável, dinâmico e contraditório da condição humana foi corajosamente reconhecido por um pensador místico e conservador, como Pascal (1623-1654)”

“o.

· italiano Giambattista Vico (1680-1744), também ajudou a dialética a se fortalecer. Vico achava que o homem não podia conhecer a natureza, que tinha sido feita por Deus [...]mas sustentava que o homem podia conhecer sua própria história, já que a realidade histórica é obra humana, é criada por nós”

· “Elementos de dialética se encontram no pensamento de diversos filósofos do Século XVII, como Leibniz (1646-1716), Spinoza (1632-1677), Hobbes (1588-1679) e Pierre Bayle (1647-1706) [...]Montaigne (1533-1592)”

· “ó maior dos filósofos iluministas é também o autor de uma obra rica em observações de grande interesse para a concepção dialética do mundo: Denis Diderot (1713-1784)”

· “"Todos os seres circulam uns nos outros. Tudo é um fluxo perpétuo. O que é um ser? A soma de um certo número de tendências. E a vida? A vida é uma sucessão de ações e reações” (Diderot)

· “Diderot aconselhava seus leitores: "Examinem todas as instituições políticas, civis e religiosas; ou muito me engano ou vocês verão nelas o gênero humano subjugado, a cada século mais submetido ao jugo de um punhado de meliantes", E recomendava: "Desconfiem de quem quer impor a ordem"”

· “Uma das obras mais famosas de Diderot é O Sobrinho de Rameau [...]o resultado é um confronto fascinante, que Hegel e Marx consideraram um primor de dialética.”

· “Ao lado de Diderot, quem deu a maior contribuição à dialética na segunda metade do Século XVIII foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).”

· “Por isso se entende que no Século XX um conservador radical - Maurice Barres - tenha escrito que Diderot e Rousseau (duas "forças de desordem") são responsáveis por muitos dos . males que nos afligem”

O TRABALHO

· No final do Século XVIII e no começo do Século XIX, os conflitos políticos já não eram mais abafados nos corredores dos palácios e estouravam nas ruas.”

· Essa situação se refletiu na filosofia [...]que se elaborava na longínqua cidade de Kõnigsberg, na Prússia oriental (hoje a cidade se chama Kaliningrado e fica na União Soviética), onde nasceu, viveu, escreveu e morreu aquele que provavelmente é o maior dos pensadores metafísicos modernos: Imanuel Kant (1724-1804).”

· Kant percebeu que a consciência humana não se limita a registrar passivamente impressões provenientes do mundo exterior [...]Sustentou, então, que todas as filosofias até então vinham sendo ingênuas ou dogmáticas, pois tentavam interpretar o que era a realidade antes de ter resolvido uma questão prévia: o que é o conhecimento?”

· Kant percebeu que “na própria "razão pura" (anterior à experiência) existiam' certas contradições - as "antinomias" - que nunca poderiam ser expulsas do pensamento humano por nenhuma lógica.”

· “Outro filósofo alemão, de uma geração posterior, demonstrou que a contradição [...]era um princípio básico que não podia ser suprimido nem da consciência do sujeito nem da realidade objetiva. Esse novo pensador, que se chamava Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)”

· Para Hegel o ponto “central da filosofia era a questão do ser, mesmo, e não a do conhecimento.”

· “Hegel descobriu, então, com amargura, que o homem transforma ativamente a realidade, mas quem impõe o ritmo e as condições dessa transformação ao sujeito é, em última análise, a realidade objetiva”

· “Hegel percebe que o trabalho é a mola que impulsiona o desenvolvimento humano; é no trabalho que o homem se produz a si mesmo; o trabalho é o núcleo a partir do qual podem ser compreendidas as formas complicadas da atividade criadora do sujeito humano.”

· “Hegel usou a palavra alemã aufheben, um verbo que significa suspender. Mas esse suspender tem três [...]negar, anular, cancelar; [...]erguer alguma coisa e mantê-la erguida para protegê-la [...]E o terceiro sentido é o de elevar a qualidade. [...]Hegel emprega a palavra com os três sentidos diferentes ao mesmo tempo.”

· “Para ele [Hegel], a superação dialética é simultaneamente a negação de uma determinada realidade, a conservação de algo de essencial que existe nessa realidade negada e a elevação dela a um nível superior.”

· No trabalho “a matéria-prima é "negada" (quer dizer, é destruída em sua forma natural), mas ao mesmo tempo é "conservada" (quer dizer, é aproveitada) e assume uma forma nova, modificada, correspondente aos objetivos humanos (quer dizer, é "elevada" em seu valor).”

· “parte da obscuridade de Hegel resultava do fato de ele ser idealista. Hegel subordinava os movimentos da realidade material à lógica de um princípio que ele chamava de Idéia Absoluta”

· “surgiu outro pensador alemão, Karl Marx (1818-1883), materialista, que superou - dialeticamente - as posições de seu mestre”

· Essa concepção abstrata do trabalho levava Hegel a fixar sua atenção exclusivamente na criatividade do trabalho, ignorando o lado negativo dele, as deformações a que ele era submetido em sua realização material, social”

A ALIENAÇÃO

· “O trabalho - admite Marx - é a atividade pela qual o homem domina as forças naturais, humaniza a natureza; é a atividade pela qual o homem se cria a si mesmo”

· “Como ele chegou a se transformar em "uma atividade que é sofrimento?”

· “Uma primeira causa dessa deformação monstruosa se encontra na divisão social do trabalho, na apropriação privada das fontes de produção, no aparecimento das classes sociais”

· “Uma primeira causa dessa deformação monstruosa se encontra na divisão social do trabalho, na apropriação privada das fontes de produção, no aparecimento das classes sociais”

· “As condições criadas pela divisão do trabalho e pela propriedade privada introduziram um "estranhamento" entre o trabalhador e o trabalho”

· “em lugar de reconhecer-se em suas próprias criações, o ser humano se sente ameaçado por elas”

· “O padre Henri Chambre, por exemplo, admitiu que, partindo da concepção do homem como um ser que se cria através do trabalho, não se pode negar validade à crítica de Marx à propriedade privada”

· “Mas os marxistas têm boas razões para replicar que, na medida em que rejeitam a dialética, os cristãos se privam de um instrumento eficientíssimo na análise dos problemas humanos, perdem boas possibilidades de agir com eficácia no plano político e acabam desperdiçando energias na retórica dos bons conselhos, na pregação moralista e em projetos ingênuos ("idealistas") de reforma dos costumes e das "mentalidades"”

· “As lutas de classes assumem formas extraordinariamente variadas [...]Nas sociedades capitalistas, as lutas de classes tendem a assumir formas políticas cada vez mais complicadas”

· “O capitalismo é como aquele aprendiz de feiticeiro que colocou em movimento forças que em seguida escaparam ao seu controle”

· “Pela primeira vez os anseios e ideais igualitários, coletivistas, socialistas, comunistas, dispõem de um portador material capaz de colocá-los em prática, através de uma prolongada luta política”

· “Os trabalhadores, além de viverem sob a ameaça da perda do emprego, são obrigados a se organizar e a lutar para defender seus salários; e o fato de tomarem consciência de que já existe uma alternativa socialista e de que a organização da produção poderia ser diferente é um fato que só pode agravar o mal-estar que sentem no trabalho”

· A burguesia “Como classe, na atual etapa histórica, ela não consegue elevar seu ponto de vista a uma perspectiva totalizante”

A TOTALIDADE

· Para a dialética marxista, o conhecimento é totalizante e a atividade humana, em geral, é um processo de totalização, que nunca alcança uma etapa definitiva e acabada”

· “Qualquer objeto que o homem possa perceber ou criar é parte de um todo. Em cada ação empreendida, o ser humano se defronta, inevitavelmente, com problemas interligados”

· “Foi o que Hegel sublinhou quando escreveu: “A verdade é o todo"”

· “A realidade é sempre mais rica do que o conhecimento que a gente tem dela [...]porém, não nos dispensa do esforço de elaborar sínteses, se quisermos entender melhor a nossa realidade”

· “A totalidade é mais do que a soma das partes que a constituem”

· “E, se eu quiser elevar a minha análise a um plano filosófico, precisarei ter, então, uma visão de conjunto da história da humanidade, quer dizer, tia dinâmica realidade humana como um todo (nível máximo de abrangência da totalização dialética)”

· “Afinal, a dialética - maneira de pensar elaborada em função da necessidade de reconhecermos a constante emergência do novo na realidade humana - negar-se-ia a si mesma, caso cristalizasse ou coagulasse suas sínteses”

· “Processam-se alterações setoriais, - quantitativas, até que se alcança um ponto crítico que assinala a transformação qualitativa da totalidade. É a lei dialética da transformação da quantidade em qualidade”

A CONTRADIÇÃO E A MEDIAÇÃO

· “como é que eu posso ter certeza de que estou trabalhando com a totalidade correta? [...]não há, no plano puramente teórico, solução para o problema [...] Nenhuma teoria pode ser tão boa a ponto de nos evitar erros. A gente depende, em última análise, da prática - especialmente da prática social”

· “dialética recomenda que nós prestemos atenção [...]às contradições e mediações concretas que a síntese encerra”

· “A análise, portanto, só pode ser orientada com base em uma síntese (mesmo precária) anterior. Uma certa compreensão do todo precede a própria possibilidade de aprofundar o conhecimento das partes”

· “"0 concreto" - insiste Marx - "é concreto porque é a síntese de várias determinações diferentes, é unidade na diversidade."”

· “O irracionalismo desestimula o ser humano a realizar o paciente esforço de ir além da aparência, em busca da essência dos fenômenos”

· “"A dialética" - observa Carlos Nelson Coutinho - "não pensa o todo negando as partes, nem pensa as partes abstraídas do todo. Ela pensa tanto as contradições entre as partes [...]como a união entre elas”

· “As leis da lógica são certamente válidas, no campo delas; e - nesse campo de validade - a contradição é a manifestação de um defeito no raciocínio”

· “Henri Lefebvre escreveu, com razão: "Não podemos dizer ao mesmo tempo que determinado objeto é redondo e é quadrado. Mas devemos dizer que o mais só se define com o menos”

· “a contradição é reconhecida pela dialética como princípio básico do movimento pelo qual os seres existem. A dialética não se contrapõe à lógica, mas vai além da lógica, desbravando um espaço que a lógica não consegue ocupar”

· “Para desbravar esse novo espaço, a dialética modifica os instrumentos conceituais de que dispõe: passa a trabalhar, freqüentemente, com determinações reflexivas e procura promover uma "fluidificação dos conceitos”

A "FLUIDIFICAÇÃO" DOS CONCEITOS

· Em Hegel “a Idéia Absoluta assumiu a imperfeição [...]da matéria, desdobrou-se em uma série de movimentos que a explicitavam e realizavam, para, afinal, com a "trajetória ascensional do ser humano, iniciar enriquecida - seu retorno a si mesma”

· “Hegel, com a dialética dele,lançou as bases para a "fluidificação”

· “em Hegel, o ser humano que promovia o movimento da história era uma abstrata "autoconsciência", ligada à tal da Idéia Absoluta”

· “O movimento autotransformador da natureza humana, para Marx, não é um movimento espiritual (como em Hegel) e sim um movimento material, que abrange a modificação não só das formas de trabalho e organização prática de vida, mas também dos próprios órgãos dos sentidos”

· “A natureza humana, por conseguinte, conforme o conceito que Marx tem dela, só existe na história”

· “Marx não reconhece a existência de nenhum aspecto da realidade humana situado acima da história ou fora dela; mas admite que determinados aspectos da realidade humana perduram na história” [superação de Hegel, com conservação]

· “Mudança e permanência são categorias reflexivas, isto é, uma não pode ser pensada sem a outra”

· “Para Marx, a "fluidificação" dialética dos conceitos não tinha nada a ver com o "relativismo” e não podia, em nenhum momento, ser confundida com ele”

· “A "fluidificação" dos conceitos destinados a tratar dos dois lados dessa realidade só pode ocorrer através da determinação reflexiva”

· “Por isso a dialética não pode admitir contraposições metafísicas, tais como mudança/permanência, ou absoluto/relativo, ou finito/infinito, ou singular/universal”

AS LEIS DA DIALÉTICA

· 1- lei da transformação da quantidade em qualidade (vice-versa), Lei da interpenetração dos contrários e a Lei da Negação da negação.

· “Essas leis já se achavam em Hegel; Engels procurou resgatá-las do idealismo hegeliano e dar-lhes um sentido claramente materialista”

· “A experiência que foi sendo adquirida pelo movimento socialista ao longo do Século XX mostrou que as formulações de Engels - embora brilhantes e didáticas - possuem certas limitações.”

· Ao delimitar a dialética em três princípios, primeiro Engels usou de certa arbitrariedade, embora tenha se baseado bastante nas ciências naturais. Segundo, equivocou-se ao tentar fixar, codificar uma filosofia do movimento. Não é segura nenhum tipo de tentativa de codifica a dialética.

· Ter como base as ciências naturais, é complicado, pois quando tais princípios são aplicados na sociedade, os resultados são bem diferentes. Na natureza (ciências naturais), é tudo quantificado, diferente da área humana.

· As leis da dialética expostas por Engels, todavia, não são falsas, mas precisam ser aplicadas corretamente, ele mesmo denmostrou que assim como na física, elas também existem no social, mas que deve ser observado as circunstâncias.

· Depois de Marx e Engels, poucos entenderam a dialética marxista. Bernstein, socialista alemão (xxxx-1933) chegou a defender o abandono da dialética marxista e retomar a Kant, alegando este que a dialética de Marx impedia o entendimento das ‘coisas’.

· Quem não enxerga nada que dependa de sua ação facilmente se acomoda, fica a contemplar a história ao invés de fazê-la.

· A concepção marxista dialética da história não prever nenhum fim, nenhum momento determinado no futuro.

· Segundo Lênin, só se compreende O capital de Marx, se antes entender a lógica de Hegel.

· Lênin influenciou muitos marxistas ao redor do mundo ao tomar o pode na URSS em 1917. Aqui era um exemplo prático de que o homem como sujeito na história realmente a faz segundo sua necessidades e fatores de contingência.

· O húngaro Georg Lukács (1885-1971) afirmou que o diferencia o marxismo de outras teorias, não é apensa a questão econômica como base, mas sim o modo de ver o mundo segundo uma concepção dialética material universal, com totalidade, só assim se pode ver alam das aparências.

· Ao contrário de Lênin, Stálin não estudava as teorias, apensa usava-as para justificar atos práticos do partido.

· Konder enfatiza a importância da unidade dos indivíduos para a efetivação de objetivos dialéticos. A organização é fundamental para o revolucionário, não basta apenas a teoria. Contudo, é preciso que o individuo sinta suas forças multiplicadas na organização, no coletivo, e não anuladas por um grupo menor com objetivos diferentes dos seus.

· Diante do mundo tão dividido de hoje, é complicado até para um marxista entender que no confronto entre coréia do sul e coréia do norte, ele pode alterar algo. Talvez por essa dificuldade, Althusser tenha suposto a história como sem finalidade e sem espaço para a intervenção significativa do homem. Para evitar tal posicionamento, deve realmente entender a dialética.

· De certo modo, o individualismo, ou o reconhecimento de responsabilidades particulares, não anula a necessidade de associação, mais exige que a associação seja repensada, que a comunidade seja repensada segundo as atuais circunstâncias históricas.

· O não conhecimento da dialética, bem como diante do segmentado mundo atual que gera a necessidade de uma comunidade, os jovens, passam a aderir a qualquer ‘modelo’ de comunidade, seja pela semelhança de roupa, pela diversão etc.. De modo geral pessoas aderem a seitas e organizações afins ou ONGs, de modo que, ao se proclamarem revolucionários, mostram ser bastante reacionários, tendo suas organizações como deuses, que dessa forma não podem ser submetidos a critica profunda. Tal postura vez por outra leva ao fundamentalismo, que por seu turno é refletido em atos de violência gratuita.

· Konder diz que a filha de Marx perguntou ao pai qual seu lema preferido, e ele respondeu: duvidar de tudo. Esse é certamente o espírito da dialética. Assim, os verdadeiros revolucionários, os verdadeiros marxistas, não devem sair por aí tentando enquadrar o real, o concreto em um punhado de teorias. Mas sim estarem constantemente revendo suas próprias idéias, sua própria fundamentação marxista, provando-as na prática cotidiana.

· Contudo, ser revolucionário e fiel ao método marxista, a dialética, é um tanto complicado, pois imagine a confusão que seria se Marx ao se pronunciar para os proletariados disse o seguinte: companheiros proletários uni-vos. Quer dizer, será se historicamente segundo a dialética nós precisamos realmente fazer isso? Peraí, eu vou rever isso, mas talvez nós devêssemos mesmo!!!

· Não podemos nos limitar a explicar a dialética, devemos aplicá-la conseqüentemente.

· “Bertolt Brecht disse uma vez: "O que é, exatamente por ser tal como é, não vai ficar tal como está"”

ENSINO RELIGIOSO E EDUCAÇÃO: histórico, contexto, contradições e interesses

 

Antonio Nascimento da Silva[1]

 

Introdução

A exposição ora apresentada constitui-se de um recorte do terceiro capítulo da pesquisa que resultou na monografia “A influência do ensino religioso na formação da conduta do homem inteiro” de autoria do primeiro autor, orientado pelo segundo. Conscientes da importância de aclarar a realidade educacional, em meios a diversos entraves que impedem a educação pública de atender realmente aos anseios dos que a utilizam, observamos ser importante uma investigação rigorosa sobre o aspecto religioso dentro do espaço institucional da educação mantida pelo Estado, bem como todas as relações que o permeiam. Posicionados nessa reflexão e assumindo o compromisso de uma aproximação o quanto maior da realidade, optamos pelo método marxiano-lukasiano, que busca compreender o objeto dentro de todo seu contexto e, que toma como base para formação das categorias abstratas, o que a própria natureza sugerir. De outra forma, nosso método parte do todo para o específico, e deste para aquele, portanto dialético não-mecanicista. Para efetivarmos o trabalho, buscaremos inicialmente atingir um conceito geral, ainda que provisório, de religião, procurando mostrá-lo na teoria e no cotidiano. Em seguida, procuraremos sublinhar a categoria educação, expondo sinteticamente sua evolução ao longo da história. Na sequência, mostraremos a histórica e peculiar relação entre o Estado e a educação, destacando o cenário atual, onde como sugere o entendimento de Mészáros (2005), a sociedade está sob uma crise estrutural do capital. Destacaremos os moldes contemporâneos daquela relação e, por fim, em caráter de parcial conclusão, traçamos as principais características do ensino religioso dentro da atual educação pública oferecida pelo Estado brasileiro que concentra diversos caracteres de capitalismo tardio. Nossas considerações conclusivas apontaram para um ensino de religião que se opõe a proposta teórica da escola. Essa disciplina, ao apoiar-se na teologia cristã, suprime a história, tornando-se dessa forma, não-crítica e, portanto, contribuindo com a atual forma de sociabilidade burguesa, opondo-se a emancipação plena da sociedade.

Sendo a religião uma estrutura que deixa suas marcas em qualquer sociedade, entendemos ser importante analisar o ensino religioso pelo fato deste se constituir como ponto de contato entre a religião e a formação institucional promovida atualmente por um determinado tipo de Estado. A educação institucional, em meio a diversos fatores sociais, sofre constantemente influência do meio a qual está incerida, por vezes positivas, ora negativas. Partiremos desse ponto para lançar luz sobre a relação: educação-religião. Para isso, será necessário distinguirmos exatamente de que religião estamos tratando. Sendo assim, devemos proceder a uma definição da religião, de acordo com, primeiro: modelos teóricos respeitados e, em seguida, com base nas observações e reflexões sobre a instituição religiosa contemporânea. Esse mesmo caminho de investigação será seguido para a proximação da educação. Assim, poderemos fazer inferências seguras a partir da evolução das duas categorias.

Aproximações sintéticas ao estudo categórico da religião

Inicialmente, recorremos a Portelli (1984) que apresenta três definições básicas de religião m base em Gramsci. As três argumentações produzem – se analisadas a fundo – implicações em diversas esferas sociais. Contudo, para efeito desta comunicação, importa-nos apenas a caracterização da instituição religiosa.

Portelli (1984) distingue, no marxista italiano, a definição leiga, a religiosa e a que o próprio autor chama de “definição Gramsciana da religião”. De início exporemos a primeira da série, pelo motivo desta ser mais ampla que as demais e por preponderar – pelo que demonstra Gramsci – justamente no cotidiano imediato dos homens. Assim, ao citar Gramsci, Portelli diz que

é religião toda filosofia – ou seja, toda concepção do mundo – enquanto se tornou “fé”, isto é, enquanto é considerada não como atividade teórica (de criação de um novo pensamento), mas sim como estímulo à ação (atividade ética-política concreta, de criação de nova história) (1984, p. 23).

A citação é clara. Dessa forma são evidentes as contradições como, por exemplo, uma filosofia pode sim, ser uma concepção da realidade, mas não necessariamente deve ter uma moral expressa mitologicamente. Comprova tal contradição o próprio marxismo, pois como aponta o entusiamo de Sartre (1987), o marxismo é a filosofia insuperável do século XX: o clímax das idéias. Não necessitando, entretanto, tal filosofia, de uma moral exposta de forma mitológica. De modo confessional, segundo Portelli, Gramsci caracteriza a religião em:

1) crença de que existem uma ou mais divindades pessoais que transcendem as condições terrestres temporais; 2) o sentimento dos homens de que dependem destes seres superiores que governam totalmente a vida do cosmo; 3) a existência de um sistema de relações (culto) entre os homens e os deuses (1984, p. 21).

As duas categorizações expostas vão compor em certa medida a definição tida como gramsciana da religião. Portelli demonstra tal conceitualização ao citar o seguinte trecho de Gramsci: “a religião se caracteriza por sua contradição entre o materialismo prático”, ou seja, aquele que Lukács (1982) chama de materialismo espontâneo e o “idealismo teórico, o que a assemelha às doutrinas utópicas e a transforma em período de declínio, em ópio do povo” (1984, p. 27). Entendemos que esse argumento de maneira simples, contém as características universais de toda religião.

De modo mais próximo temos o exemplo cristão católico, onde as atitudes práticas divergem da ideologia teórica da teologia. Os cristãos mais fervorosos desconhecem as determinações teológicas de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Tais determinações por estarem numa esfera idealista pareceriam para o cristão do cotidiano, qualquer coisa, menos a religião que ele segue. Ao homem imerso em sua cotidianidade de forma espontânea, interessa cumprir os rituais da igreja garantindo assim uma vida post mortum. Assim, argumanta Portelli apoiado em Gramsci: o católico que seguir a risca todas as regras do catolicismo vai se parecer com um mostro (PORTELLI, 1984).

Esse distanciamento entre teoria e prática não existe – ou pelo menos é muito tênue a linha divisória – nos períodos primitivos da religião. Nesse momento, determinado ainda por uma postura mágica, o germe religioso era estreitamente ligado ao cotidiano, atendendo a funções práticas essenciais.

Desse modo, a religião situa-se num meio termo entre a filosofia e o folclore, pois ao mesmo tempo em que esta possui um núcleo “filosófico”: a teologia, é permeada também pelo folclore e pelo senso comum. Como toda religião dispõe de um núcleo material prático, a mesma é já por esse motivo, heterogênea e sedimentada, pois não dispõe de uma organização teórica coerente com a realidade prática e que seja universal.

A teologia não consegue dar tal sistematização ao conjunto geral da religião, justamente por que é idealista. E a prova da referida estratificação da religião esta de maneira clara nas diversas igrejas cristãs, e de modo particular no catolicismo, quando observamos um comportamento religioso diferente em cada camada social.

Com relação às igrejas reformadas a situação não é diferente, sendo possível demonstrar o vínculo da instituição religiosa com as forças produtivas. A liberdade espiritual aspirada por Lutero foi, antes de tudo reflexo do contexto histórico da época, onde os mercadores emergiam em oposição aos feudos e clamavam por liberdade para negociar seus produtos.

É interessante observarmos que a crítica de Lutero ao catolicismo é justamente com relação à prática da compra de indulgências. Ademais, a Igreja de Roma esbanjava luxo enquanto a massa permanecia na miséria, conformada com a promessa do além mundo. Destarte, as próprias doutrinas derivadas do luteranismo, se opõem a sua base. É o que assegura Max Weber (2007). Este autor explica que a doutrina da vocação, ao pregar a não aquisição desnecessária de ônus, o não desperdício de dinheiro, a dedicação ao trabalho como glorificação de deus, propicia ao mesmo tempo o acúmulo de riquezas e a avareza (WEBER, 2007). As duas últimas são fundamentais para o capitalismo.

Por outro lado “a doutrina da predestinação é o dogma característico do calvinismo” que prega a completa inferioridade da ação humana (WEBER, 2007, p. 83). Segundo esta doutrina, antes mesmo de o homem existir deus já tinha os seus escolhidos, não importa o que o homem faça, diante de si há um destino pronto e acabado, não podendo o homem interferir na história (WEBER, 2007). Essa concepção favorece uma ordem dominante na medida em que torna os dominados sempre mais passivos e conformados.

Dessa maneira, a reforma protestante marca a gênese de uma nova ordem produtiva e a respectiva adequação da religião a esta ordem. A história tem mostrado de forma bastante clara essa relação, entretanto, cabe a nós a seguinte questão: desconheceria Lutero a amplitude e o significado de “seu” protesto? Até Weber, com seu materialismo filosófico-idealista, pôde mostrar, ainda que superficialmente – sem explicar os motivos concretos –, a estreita relação existente entre o capitalismo e a religião.

Podemos agora, mesmo que em caráter preliminar, dizer que a religião difere do folclore e do senso comum, haja vista que estes não têm necessariamente um deus e um culto para se relacionar com um demiurgo. Entretanto, ela é tão heterogênea como estes outros grupos ideológicos, tendo em seu seio uma parte de cada um ao passo que também contribui com o conteúdo destes, além de uma filosofia específica: a teologia. Sua teoria, por ser transcendente e antropomórfica, deve conter um conjunto de dogmas, e opor-se diretamente a ação prática cotidiana. Sendo a religião uma superestrutura – como demonstrada por Gramsci na esteira de Marx –, esta permanece sempre sujeita ao modelo produtivo, servindo como instrumento ideológico do bloco dominante, sempre intelectualmente atrasada com relação a este e, tendo as condições econômicas como fator preponderante na sua constituição.

Trabalho e educação como elementos de desenvolvimento humano

Uma vez que expusemos a pedra de toque da religião para as nossas futuras reflexões, procurando extrair da realidade histórica e concreta, as categorias teóricas, procuraremos a partir de agora, realizar semelhante trabalho tendo como foco a educação.

Os conhecimentos práticos do cotidiano primitivo, ao passo que se avolumavam, também se disseminavam entre as tribos. Oralmente as técnicas de caça, as formas de evocação, de culto, a melhor maneira de se abrigar das intempéries da natureza e enfim, todo o conhecimento que dispunha o ser primitivo era paulatinamente assimilado seja pelos adultos ou pelas crianças. É inegável, portanto, que existisse no seio dessa sociedade, assim como hoje, um conjunto de conhecimentos de caráter prático e também idealista.

Tais conhecimentos, naquelas circunstâncias, tinham o único objetivo – ainda que pareça implícito – de formar a criança para a vida, o que incluía aspectos mágicos animistas. Tal ação formadora, contudo, não se distanciava da realidade, pois inclusive os citados aspectos ideológicos tinham, em última instância, maior imediaticidade se comparados com os atuais.

Podemos considerar assim que, partindo do que Lukács (1982) chama de salto ontológico do homem, todo o conhecimento produzido por este – pelo menos a priori – foi transmitido, assimilado por outros homens ao longo da história. Aníbal Ponce (1998) mostrou isso de forma bastante e clara.

De acordo com as considerações de Ponce, apesar de sempre ter existido essa troca de conhecimento entre o homem; ela teve, entretanto, variações fundamentais até chegar ao estágio atual, pois o modo de se aprender na sociedade primitiva difere do modelo escravista, bem como do sistema feudal e do capitalismo. Com o surgimento das classes e a respectiva divisão social do trabalho, ficou evidente a necessidade de uma educação diferenciada para aquela classe que exerce o domínio sobre outra dominada. Isto se deve, entre outros casos, pelo fato de que as aspirações de ambos os estratos sociais são diferentes (PONCE, 1998).

Aristóteles desconhecia esse caráter contraditório no seio de sua própria sociedade escravocrata, pois segundo o mesmo “o senhor e o escravo tem o mesmo interesse” (2001, p. 54). Contudo, é importante destacar que para esse filósofo a educação deveria ser concebida a todos, sendo garantida pelo Estado. Ressaltamos, entretanto, que para Aristóteles o “todos” limita-se aos cidadãos, ou seja, aos que tinham direitos políticos em virtude de suas posses materiais: os senhores (ARISTÓTELES, 2001).

Está claro, portanto, a princípio, que o fenômeno educativo enquanto troca de experiências e conhecimentos acumulados sempre ocorreu, sendo que a partir da divisão de classes, a transmissão de conhecimentos era diferenciada para cada classe. Daí temos duas divisões básicas da educação. Corresponde a primeira dessas, toda situação que proporcione uma troca de conhecimento de maneira não-formal, no cotidiano do ser. Através dessa educação, os homens tomam parte principalmente do conteúdo moral – incluindo-se as relações interpessoais diversas. Assim, o conhecimento adquirido fora do ambiente escolar, de modo geral, é assistemático.

Por outro lado, a educação institucionalizada deve, ao menos em tese, ser responsável pela transmissão dos conhecimentos científicos: sistematizados produzidos pela humanidade, além de proporcionar as condições para a ampliação desses. Entretanto, em virtude da primeira – e mais importante – divisão da educação que expomos, aquela com relação às classes, uma parcela da população, apesar de estar na escola, é privada entre outros, do conhecimento científico, político e artístico.

De acordo com essas considerações, podemos agora, desconsiderando por enquanto várias outras mediações importantes, dizer que educação enquanto ato, diz respeito, generalizadamente, a toda situação onde ocorra a troca de conhecimento, seja estes científicos ou não, com ou sem uma finalidade clara e objetiva. Realizando-se institucionalmente ou não.

A relação entre Estado e educação

Atualmente, nos países que partilham da periferia do capitalismo desenvolvido, de modo particular no Brasil, é responsabilidade do Estado promover a educação institucionalizada – tal como figura na Constituinte Federal de 1988 –, com tudo o que lhe é anexo, muito embora, venha ocorrendo desde o final da década de 1970 uma tentativa de desobrigação do Estado com relação à institucionalização do processo educativo, buscando diminuir ônus para com a manutenção das instituições educativas e ao mesmo tempo, proteger a iniciativa privada. Para entendermos essas relações, teremos inicialmente como noção de Estado o trecho de Sofia Leche Vieira e Maria Glaucia Albuquerque ao citarem Koogan Houaiss, onde afirmam que Estado refere-se a um “povo social, política e juridicamente organizado, que, dispondo de uma estrutura administrativa, de um governo próprio, tem soberania sobre um determinado território” (2001, p. 20).

Interessa-nos, todavia, duas noções básicas referente ao Estado, uma de base liberal[3] e outra que seria uma concepção marxista. De modo sintético, para a primeira concepção, o Estado assume uma neutralidade principalmente com relação à economia, tomando para si apenas as questões com relação ao direito além de prover bens como educação e saúde (VIEIRA; ALBUQUERQUE, 2001).

Ressaltamos, no entanto, que atualmente a educação se transformou em um mercado promissor para os especuladores de plantão, uma mercadoria defendida pelo Estado. Este buscará meios para que a educação seja lucrativa para o setor privado. É por isso que, para o modelo capitalista de produção, a universidade pública é encarada como anacrônica e dispendiosa. E mesmo sendo não-privada, “legalmente” o Estado procurará meios o quanto forem possíveis para tornar esta (educação) útil ao capital, mesmo que por dentro da esfera pública. A educação é assim, manipulada a serviço do bloco hegemônico.

Esta relação inicial entre um Estado que regula a educação segundo as necessidades de uma ordem econômica, produz a segmentação do sistema educacional conforme as classes sociais existentes. Assim, é marca social da escola contemporânea o fato de que cada grupo social tem um tipo de escola própria destinada a perpetuar nestes grupos uma determinada função, como fica claro em Mochcovitch (1992), a partir de seu diálogo com Gramsci. Em virtude de tal argumentação, é conveniente demonstrarmos provas históricas dessa relação.

Os primeiros pressupostos da divisão de classes entre os homens é a diferença de gênero e de idade. Essa diferença possibilitou alguns realizarem atividades vitais enquanto outros eram incapacitados para as mesmas. Diante de tal situação, paulatinamente, o trabalho foi se segmentando. Ao homem, a caça; à mulher, a prole ou já nos tempos tribais os cuidados com o abrigo (PONCE, 1998). Contudo, ressaltamos que essa primitiva divisão distancia-se muito da atual. Alertamos também que o exemplo acima não desmente a tese de que, de maneira geral, o elemento preponderante na divisão de classes é o modelo produtivo[4].

Com a divisão mais acentuada, as funções foram se desmembrando cada vez mais. Nas tribos iam surgindo o responsável pelo culto, por resolver os conflitos e outros pontos mais específicos. Todavia, o xamã, dedicado em sua função, dispunha de outros membros da tribo para prover, por meio do trabalho, o necessário para seu sustento. Com isso, tanto o responsável pelo aspecto religioso, quanto aquele do “direito”, beneficiavam-se com o ócio, podendo planejar estratégias que lhes garantissem a continuidade daquele conforto garantido pelo trabalho alheio.

Com isso, tais funções – entre outras – passaram a ser hereditárias. No entanto, para que isso ocorresse, como já afirmamos, aos filhos dos sacerdotes lhes eram ensinado para serem como tal: sacerdotes. E assim se deu com os outros grupos, ou seja, já numa divisão primitiva, não era mais lícito – como no primitivismo coletivo – que todos os membros da tribo assimilassem de forma igualitária, todo o conhecimento anteriormente conseguido por esta. Este fenômeno vai repetir-se em todos os outros modelos produtivos.

A educação atual é, dessa forma – segundo o que expõe Mochcovitch (1992) –, o que Gramsci, em oposição a sua proposta educativa, chamaria de educação interessada, em virtude da intenção em beneficiar uma classe. Entretanto, a intencionalidade unilateral do Estado com relação ao ensino é maquiada pelas políticas públicas para que se torne mais digerível às massas. É o que notamos na Constituição Federal, quando seu Artigo 205 traz o seguinte texto: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (2003, p. 49).

De maneira geral e aparente, tal proposta é positiva, mas ao analisarmos mais detalhadamente percebemos seu caráter intencional. Primeiro notamos a justificação legal do que temos aludido brevemente antes sobre a desobrigação do Estado com relação à educação. Nesse ponto, as ONG’s têm um importante papel, pois, ao passo que é aberto o espaço para a atuação da sociedade civil na educação, essas instituições umentam consideravelmente sua atuação no setor público. Paralelo a isso, o Estado investe no setor privado.

Com relação a formação cidadã que também é proposta pelo capitalismo e expressa na lei, basta termos em conta a reflexão que faz Ivo Tonet, segunda a qual,

a teoria liberal da cidadania (representada por Kant, Hobbes, Lock, Rousseau e outros) tem como ponto de partida o pressuposto de que todos os homens são iguais e livres por natureza. [...] a desigualdade social era considerada legítima e constitutiva do mundo humano porque fruto do exercício da própria liberdade natural (2005, p. 81).

Devemos, a respeito da reflexão de Tonet, lembrar que um dos pressupostos ideológicos do atual sistema é justamente a liberdade financeira individual. Por sua vez, a intencionalidade em promover o preparo para o mercado de trabalho, demonstra uma dupla atuação do Estado. Ao mesmo tempo em que patrocina a escola privada, procura de todas as formas preparar operacionalmente os usuários da pública.

Nas atuais circunstâncias, a capacitação para assumir uma vaga no concorrido mercado de trabalho parece bastante conveniente e, como as necessidades materiais concretas predominam sob todas as outras, é bem mais vantajoso um emprego que estudar filosofia. Contudo, a limitação da escola pública a essa função preparatória instrumental, torna-a imediatista e descompromissada com as inúmeras outras potencialidades do ser humano. Destarte, é com razão que Mochcovitch (1992) ao comentar o pensamento de Gramsci sobre a escola profissionalizante, adianta ser esta, um instrumento de reafirmação e cristalização das diferenças sociais.

Toda essa situação da educação dentro do atual modelo capitalista neoliberal gera diretamente no cotidiano escolar das massas, inúmeros problemas de ordem prática. O professor Frederico Costa, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), enumerou de maneira sintética algumas dessas principais implicações. Segundo ele, a pedagogia do “aprender a aprender”, fruto do regime político e econômico que temos aludido como ideologia, dá à educação, entre outras, as seguintes características:

1) esvaziamento do professor como transmissor de objetivações culturais elaboradas no desenvolvimento histórico da humanidade; 2) enaltecimento do pragmático sobre o teórico; [...] 4) desprezo do aspecto intelectual do processo de aprendizagem em função de uma elevação unilateral do lúdico; [...] 7) extrema valorização do fazer ao lado de certa indiferença pelo saber; [...] 9) exacerbação do particular e quase anulação do universal [...] (COSTA, 2010, p. 166-7).

Assim, considerando a educação como uma superestrutura, bem como o é a religião, podemos parcialmente chegar a seguinte conclusão: sendo toda superestrutura efetivada preponderantemente por uma base material, o sistema capitalista (base produtiva) enquanto desumano e estruturalmente em crise, baseado na exploração do homem pelo homem, vai dessa forma, organizar um modelo educativo que legítime tal situação. A educação é, portanto, elitista, pois na prática não consegue garantir o mínimo, como a igualdade de acesso e permanência para todos, por exemplo. O que entre em contradição frontal com o artigo 206, inciso I, da Constituição Federal. Dessa forma, o Estado joga a favor da classe dominante ao garantir legalmente que através da educação sejam reproduzidas as relações de domínio.

Hoje, é ensinado ao filho do trabalhador simplesmente uma profissão, enquanto que uma elite tem acesso ao ensino de filosofia, de artes e de cultura geral, além de aprender o básico, que é a função de domínio e exploração da força de trabalho alheia[5]. Cabe ao filho do pobre o trabalho braçal alienado e alienante, ao passo que ao filho do capitalista, que dispõe de tempo ocioso, está reservado as funções gerenciais e de controle. Aproveitamos a oportunidade para marcar energicamente que nem a primeira proposta tampouco a segunda servem de modelo educativo para uma sociedade emancipada.

Ademais, nesse contexto surge um fator, a princípio, agravante, qual seja, a religião. Pois não é por acaso que esta tem sido em várias situações usada de modo a beneficiar a ordem dominante, como durante o regime facista italiano, por exemplo. Nessa ocasião, a proposta da reforma Gentile, deixava claro a necessidade de impedir o acesso das massas à cultura, reservando-lhes porém, o ensino religioso (MOCHCOVITCH, 1992).

Em virtude desse papel desempenhado pela superestrutura religiosa, faz-se necessário agora, analisarmos mais de perto a função da religião no contexto que acabamos de expor.

O papel do ensino religioso nos países de capitalismo periférico: um exemplo Brasileiro

Considerando a religião como superestrutura, tal como o fez Gramsci, segundo Mochcovitch (1992), sobre esta preponderam as determinações do sistema capitalista de produção, tal como na educação. A via pela qual a religião tem acesso à educação institucionalizada é o ensino religioso. Cabe, portanto, verificarmos as implicações decorrentes desse conjunto de fatores no cotidiano do homem inteiro.

Antes de procedermos, devemos destacar que este tipo de ensino é, por lei, garantido a todas as escolas públicas de nível fundamental do Brasil. Pois assim consta no artigo 33 da LDB nº 9.394/96: “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis”. Essa tentativa de tornar a educação laica não é completamente positiva, pois o Estado assumiria o espaço deixado pela instituição religiosa. Ademais, no ano seguinte a aprovação da citada lei, o texto foi alterado, passando ser oneroso para o Estado. Tal mudança reflete, no Brasil, a disputa entre a Igreja Protestante e a Católica. Na primeira redação da Lei, a igreja protestante é beneficiada em virtude de sua disposição.

Na realidade, aparentes contradições entre religião e Estado revelam, se analisadas mais a fundo, uma proximidade entre estas superestruturas, já que a religião, enquanto aparelho ideológico, se equipara ao Estado como aparelho repressor (PORTELLI, 1984). O tênue espaço entre estas se dá pelo fato de que, para uma classe hegemônica se manter como tal, ela precisa da força repressiva e ideológica do Estado a seu favor. Em outras palavras, o Estado precisa da religião para exercer um papel ideológico junto às massas. Busquemos então as provas dessa função da religião dentro do ensino religioso.

Observemos agora um trecho do material que é referência para o ensino religioso no Brasil. Segundo este:

O ensino religioso não pode deixar de ser iluminado pela teologia, porque o objetivo que ele tem é educativo. É oferecer aos educandos possibilidade de se desenvolverem como pessoas integradas e participantes na construção de um mundo diferente [...] e um mundo assim só é possível enquanto a criação e a história estiverem voltadas para um sentido transcendente, atentas às aspirações humanas (CNBB/REGIONAL SUL III, 1996).

Formalmente a teologia (que se diz ciência) é base teórica para o ensino de religião, como tal deve ser analisada com o rigor científico. Pois como destaca Lukács, ao passo que a teologia se pretende como ciência, esta deve sim, estar sujeita as críticas da ciência (LUKÁCS, 1981).[6]

O trecho citado acima pretende que a história tenha uma finalidade ligada ao transcendente. Essa observação revela de antemão, o caráter idealista com o qual se firma dentro da sala de aula, o ensino religioso. Pois a história não deve ter um objetivo a alcançar pré-determinado, senão seria destino, tal como crê os católicos.

Por trás desse objetivo do ensino religioso, esconde-se a anulação da história feita pelos homens e, conseqüentemente a potencialidade do homem como sujeito nessa história. Isto é, tira do conjunto da humanidade a possibilidade de trasformar a história. Ademais, a Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), mesmo que implicitamente, procura negar a materialidade do ser quando afirma que “o ensino religioso, oferecendo o sentido transcendente da vida [...], coloca os fundamentos básicos para que as pessoas se sintam motivadas e convictas sobre a realidade de se viver (1996, p. 91). Entretanto, como expõe Lukács (1982), a atividade humana parte do cotidiano concreto e tem como objeto último a própria materialidade deste. Portanto, sabemos que existe uma relação próxima entre Estado, educação e religião e que, o ensino religioso tem um caráter idealista e reacionário.

Considerações Finais

Diante do exposto, concluímos, de modo sintético como cobra o caráter de uma comunicação como esta, que, não é real o que afirma os bispos ao dizerem que o ensino de religião promove o senso crítico (CNBB, 1996), haja vista que este se baseia na bíblia cristã, a qual se fundamenta na revelação e na fé, ou seja, em dogmas postos de cima para baixo. Dessa forma, mesmo que alguns grupos religiosos sejam aparentemente críticos com relação aos problemas sociais, ficam apenas na especulação, pois seus argumentos põem a perspectiva de solução em um ser místico, no além mundo, e não nas ações práticas dos homens em sociedade. Ademais, da forma que está posto, esta disciplina é contraditória dentro da escola, pois tem ecomo tese a pretensão de promover a ciência, o que se contradiz com as bases do ensino religioso antropomórfico e inspirado em Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, que se opõem ao desenvolvimento do saber científico.

Devido a tais características, esse ensino religioso atualmente mantido pela proposta de educação do Estado brasileiro, com finalidade de manter as atuais relações de domínio, se opõe à perspectiva de Gramsci que busca uma escola única e unitária, baseada na omnilateralidade bdefendida por Marx. Destarte, desinteressada, que possibilite ao educando, o desenvolvimento intelectual, bem como as habilidades práticas exigidas pela sociedade e espírituais de elevação do ser. Nessa perspectiva, a escola deveria fazer com que as pessoas que a freqüentam, tivessem acesso as ciências, as artes, a política e todo o patrimônio cultural da humanidade (MOCHCOVITCH, 1992). Mais uma vez fica evidente o abismo entre a escola pretendida pelos clássicos do marxismo e o atual modelo administrado pela elite capitalista, intelectualmente atrasada do Brasil. A malfadada burguesia brasileira tem como ferramenta para aumentar a distância de uma educação necessária para as massas, o ensino religioso, tal como ele se processa atualmente, via políticas públicas, nas nossas escolas.

Assim, recai sobre o ensino religioso a forte indicação de ser esta disciplina uma ferramenta de domínio ideológico que contribui para a formação do homem alienado, aquele preso ao seu cotidiano, e não para um ser emancipado, que se elevar sobre a cotidianidade através da ciência, da arte e da cultura universal. Dessa forma, é propício ao Estado incentivar tal modelo de ensino, haja vista que por este ser reacionário, anti-crítico e místico, favorece a sociabilidade burguesa e, de modo destacado, contempla o capitalismo atrasado praticado no Brasil imerso na crise profunda por que passa o capital mundial.

Por fim, ressaltamos que a evolução da religião, de modo geral, produziu todo um conjunto de conhecimento referente a esse mesmo processo evolutivo. De outra forma, não podemos negar a história da religião. Assim, entendemos que esse conjunto de conhecimento não deve ser negado a humanidade e, é justamente função da escola, até nos países de capitalismo periférico como o Brasil, oferecer a possibilidade de acesso a esse conhecimento. Contudo, tal conhecimento jamais deverá ser dogmático e comprometido com o status quo dos que estão no poder.

 

Referências Bibliográficas

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BÍBLIA SAGRADA. Edição pastoral. São Paulo: Paulus, 1990.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: 1988 – texto constitucional de 5 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais de n. 1, de 1992, a 40, de 2003, e pelas Emendas Constitucionais de Revisão de n. 1 a 6, de 1994. 21ª edição – Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2003.

CNBB, Regional sul III. Texto Referencial para o Ensino Religioso Escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

COSTA, Frederico Jorge Ferreira. Marxismo, história e educação in Vozes da FACEDI: Reflexões, Experiências e Perspectivas em Educação. Fortaleza-CE: EDUECE, 2010.

LUKÁCS, Georg. Estetica I: la peculiaridad de lo estético. Bracelona: Crijalbo, 1982.

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[1] Graduando em Pedagogia pela FECLESC-UECE; Bolsista CNPq; gpem2@yahoo.com.br

[3] Não se deve confundir, entretanto, o liberalismo de Adam Smith e David Ricardo – que defendiam a absoluta liberdade econômica para que o setor privado pudesse crescer sem intervenção do Estado – com o neoliberalismo. O último, que tem como principais representantes Friedrich von Heyek e Milton Friedman, estabeleceu-se no Brasil a partir de 1970. Neste, apesar de haver um discurso de neutralidade com relação à economia – principalmente –, são inúmeras as evidências do oposto. A título de exemplo, basta destacar aqui os programas de incentivo financeiro a instituições de ensino superior não-públicas, como o Programa Universidade Para Todos (PROUNI). Destacamos ainda que entre estes dois momentos da economia política, alguns países europeus, bem como os Estados Unidos, passaram por uma fase de intervencionismo do Estado, conhecido como estado de bem estar social ou walfare state.

[4] O que separa um indivíduo de um trabalho específico é tanto a sua própria condição física mesma, por exemplo, como o fato do próprio tipo de atividade exigir desse indivíduo determinadas condições. Para “brocar” no sertão, ou em qualquer parte do mundo, é necessário basicamente que o indivíduo tenha mãos que funcionem e a ferramenta adequada e que consiga manuseá-la com força suficiente. Todavia, uma criança, ao menos em tese, não tem condições de executar tal atividade em virtude de seu baixo desenvolvimento da força física. Entretanto, este mesmo indivíduo pode perfeitamente realizar a tarefa de plantio do solo. Dessa maneira, a base produtiva primitiva, preponderantemente, permitiu certa divisão – inicialmente fundada na natureza – dos grupos humanos em classes, bem como a segmentação do trabalho. Contudo, paulatinamente, uma classe vai levar tal divisão ao extremo, chegando ao ponto em que, o sertanejo é impedido de conhecer Paris, apesar de ele dispor dos requisitos naturais necessários para tal, inclusive a capacidade de ganhar dinheiro. Nesse estágio, a classe dominante justifica a situação por fundamentos abstratos enquanto domina economicamente e ideologicamente a outra classe como meio de obter lucro e perpetuar sua situação. Ademais, essa divisão natural não justifica a divisão da produção, haja vista que a criança apesar de não poder realizar determinada tarefa, precisa suprir suas necessidades básicas, também naturais.

[5] Como se diz no cotidiano, na educação “há dois pesos e duas medidas”. Contudo, mesmo a educação da elite está longe da omnilateralidade e da proposta de escola única/unitária de Gramsci.

[6] Tradução de Ivo Tonet