segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

História da riqueza do homem (Leo Huberman)

Resenha

PARTE 1
Do feudalismo ao capitalismo: Sacerdotes, Guerreiros e Trabalhadores

Leo Huberman inicia seu livro expondo os meios pelos quais se produzia na idade média, por volta do século X e XII. Para tal, o autor descreve em linhas gerais as principais características da sociedade feudal, assim como seu funcionamento. Dessa forma ele destaca que: “A sociedade feudal consistia dessas três classes sacerdotes guerreiros e trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava produzia para ambas as outras classes, eclesiástica e militar”. Tal sociedade, como fica evidente, já se estabelecia sobre uma relação de domínio entre seus membros, relação essa que data de muito tempo antes do estabelecimento do regime de feudos.
Quanto ao funcionamento, como nos permite entender o autor, era claramente proveitoso para o proprietário do feudo, para o senhor feudal, enquanto que para o servo, era árduo e fatigante, consumindo toda a sua força. Nessa “convivência”, um terço do feudo era do senhor, sendo o restante do arrendatário. Todavia, a parte pertencente ao dono, tinha que ser de qualquer maneira trabalhada primeiro que as partes dos arrendatários. Tinham-se então três dias dedicados exclusivamente as terras do fidalgo.
É interessante destacar uma questão com relação às pessoas que arrendavam as terras. Não eram sempre essas mesmas pessoas que efetivamente cultivavam o solo. Com o aumento da divisão do trabalho e o acumulo de riquezas em diferentes níveis por parte de alguns, ocorreu que determinadas pessoas arrendavam a terra e colocavam os servos propriamente ditos para nela produzirem, enquanto que os primeiros assumiam uma função mais administrativa. Como coloca Huberman, “Havia vários graus de servidão”.
Na estrutura hierárquica estabelecida entre esses graus a igreja católica tem, de modo geral, uma relevante importância. Esta instituição chegou a deter até metade das terras da Europa ocidental. Tal situação era refletida no poder que a igreja demandava na idade média. Os documentos do Monastério, atualmente depositados no Louvre, revelam que a igreja daquele período, representava de fato um grande senhor de feudos. Huberman a descreve em poucas linhas da seguinte forma:
a Igreja constituía uma organização que se estendeu por todo o mundo cristão, mais poderosa, maior, mais antiga e duradoura que qualquer coroa. Tratava-se de uma era religiosa e a Igreja, sem dúvida, tinha um poder e prestígio espiritual tremendos. Mas, além disso, tinha riqueza, no único sentido que prevalecia na época- em terras (1981, p. 15)
Com tamanha força “econômica”, é natural que se torne confuso em seu seio a devida distinção entre as questões puramente divinas, espirituais, e aquelas ligadas diretamente as suas posses terrenas. A igreja iniciava então, o processo que a levou a se tornar hoje a grande indústria que conhecemos.
Ressaltamos, que, o sustendo direto dessa classe de senhores feudais (mais organizados economicamente que outros) provinha daqueles mais ao pé da hierarquia, e que, em conseqüência, eram também os mais explorados, inclusive pela própria igreja. Leo Huberman descreve o quanto tal instituição tirava daqueles miseráveis medievais menos desprovidos. Ele escreve: “agricultores e camponeses eram obrigados a entregar não apenas um décimo exato de toda sua produção... Cobravam-se dízimos de lã até mesmo da penugem dos gansos”. Percebe-se então que na organização feudal da idade média existiam vários graus hierárquicos, entretanto dois desses, realmente mantinham o controle sobre os demais, quais sejam, porção composta pelos grandes reis e a outra pelo clero. Vale destacar, todavia, que algumas organizações internas da igreja católica ousavam até ameaçar o trono de poderosos reis franceses, como foi o caso dos Templários, ordem cavalheiresca patrocinada pela igreja católica, que se auto-intitulava o exército de Cristo. (HENRY LINCOLN, XXXX)

CAPÍTULO II
Entra em cena o comerciante
No período em questão o comércio estava iniciando seu desenvolvimento. Por esse motivo, a compra e venda de mercadorias era bastante diferente da forma que conhecemos hoje. Isso se dava pelo fato, segundo o autor, de ausência de necessidade em adquirir muitos objetos. O mesmo autor argumenta que tudo que era necessário ao consumo do feudo era produzido dentro do próprio feudo. Entretanto, por circunstancias adversas, havia a possibilidade de alguém não ter lã suficiente para produzir os agasalhos que precisa. Daí então, buscava-se suprir essa carência de alguém que tivesse um pouco a mais do que o suficiente para seu agasalho.
Assim, Leo Huberman afirma que “nos primórdios da sociedade feudal, a vida econômica decorria sem muita utilização de capital. Era uma economia de consumo, em que cada aldeia feudal era pratica- mente auto-suficiente”. Além da pouca necessidade para o estabelecimento de um comércio, havia outro problema, as condições de infra-estrutura, de suporte a uma atividade mais intensa de comércio, eram praticamente nulas. Os acessos eram ruins, e apesar disso o proprietário da terra pela qual cruzava esse péssimo caminho, cobrava altas taxas pelo uso daquele caminho.
Tal situação desfavorece a circulação de capital. Como já descrito acima, a principal riqueza da época era a posse de terras, entretanto, os senhores feudais assim como os clérigos senhores feudais, tinha acumulações de em ouro ou moedas da época. O problema era como investir, como fazer esse capital circular. Ou seja, esta é uma situação completamente adversa da atual, onde os capitais estão em constante fluxo sob ânsia do proprietário em aumentar esse referido capital.
Vale ressaltar, entretanto que, no período feudal tratado pelo autor, quem mais encheu seus cofres foi a igreja católica. Tal se realizou por meio das cruzadas, entre outros meios usados para usurpar as propriedades, seja do arrendatário mais simples, seja do rei.
A passos vagarosamente, entretanto, esse aspecto de economia parada e segmentada de feudo em feudo foi se modificando. A descoberta de algumas regiões possuidoras de artigos de uso e consumo já mais encontrado em outra parte do mundo favoreceu a paulatina intensificação da troca de produtos. Daí então surge as feiras e mercados. Os produtos anteriormente trocados por outros, conforme se entendesse que estes se equivaliam, passou a dar lugar ao trabalho de venda mais fixo. A partir de então ganha destaque os grandes centros comerciais da Europa como Veneza, Troyes, Lille e outros de semelhante importância.
Este sem dúvida representa um avanço sobre a antiga maneira dos feudos. Todavia, o avanço mais importante com relação ao comércio ainda estava por se esabelecer, o que se deu rápido até de forma paralela com o estabelecimento ao estabelecimento dos mercados. Trata-se da substituição da mercadoria em si pelo “dinheiro”. O uso deste definitivamente alterou a forma de comércio até então existente. Com esse incremento os negócios ganharam agilidade, praticidade e volume. Os comerciantes passaram a acumular altas somas. Eles também iniciaram relações financeiras com a nobreza. Estes homens se tornaram tão evoluído do ponto de vista econômico, que nos séculos XIV existiam já pessoas encarregadas em cuidar das letras de Créditos.
Os comerciantes cresciam de maneira que, nem mesmo as várias taxas cobradas pelo rei sobre essas pessoas não impediu ou freou os negócios. Era cobrada uma taxa por entrar em território para negociar, outra pelo armazenamento da mercadoria até o dia da feira, outra para montar a barraca e mais outra taxa para deixar a cidade.
Percebemos claramente o quanto o comércio com dinheiro contribuiu para o desenvolvimento do comércio em geral. Posteriormente, também será possível ver o impacto negativo dessa mercadoria universal, como diz Marx.

CAPÍTULO III
Rumo à cidade
Com o constante aumento dessa nova atividade, a sociedade feudal obrigou-se a muitas outras mudanças. De acordo os locais mais propícios geograficamente para os mercadores venderem seus produtos com a maior segurança possível, foram criando-se aglomerações sempre maiores. Como descreve Huberman, os lugares mais apropriados eram aqueles próximos as catedrais e burgos, estes últimos eram fortificações para proteger a cidade de possíveis ataques. É interessante ressaltar que as cidades propriamente não surgiram com a intensificação do comércio, elas já existiam, porém, eram “cidades rurais” como diz Huberman.
A diferença entre essa cidade dos primórdios da idade média, e as que se constituíram junto com o progresso do comércio, são de natureza fundamentais. As leis que regiam essas pequenas cidades eram baseadas nos costumes e tencionavam claro, defender os interesses dos donos de terra. O fortalecimento do comércio exigia por sua vez um sistema de leis que defendesse os interesses dessa nova classe. Tais interesses se opunham constantemente. A cidade era feudal, o feudo se opunha assim a nova forma de cidade, a comerciante, dinâmica.
Dessa forma, como meio para solucionar a discrepância de idéias, os comerciantes procuraram unir-se, para assim, terem maior poder frente às retrógadas idéias dos senhores feudais. Surgiam as corporações, essas que desempenharam um papel importante contra o antigo regime. Com essas organizações, a classe que surgia pode garantir de forma mais eficaz a execução dos seus objetivos, que era tão somente a liberdade de comercializar seus produtos, cada vez mais independente dos nobres e do clero.
O papel da igreja nesse momento de disputa é reacionário, como se poderia pressupor, entretanto, com aspectos interessantes. A igreja era totalmente contra a qualquer forma de juro aplicada, pois isso constituía o pecado da usura. Dessa forma, como no princípio da idade média a igreja era líder moral absoluta, suas normas eram a fio obedecidas pelos senhores feudais e principalmente para os mais miseráveis. Leo Huberman diz ser a lei nessa época, a expressão da vontade da maioria, o que não parece lógico, haja vista que numa sociedade de classes, uma minoria exerce o mando sobre os demais, e não são os subordinados que constroem tais leis a seu beneficio, e muito menos a minoria a faz por beneficio e pela vontade dos subordinados.
Portanto, o empréstimo a juros era repudiável, pois segundo narra o autor, quando alguém, antes da explosão do comércio, pedia algo de empréstimo, era porque realmente não tinha esse objeto, e muito menos a condição de produzi-lo. Devido a tal circunstância, não se deveria aproveitar-se da miséria alheia para aumentar os bens. Mas o interessante disso tudo, como anunciamos acima, é que a própria igreja foi quem primeiro começou a quebrar essas regras que ela mesma impunha com tanto rigor e fé. Assim diz Leo Huberman: “Os banqueiros italianos emprestavam dinheiro em grande escala, fazendo negócios enormes - e freqüentemente, quando seus juros não eram pagos, o próprio Papa ia cobrá-los, ameaçando com um castigo espiritual.”
Diante de tal disputa entre interesses diversos, inclusive questões de fé, a nova classe que surgia unida, determinada a conseguir sua liberdade de comércio fosse pela diplomacia ou pela guerra, venceu. Nem mesmo a doutrina da igreja impediu o avanço do comércio.

CAPITULO V
O Camponês rompe amarras
Diante de tais acontecimentos, era inevitável que o camponês aos poucos fosse se desligando do seu senhor. Todavia, tal processo é demorado e doloroso, havendo em muitos casos derramamento de sangue, seja de um lado ou de outro.
O comércio proporciona o desenvolvimento de um setor importante da sociedade feudal, qual seja, a agricultura. Isso se deve ao fato de que a maneira que as cidades iam se constituindo, se expandindo, as pessoas que ali residiam eram em sua maioria comerciantes. Estes por sua vez, não produziam, mas compravam tanto para vender como para o seu consumo. Esse fato forçou um avanço na agricultura, exigindo assim que novas maneiras de produzir mais, e melhor fossem pensadas.
A expansão da agricultura por sua vez, era impulsionada pelo comércio, e, também favorecia o avanço deste último. Cada vez mais, terras são exploradas trazendo assim mais produção, mais excedente. Neste contexto, aumenta a discórdia entre o senhor e o servo que vê nessa nova forma de vida uma oportunidade de liberdade. Então, aos poucos os servos mudando sua relação com o senhor, ao invés de pagar ao senhor com seu trabalho, o servo começava a utilizar o dinheiro para tal (com o melhoramento e aumento da área de cultivo era possível produzir mais que o necessário apara seu consumo). Os donos de feudos que se recusavam a aceitar o dinheiro – que por sinal diminuía cada vez mais – corriam o risco de perder o dinheiro e o trabalho do servo, pois este normalmente empreendia fuga.
As resistências contra o avanço da nova economia, e conseqüentemente a liberdade dos servos, certamente vinham de alguns donos de feudo que não aceitavam as mudanças que estavam ocorrendo, pois elas aos poucos lhes retirava muito de seus direitos. Todavia, a principal opositora, principalmente com relação à liberdade dos servos era a igreja. Segundo Huberman, esta instituição usou até do artifício da excomunhão para intimidar alguns de seus membros que por ventura pensavam em libertar seus servos.
Tal posição dá igreja é aceitável do ponto de vista histórico-cronológico dos acontecimentos. Pois como propões (seriamente) Aníbal Ponce e o próprio materialismo, embora em uma relação dialética, primeiramente se estabelece as bases reais produtivas, sobre essas vão se erigir as superestruturas, como a religião e o direito, por exemplo. Porém do ponto de vista confessional, é muito estranha a posição da igreja com relação a essa matéria.
Mesmo com os obstáculos postos acima, como dito antes, foi inevitável o desligamento do camponês com o senhor feudal, bem como o aumento das cidades e a acentuação sempre mais clara entre campo e cidade, e conseqüentemente a diferenciação do trabalho realizado nesses dois setores.

CAPÍTULO VI
E Nenhum Estrangeiro trabalhará
A organização em torno desses novos objetivos e formas de sobreviver, paulatinamente possibilitaram a formação de uma nova classe baseada ainda em pressupostos semelhantes aos dos comerciantes. Tal classe é hoje a dos industriais, claro, de uma maneira muito diferente, haja vista a pouca força produtiva daquele período.
Os primeiros homens a forma as bases da indústria moderna produziam em suas próprias casas. Estes eram chamados de Mestres, e era comum terem um ou dois ajudantes em seu ofício. Tal descrição denota de maneira simples, mas clara, o ambiente de trabalho desses homens. Leo Huberman destaca sobre o processo de produção desse período um ponto importante. Todo mestre naquele tempo era dono tanto da matéria prima assim como todas as ferramentas necessárias a sua produção, e ainda o produto final. Contrastando com a indústria de hoje, é óbvia a diferença. Hoje o trabalhador – antes aprendiz –, não possui a matéria prima, nem os instrumentos necessários para produzir, e muito menos, detém a posse do produto final de seu trabalho para que possa vender. Contudo, hoje o trabalhador vende a sua própria força de trabalho, o resultado de seu trabalho diário não lhe pertence, mas sim a outrem, a um estranho que não o conhece, e nem está preocupado com a sua vida.
Assim como os comerciantes, os artesãos também buscaram proteção de seus objetivos, para tal, uniram-se em associações e estabeleceram seus próprios tribunais. Tais associações eram bastante rígidas quando ao cumprimento de seus estatutos. Assim, estas buscavam proteger à alto custo o rendimentos de seus negócios, para tanto, criaram um verdadeiro monopólio. As determinações eram tão sérias a ponto de que se algum membro da associação, que poderia ser tanto o mestre como o aprendiz, revelasse o segredo se sua produção em outro país poderia ser levado à morte. Entretanto, apesar dessa rigidez, as associações de inicio procuraram realmente manter o bem-estar de seus membros, seja com contribuições em dinheiro caso um membro estivesse doente e assim sem poder realizar seu trabalho.
Todavia, como esclarece Leo Huberman, a união entre mestre e aprendiz não durou muito ruir. De inicio, esses dois lados estavam extremamente unidos, contudo, diante do aumento do comércio, da produção, como quem ganhava mais era sempre o mestre e não o aprendiz, este primeiro começou aumentar as taxas para admissão de aprendizes. Podemos supor daí que, inicia-se um abismo cada vez maior entre o artesão, mestre e o aprendiz, assim como hoje tal distancia é enorme entre industrial e trabalhador.
Após um período de relativa prosperidade e relação estável com os reis, tais classes voltaram a se bater de frente com novos reis, tal disputa enfraqueceu os mestres e suprimiram muitas das concessões já conquistadas pelas associações.

CAPÍTULO VII
O rei
Por volta do século X, como assinala Leo Huberman, inexistia o sentimento nacionalista tão comum e natural nos dias atuais. Em tal época, praticamente o mundo inteiro se comunicava em apenas uma língua, o Latim. Os centros universitários reuniam pessoas de vários pontos da Europa, nesses locais, todos se entendiam segundo uma língua comum.
Entende-se que no período em questão, não havia as fronteiras entre países como conhecemos hoje, muito menos o nacionalismo. Segundo o autor, nessa mesma época não havia incentivos a valorização de uma pátria. Entretanto, como dito anteriormente, havia uma intenção em prol da defesa das cidades que se constituíram de comerciantes. Assim, cada cidade era uma mini-nação, com suas regras e costumes legais. A intenção em tal ocasião era proteger a cidade, não a minha cidade – que fique claro –, mas a cidade onde eu vendo meus produtos. Uma intenção em proteger aquele novo negócio que prosperava.
Um dos motivos apontados para o aparecimento do nacionalismo, da idéia fixa de país, como expõe Huberman, foi econômico. Assim como já se observa levemente na constituição das pequenas cidades.
Acontece que, no período em questão, os reis eram á titulo, os chefes dos povos, valendo sua palavra. Entretanto, devido à ausência de um estado, de uma nação unificada, cada feudo funcionava segundo suas próprias determinações, sem uma lei geral que regulamentasse todos. Com o aumento das classes médias comerciantes, essas buscam cada vez mais, proteção. Tal segurança é aos poucos comprada dos reis. Como a classe comerciante adquiriu poder progressivamente, é vantajoso para o rei apoiá-la, pois será retribuído, entre outras coisas, por impostos mais volumosos.
Com a aliança entre o rei e a classe média, surgem vantagem para ambas as partes. Pois de tal modo os reis podem garantir por lei privilégios a classe media dos comerciantes, estes agora poderiam ter leis gerais que regulamentassem seu negócio, assim como assegurassem o monopólio que agora já não se fazia entre cidades, mas entre grandes extensões de terras dominadas por um único rei que aplicava sobre essa mesma terra uma regulamentação comum.
O problema nessa parceria era a igreja. Nesse contexto de eventos a igreja católica representava um poder que superava os próprios reis. Como se porta sempre de maneira reacionária, a igreja, era contra a classe média que surgia, apoiando os senhores feudais. Além desse ponto, com a unificação das cidades sobre uma única ordem, e com o apoio, claro, dos comerciantes, a igreja presenciava o poder do rei torna-se superior ao do clero. A posição da igreja em favor dos feudos era antes de tudo uma disputa por poder. Fora isso, lembrem-se das terras que a igreja possuía, todas oriundas dos senhores feudais.
Para não perder seus privilégios, a igreja opôs-se fortemente ao lado secular daquela sociedade. Tal disputa culminou em um evento histórico bastante conhecido, mas pouco relacionado com a questão do estabelecimento do nacionalismo e da elevação de uma classe de comerciantes surgida na idade média.
A igreja daquela época, com todo seu poder, não poupava sua brutalidade santa, e muito menos sua riqueza, em meio a pobreza e doença ela passeava com vestes de ouro. A cobrança realizada por esta, subtraindo e enchendo cada vez mais seu cofre, irritava muitos daquele período, assim como dos dias presentes. Dessa maneira, assim como diz Leo Huberman, antes de Lutero, outros homens já contestavam a postura da igreja de Roma. Muitos levantes de camponeses já haviam ocorrido. A posição daquela igreja não era mais aceita. Entretanto, os responsáveis por tais movimentos eram sempre encabeçados pela nova ideologia que surgia, a da classe de comerciantes. Ou seja, era uma disputa entre a classe média e o clero. Tal disputa culminou na reforma protestante, essa que nas palavras de Huberman, foi a primeira grande vitória da classe que surgia contra o clero e o antigo regime, a sociedade feudal, que veio à publico com vestes religiosas.
Na realidade, a reforma protestante representa a supremacia de uma ideologia, a da liberdade, da união de um povo, de uma nação. Pois paralelo a tal evento, as cidades foram dissolvidas em uma única cidade. Agora sim poderia se constituir e se firmar uma idéia de pátria e de nacionalismo.

CAPÍTULO VIII
"Homem Rico”
Todo esse cenário anterior, com seus acontecimentos e alterações fundamentais abalaram todo o mundo, é a base para o surgimento do homem rico. Alterações globais como estas exigem outras alterações de caráter mais setorial, mais específicas. Os reis, preocupados em manter aquele novo ritmo de negócios, que lhes davam lucros altos, procuraram de toda forma maneiras de superar qualquer possibilidade de enfraquecimento desse negócio.
Uma das estratégias que foram utilizadas nesse período pelos reis foi a desvalorização da moeda. Entretanto, o dinheiro, a moeda daquela época era diferente em sua formação da moeda atual. Tal procedimento de desvalorização da moeda é típico da economia atual. Porém, essa saída é positiva para aumentar os lucros e os impostos do rei, e claro para alguns comerciantes, mas de modo geral para os mais pobres, a situação só piorava.
O valor da moeda medieval dava-se de acordo com a quantidade de ouro ou prata usada para fundir a moeda. Dessa forma, por exemplo, uma moeda na qual era utilizada 10 gramas de ouro, tinha o poder de compra, ou de troca, equivalente a 2 ovos. Quando essa moeda era desvalorizada, passava a ter em sua constituição apenas 5 gramas de ouro. Agora para comprar os mesmo dois ovos, eram necessárias duas moedas. Resultado, o preço das mercadorias sobe ficando acessível apenas a quem realmente dispõe de dinheiro o suficiente para adquiri-las.
Entretanto, como dito no inicio desse capítulo, tal manobra eleva os preços das mercadorias, mas paralelo a isso aumenta os lucros dos comerciantes e dos reis. Todavia, no referido período, essa oscilação do valor da moeda era muito freqüente, o que de certa forma prejudica também os homens de negócio. Pois como argumenta Huberman, chegou o momento de nem os próprios mercadores conseguirem negociar seus produtos com os comerciantes, diante de tantas variações do valor da moeda, e também da própria quantidade de moedas diferentes.
Em tal período, como se evidencia no texto, inicia-se propriamente a distância entre os ricos e os pobres, que em contraposição são aqueles que mais produzem efetivamente. Contudo, tal situação ainda se agravaria muito mais.
Um fator importante que contribui para a superação dessa fase, e a continuação do estabelecimento de uma classe rica, fora as grandes navegações. Essas abriram novos mercados, e deram maior dinâmica a economia. Podemos dizer que esses eram os primeiros passos para a culminância em um sistema verdadeiramente capitalista.

CAPÍTULO IX
”Homem Pobre, Mendigo, Ladrão”

No século XI um fenômeno nunca visto antes ocorreu na Europa. Uma legião de mendigos rondava em ruas e florestas. As causas desse acontecimento são especialmente importantes para nós. Como o próprio autor coloca, esses povos vagantes eram miseráveis, e uma das causas históricas da miséria é a guerra. Sem dúvida essa deixou milhares de pessoa em situação de extrema pobreza – quando não matava –, todavia, existem outras causas a serem apresentadas, estas que por seu turno podem ser a base para as guerras.
Como aconteceu antes com relação à desvalorização do dinheiro, ocorre agora semelhante fato na economia, só que em maiores escalas. Do final do século XV ao inicio do século XVI, uma enorme quantidade de ouro e prata invade a Europa principalmente por via da Espanha. Como a moeda era confeccionada com esses dois metais, e os governos precisavam fazer dinheiro para bancar seus vários confortos, a quantidade de dinheiro circulando aumentou exorbitante mente.
Com tal ocorrência, deu-se uma enorme alta nos preços de todas as mercadorias. Mas esse aumento não trouxe prejuízos para todos. Algumas pessoas se beneficiaram com essa crise econômica, como os mercadores por exemplos, e os comerciantes mais fixos. Esses tiveram que pagar mais para adquirir os produtos, mas em contrapartida, vendiam lucrando muitos mais. Paralelo aos que lucraram e enriqueceram ainda mais, temos aqueles que se tornaram mais miseráveis, quais sejam, os trabalhadores. Estes ficavam impossibilitados de comprarem o essencial para se manterem.
Mas o pior estava por vir. Os senhores donos de terra, que agora cobravam em dinheiro pelo arrendamento da terra, viam os preços dos produtos subindo e a taxa de arrendamento continuando a mesma. Então procuraram adotar medidas para contornar a crise. Tais medidas foram principalmente o fechamento das terras e o aumento da taxa de arrendamento. A primeira, por exemplo, tomava muito da terra que era antes usada para o cultivo e usava como pasto para gado ou ovelhas no caso da Inglaterra. Daí os trabalhadores daquela terra eram simplesmente desabrigados. A segunda medida tornava a taxa impossível de ser paga pelo trabalhador arrendatário, pondo este também numa situação de miséria sem ter onde trabalhar, sem ter como garantir seu sustendo.
Apesar de leis que foram validadas no sentido de impedir o fechamento das terras, por exemplo, nada segurou aquele fenômeno histórico. Dentro desse cenário uma classe vai se destacar, os novos industriais. É interessante destacar as alterações na relação entre o homem e a terra. Para os senhores que tinham a terra como bem maior e fonte de seu poder, a idéia começava mudar por força das circunstâncias, eles agora procuravam tão somente usar a terra como meio para conseguir o novo símbolo do poder, o dinheiro.

CAPÍTULO X
Precisam-se de Trabalhadores - Crianças de Dois Anos Podem Candidatar-se
Como continuidade do processo descrito acima, a indústria começa a se expandir. Diferente das antigas corporações locais, esse novo ramo pretende um comércio sem limites de religião, pretende um comércio com quem deseje comprar e possa, não importando onde esteja.
Na consolidação da indústria ganha destaque o chamado “atravessador”. Este que recebia o produto terminado e tinha a tarefa de vendê-lo no mercado. Porém, a maneira que a procura crescia, extrapolando os limites dos monopólios das velhas corporações, esses atravessadores ganhavam destaque. Como eram eles quem tinha um maior contado com o mercado, normalmente percebiam as necessidades desse mercado, e procuravam modificar o produto para atender as exigências dos clientes. Entretanto, tal ação não era aprovada pelas corporações justamente por configura-se como quebra de monopólio.
Muitas medidas foram tomadas pelas corporações, para de forma legal impedir o crescimento desses que realmente são os principais responsáveis por suplantar a velha forma de produção corporativa local, manufaturado, para a indústria moderna. Mas esta nova classe sempre encontrava maneiras de burlar a lei, uma delas era procurar as regiões rurais mais afastadas das cidades, para assim poderem produzir. Como descreve Leo Huberman, esses intermediários levavam a matéria-prima para o campo onde era fácil conseguir pessoas que tinha perdido suas terras estavam sem nenhum meio de sustento, para trabalhar em seus próprios barracos e ganhar o seu alimento.
Com o constante aumento do mercado, esses homens cresceram o suficiente para, ao invés de seus empregados trabalharem em seus próprios “lares”, os intermediários produtores agora construíam imensos locais onde iam abrigar seus empregados. Esse germe da indústria moderna absorveu ao menor custo possível boa parte dos mendigos que rondavam as cidades e matas como mencionado acima. Nessa nova ordem produtiva que desponta, tudo é permitido desde que aumente o lucro do dono do negocio. Como comenta o autor, homens, mulheres e crianças eram postos a trabalhar arduamente nessas fábricas e, claro, sem as mínimas condições vitais de trabalho. Apesar dessa situação, as pessoas que ali trabalhavam, deveriam agradecer, pois agora tinham um meio pelo qual podiam ganhar seu alimento diário.

CAPÍTULO XI
Ouro, grandeza e glória
Diante da situação das pequenas cidades que demonstravam as vantagens daquele novo comércio, os governantes procuraram de todas as maneiras aplicarem a nível nacional as medidas adotadas nas cidades. O objetivo é claro, obter mais riqueza como aumento do fluxo de negócios. As leis que se iam baixando afim de regular o comercio em níveis nacionais, formam o que os historiadores, como afirmam o autor, chamam de sistema mercantilista.
Naquele período, o país mais rico era aquele que tinha maior estoque de ouro ou prata. Dessa forma as maiorias dos países procuraram estabelecer leis para impedir que o ouro ou prata que entrasse no país não saísse mais deste. Todavia, diante do mercado que se tornava cada vez mais abrangente, era inevitável a importação e exportação de produtos e, este movimento influenciava também na quantidade de minerais no país. Por conta disto foram implantadas também políticas de regulamentação e incentivo à exportação.
Concomitante a política de exportação, os governantes se preocuparam em como realizar tal exportação, promovendo incentivos a construção de frotas para transporte. No entanto, temos que destacar que o interesse nas frotas não era apenas em melhorar o fluxo de mercadorias, mas dizia respeito também a guerra. Esta era, nesse período uma preocupação real de todo governante, tanto que, um dos principais motivos para que o governo incentivasse a produção de cereais, era justamente o fato de, em caso de guerra o país dispor de alimento necessário para seus homens lutarem fortemente.
Apesar das diversas taxações de impostos, não havia uma política de tributária elaborada coerentemente. Devido a tal fato, era comum os governos pedirem empréstimos a banqueiros e até venderem suas terras, e justamente por essa situação era de se entender o apoio do governo quanto ao favorecimento da expansão do comércio, pois este iria lhe render no futuro. Porém, a velha política mercantilista ainda tinha visão muito limitada. Com todas as questões referentes a restrições e monopólios nacionais, para esta política, os autos lucros de um país representava diretamente a falência de outro. Por essa visão de mercado fechado foi que o sistema mercantilista conduziu varias vezes a guerras.

CAPÍTULO XII
Deixem-nos em Paz!
Contudo, as restrições e os monopólios estabelecidos pelos governos já não surtem mais os efeitos positivos para aquela atmosfera de mudança econômica. Inicia-se então uma série de movimento e reclamações que visavam quebrar essas restrições e tornar o comércio mais livre. Como o autor coloca, inicia-se uma verdadeira guerra ao mercantilismo. Os opositores do sistema mercantil procuravam argumentos para convencer os governantes da necessidade da mudança de política econômica.
Alegavam aqueles defensores do livre comércio que os monopólios e restrições causavam o desemprego, enfraquecia o país ao invés de enriquecê-lo. Essa nova maneira de pensar o comércio punha a baixo também a antiga idéia de juntar ouro e prata, de capital fixo. Para esse novo grupo a riqueza tinha que se dar apenas nos lucros obtidos com os negócios, no aumento da produção. O próprio Hume, como coloca o autor, se pronuncia contra o velho sistema mercantil, sendo seus argumentos fundamentais para tirar da mente dos governantes a idéia de juntar ouro.
Nesse contexto, um grupo também tem destaque em se por contra o mercantilismo. Os fisiocratas, apesar de não pretenderem ou não objetivarem o mesmo que a classe media que crescia pretendia, acabaram por colaborar esta última. Os tais fisiocratas baseavam todo o seu argumento da defesa da propriedade agrária, considerando que esta devia ser livremente trabalhada, e que a mesma constituía a única fonte de riqueza do país. Tamanha foi sua contribuição para a ascensão da classe média rica que, eles, os ditos fisiocratas, foram os primeiros a defenderem a idéia de um comércio livre, só depois veio Adam Smith. Entretanto, o pensamento deste último obteve maior resultado prático.
Um ponto interessante expor aqui é a questão da divisão do trabalho. Esta se relaciona diretamente com a expansão do mercado e com as quebras de restrições. Além desses pontos, a progressiva divisão do trabalho, como expõe o autor, reduz os preços, deixando assim mais atrativo o comércio, e claro, privilegiando o dono daquela matéria prima, em detrimento dos trabalhadores.

CAPÍTULO XIII
"A Velha Ordem Mudou”...
A tributação estabelecida pela maioria dos países europeus do século XVII além de ser desorganizada, em termos de não ser fruto de uma política planejada, era bastante desonesta. Na maioria dos países, segundo o autor, os impostos mais altos eram cobrados justamente dos mais pobres. O clero e os nobres desfrutavam de isenções diversas. Além disso, essas duas classes além de não pagar impostos ao estado cobravam seus próprios tributos aos plebeus.
Tal situação econômica forçou naturalmente a mudanças. Para contrapor seus gastos, os governos tentaram cobrar impostos também da nobreza, o que certamente gerou conflitos. Essa classe nobre considerava o maior escândalo ter que pagar impostos tal como os pobres. Esse contexto possibilitou muitos eventos importantes. A classe média que surgia, a burguesia, tinha enorme interesse na abertura geral do comércio, na liberdade de produzir onde quiser e vender da mesma forma. Por outro lado, os camponeses pobres sofriam com os impostos pesados enquanto a velha aristocracia esbanjava luxo.
Em tal situação, a burguesia assume a liderança numa marcha à revolução. Os camponeses se vêem beneficiados nos objetivos da burguesia nascente. Essa nova classe tinha dinheiro, mas não dispunha de todas as mordomias e poder da velha nobreza, o que lhe era irritante. No entanto, com o apoio dos camponeses, e sua inteligência, pois a burguesia constituía homens educados, essa classe assumiu a liderança da revolução francesa.
Todavia, como ficou claro, quem saiu lucrando no final da revolução foram apenas os burgueses, os camponeses, esses que realmente foram à luta, continuaram em uma situação inferior, agora, aos burgueses. Estes último, aproveitando-se das lutas da revolução, adquiriram uma soma enorme de terras. Durante a revolução, a burguesia enriquecia enquanto o camponês dava seu sangue nas batalhas. Ao fim dos conflitos, a velha ordem foi definitivamente superada. Em 1789, como assiná-la Leo Huberman, é o fim da idade média.
É interessante destacar que para chegar a tal ponto da história, três revoluções foram necessárias, a reforma protestante, a revolução gloriosa na Inglaterra e por fim a revolução francesa. Depois da última, está instalado o modo de produção baseado apenas no lucro, ao qual chamamos capitalismo.

Parte II
DO CAPITALISMO AO...?
CAPÍTULO XIV
De Onde vem o Dinheiro?
O capitalismo, entretanto, implica em capital. O dinheiro só é capital quando é usado para adquirir mais dinheiro, para alcançar lucros. Assim ele precisa circular por entre vários setores da sociedade, ou pelo menos, nos setores onde se tenha dinheiro suficiente para comprar e vender, onde haja acumulo de riqueza.
O movimento descrito acima é de extrema importância para o surgimento da moderna indústria. Todavia, essa riqueza, esse dinheiro, provinha de fontes as mais terríveis que se possa imaginar. Todo o movimento da indústria hoje, os grandes capitais, fincaram suas bases mediante o acumulo de dinheiro conseguido com os saques durante várias guerras e com um dos mais lucrativos comércios do velho mundo, o tráfico de homens africanos para trabalho forçado na Europa e nas Américas. Eis a fonte suja do dinheiro necessário para por em funcionamento o capitalismo com sua indústria, e a prova são os países que se desenvolveram mais cedo e rapidamente, estes foram justamente os que mais exploraram, como Holanda, Espanha e Inglaterra.
Dentre todos esses meios, o pior sem dúvida foi a compra e venda de homens. No entanto, durante o auge desse negócio lucrativo, era trabalho comum capturar escravos, tanto que tal atividade recebia incentivo de reis e rainhas. Havia também aqueles achavam indigna tal atitude, mas esses, em menor quantidade, claro, eram suprimidos pela maioria, haja vista que as pessoas mais poderosas dos países apoiavam esse comércio. A própria rainha Elizabeth, ambiciosa pelos lucros desse negócio, ofereceu navios de empréstimo para os capturadores de escravos, que depois da caça bem sucedida honrava-os com o titulo de cavalheiros.
Podemos considerar ainda que a prosperidade da indústria capitalista se deva ao trabalho forçado. Pois como esclarece o autor, nenhum homem trabalha para outro homem sem ser forçado a isso. Se há terra suficiente, não motivo para prestar trabalho a outro. A prova disso, como nos mostra Leo Huberman, é a Austrália, quando em uma determinada situação onde foram levados pessoas para colonizá-la, ao chegarem e perceberem a imensidão de terras à disposição, logo aquele que as tinha levado ficou sem ninguém para servi-lo, pois todos acharam melhor cultivar suas próprias terras, trabalhar para si, para seu sustendo e suas necessidades.
Outro ponto que leva o homem a vender sua força de trabalho é o fato de ele não dispor das ferramentas de trabalho. Com a reforma protestante inicia-se o processo de desligamento do trabalhador para com sua ferramenta. Tal processo é também fundamental para poder dar inicia e sustentar o capitalismo com sua indústria.

CAPÍTULO XV
Revolução - Na Indústria, Agricultura, Transporte
A indústria se modernizava cada vez mais, impulsionada pela pressão do mercado que aumentava a necessidade de consumo. A máquina a vapor teve papel importante nessa fase da jovem indústria. Essas novas máquinas, operadas por poucos homens aumentavam surpreendentemente a produção e baixavam os preços. A invenção do Sr. Watt, portanto, representou um grande salto para a industria, em pouco tempo suas máquinas a vapor estavam em todas as fabricas.
A modernização das fabricas pelas máquinas tem conseqüências interessantes. Aqueles que não podem adquirir essa moderna ferramenta fica fora do mercado produtivo, pois os que utilizam a máquina a vapor podem vender seus produtos a um custo menor, não deixando opção para aquele de menor poder aquisitivo, que não dispõe da nova tecnologia e não pode vender seu produto com preços menores. Este tende assim a falência. Tal ponto é importante pois já mostra de maneira clara o que teoriza Marx nos seus manuscritos quando diz que a tendência do sistema capitalista é uma divisão em apenas duas classes, sendo que a classe dominante, a proprietária dos meios de produção, tende cada vez mais a se reduzir em quantidade em virtude da concorrência.
Paralelo a essa revolução na indústria ocorreram também avanços na agricultura e transportes. Com todo aquele aumento de produção, não fazia sentido ter péssimas estradas e meios de transportes ruins, pois a mercadoria produzida precisava chegar aos consumidores. Além disso, a agricultura precisava manter tanto os donos dos meios de produção como os trabalhadores fabris. Eram forças que operavam juntas para erigir um novo mundo.

CAPÍTULO XVI
"A Semente Que Semeais, Outro Colhe”...
Todavia, a nova indústria com sua expansão nunca vistam antes, com toda a sua riqueza que produzia, não significa dizer que era positiva para todos. Sem dúvida a indústria trouxe riqueza, mas para uma minoria. Enquanto uns poucos ganhavam com seus negócios lucrativos, uma multidão morria faminta, pois o ganho mal dava para garantir seu sustento diário. Por isso o autor argumenta que a maioria das histórias contadas sobre o inicio do período industrial são fantasiosas, pois só apontam os pontos brilhantes e positivos.
A realidade da juventude industrial era bem diferente. Era comum nas fabricas se ter crianças trabalhando e com turnos de 16 horas ou mais. Tudo o que os trabalhadores conseguiam ganhar não era suficiente para se manterem. A situação era grave ao ponto de, como explica Leo Huberman, o pai agradecer a deus pela morte do filho, pois assim era menos um a sustentar e menos um a ter que passar por aquele enorme sofrimento da vida na fabrica.
A indústria trouxe junto com a riqueza dos donos, a morte de muitas pessoas miseráveis que não tinham se quer um barraco digno para morar. Tal situação, todavia, era legitimada por lei, lei essa feita pelos industriais, em benefício dos mesmos e contra o trabalhador. Era clara já a distancia entre o trabalhador que realmente produzia e o dono da indústria que apenas investia dinheiro conseguido com exploração para explorar mais ainda e obter lucros.
Diante de toda essa situação de miséria, foi inevitável as revoltas populares. O povo, os trabalhadores acusavam as máquinas de serem elas as culpadas de toda aquelas vidas desgraçadas que levavam. O argumento era que as máquinas tomaram seus trabalhos e os poucos que restaram tiveram os salários barateados pelas mesmas máquinas. Ocorreram então vários conflitos. Tais embates, apesar de terem sido mais desgastante para os trabalhadores, surtiram um efeito, positivo para a época. Como fruto das greves que traziam as invasões e quebras de máquinas, os trabalhadores adquiriram alguns direitos políticos. Esse ganho possibilitou aos trabalhadores se organizarem em sindicatos e terem maior representatividade perante o Estado. Todavia, não alterou em muito as suas condições de explorados.

CAPÍTULO XVII
"Leis Naturais" de Quem?
Como em todos os momentos onde ocorreram importantes mudanças houve também alterações na lei, na nova situação da Europa capitalista, não poderia ser diferente. É importante notar algo interessante com relação ao estabelecimento dessas leis que regeriam o mundo do capital. Primeiro que, assim como a física e a matemática, certos homens inteligentes da época procuraram, a exemplo dessas ciências, aplicar leis, ou demonstrar na economia leis naturais.
Um dos maiores escritores, dito economista, a tratar desse ponto foi Adam Smith. Segundo este homem, como afirma Leo Huberman, tal situação de exploração destacados no capítulo anterior, eram decorrentes de uma lei natural daquela economia. Se bem que, aqueles que realmente sofriam com a exploração, não eram importantes para o estabelecimento dessas leis, Smith procurou antes argumentar que aquele progresso todo, decorria naturalmente daquele sistema produtivo.
Esse novo conjunto de doutrinas econômicas, onde o principal representante foi Smith, mas que outros tantos fizeram parte, foi o que ficou conhecido como a economia clássica. Tais idéias dominaram facilmente aquele período, pois estas favoreciam os capitalistas e a classe burguesa de maneira geral. Entretanto, tais princípios no inicio do século XX começaram a se chocar com o pensamento perspicaz de Marx. Ao se seguir inúmeros embates de argumentos entre diversos setores da sociedade, a economia clássica começou a fracassar com suas “leis naturais”.

CAPÍTULO XVIII
"Trabalhadores de Todos os Países, Uni-vos”
Várias pessoas antes mesmo de Karl Marx tiveram condições de enxergar a situação de exploração do momento capitalista no qual viviam. Estas pessoas se indignaram com o viam, protestavam em seu íntimo, elas eram socialistas. Porém, eram utópicas seus sonhos não passavam por estudo da realidade, eram de certa forma vagos. Mas Marx, trouxe o socialismo científico, que não sonheva com um futuro brilhante, mas analisa todo o passado e o presente, a fim de julgar o que poderia decorrer daquela atual situação.
A teoria de Marx desbancou facilmente as dos economistas clássicos. Mostrou como o trabalhador é explorado explicando mais valia, assim como também mostrou que desde quando ouve a divisão de classes que o trabalhador é explorado, tendo essa exploração agora atingido os níveis mais alarmantes.
Marx, diferente dos utópicos, levou até as últimas conseqüências praticas a sua teoria. Junto com Engels percebeu que o capitalismo chegaria a seu limite, já que este é contraditório em suas próprias bases. Para enfrentar esse momento último do capitalismo seria necessário que todos os trabalhadores estivessem juntos. Foi assim, pondo seu programa de sociedade em prática que Marx foi o pivô de muitas revoltas e tomadas de governo. Seu movimento ganhou espaço mundial, pois aonde quer que exista um trabalhador, esse era da mesma forma mal tratado, sacrificado aos poucos. Estes abriram os olhos dos trabalhadores de maneira decisiva.

CAPÍTULO XIX
Eu Anexaria os Planetas, se Pudesse...

A teoria de Marx que tinha bases concretas materiais, surgiu como negativa para os industriais. Principalmente a sua teoria do valor, esta que quando levantada por Adam Smith favorecia as indústrias, mas com a amplitude que Marx deu a mesma, esta se transformou em uma arma do proletário contra a burguesia.
Todavia, não demoraram a surgir outras teorias econômicas que pretendessem desbancar a marxistas. Três homens, como argumenta o autor, foram de maneira especial os percussores dessa nova teoria sobre o valor. A nova maneira de explicar o valor diferia inclusive da proposta de Smith, além da marxista. Para Marx, o valor da mercadoria se dá de acordo com o trabalho necessário para produzi-la. Já essa nova teoria dizia ser a utilidade aquilo que define o valor de uma mercadoria.
Entretanto, é fácil perceber que tal teoria que explica o valor das coisas pela utilidade é bastante falível. Pois basta atentar que as necessidades úteis de uma pessoa para com qualquer objeto variam de pessoa para pessoa. Por exemplo, existem X carros custando cada um o preço de Y dinheiros. Existem pessoas A que em sua família já existe um ou mais carros, sendo que todas as viagens poderiam ser atendidas com estes veículos. Porém, essa pessoa A tem dinheiro suficiente para comprar mais um carro, e assim o faz. Considere portanto outra pessoa B que não tem carro na família, e dispõe de dinheiro para comprar um. Certamente, analisando grosso modo, observamos que a necessidade e até a utilidade do carro para a pessoa B é maior que para a pessoa A, porém, o preço Y dos carros permanece fixo, a loja não vai considerar sua situação de necessidade, pois esta é subjetiva.
Vê-se logo que tal teoria envolve muito do subjetivo, por isso é mais complicada de se entender, ao passo que a de Marx, baseada no concreto da realidade, é visível e compreensível a, se não todos, mas boa parte daqueles que querem entender.

CAPÍTULO XX
O Elo Mais Fraco
O imenso desenvolvimento da indústria, do comércio e dos meios de produção em geral ocasionou uma crise jamais vista antes. A economia clássica mencionada acima não foi capaz de tratar sobre essa questão, ela não foi capaz de prever tal momento da economia. Mas um homem o foi, Karl Marx. Em manifesto do partido comunista, ele e Engels já sabiam que assim como a economia corria naquela época não tardaria a chegar à uma crise sem precedentes. Nos referimos a crise da superprodução.
Sempre houve crise na produção, desde que o homem começou a produzir. Todavia, as crises existentes antes do capitalismo eram geralmente a fatores naturais como a falta de chuva que diminuía a produção de cereais, ou, no máximo devido a guerras. Assim como correu várias vezes na idade média, quando a produção caía os efeitos eram claros, os preços subiam e muita gente não podia comprar seus alimentos e utensílios básicos. Agora, a crise é diferente, os produtores estão com enormes estoques esperando compradores, não há falta de mercadorias, pelo contrário, existe mercadoria em excesso. A tecnologia permitiu um grande salto na produção, entretanto não garantiu que aquilo produzido fosse realmente consumido. Com a abundância de mercadorias a procura cai, em conseqüência os preços baixam. Tal movimento leva a falência boa parte dos pequenos capitalistas.
No meio dessa produção exagerada, como dito acima, os pequenos capitalistas perdem seu negócio ou como diz Marx, são obrigados a consumir seu capital. Mas como é de praxi, nesses momentos de crise os que mais sofrem são exatamente os trabalhadores, estes que nada têm, a não ser a sua força de trabalho, que como afirma Marx, dão louvores a deus quando encontram alguém disposto a comprá-la, mesmo que a preços miseráveis. Como sugere o título, o elo mais fraco politicamente é quem para o maior preço.

CAPÍTULO XXI
A Rússia Tem um Plano
A crise fez surgir 34 anos depois da morte de Marx o seu espírito. Toda a teoria construída por Marx foi posta, ou pelo menos parte dela, em prática por Lênin. A revolução russa foi o que podemos chamar de, a teoria posta em prática. Porém, como toda revolução, teve seus custos, os mais altos possíveis. Como diz Leo Huberman, quem tem medo de lobos não vai a floresta. Lênin tinha naquele momento consciência de todas as conseqüências de uma revolução, de uma guerra.
Este revolucionário soube como ninguém perceber o momento exato, com as condições adequadas para por em prática a teoria marxista. Todavia, parece ter faltado apenas um ponto, e um dos mais importantes. Este relaciona-se com as forças produtivas. Apesar de toda produção existente, naquele período vários estudiosos asseguram que não havia força produtiva suficiente para ser distribuída entre os trabalhadores.
De modo geral, foram várias as causas para que não se tenha vigorado na Rússia o socialismo tal como proposto por Marx e tensionado na prática por Lênin. Divergências políticas entre os partidos foram uma das causas, pois nem todos concordavam exatamente com o plano econômico de Lênin. Todavia, a tentativa Russa, provou que é possível sim, em condições propicias, existir uma nova forma de sociedade diferente da capitalista e, sem o conjunto de injustiças agudas trazidos a esse. Ademais, Lênin contribui para a completa difusão das idéias marxistas pelo mundo, o que sem dúvida produziu reflexos e reflexões em diferentes partes do mundo.

CAPÍTULO XXII
Desistirão Eles do Açúcar?
Quando se estoura uma revolução do nível da que surgiu na Rússia com Lênin, é sinal de que realmente as coisas não vão bem. Naquela ocasião, a grande maioria das pessoas – trabalhadores pobres – vivia em situação de clara miséria. Para agravar a situação, a crise obrigava os produtores a jogar fora seu produto por não ter como vender, ou para combater os preços baixíssimos. Além dessas circunstâncias, a massa pobre observava um grupo muito pequeno ainda imerso em luxo às expensas daqueles sofridos homens.
A situação do capitalismo daquele momento era idêntica em todo o mundo. A crise devastava não só a Europa, mais o ocidente também. Os russos puderam, por meio de a revolução experimentar um momento de certa planificação econômica, que garantia de certa maneira que todos pudessem produzir e ter para quem vender. Ao contrário, nos outros países que passaram por essa experiência a única saída era queimar, jogar fora sua produção para tentar com isso elevar os preços e ter novamente participação no mercado.
Alguns países até tentaram realizar ações postas em prática na Rússia de Lênin. O problema era que ao contrário da Rússia, esses países eram puramente capitalistas, assim, as medidas adotadas por Lênin e que mostraram bons resultados, eram um fracasso em outros países.
Diante dessa série de tentativas sem nada resolver surge os regimes fascista em alguns países. Estes pretendem solucionar o problema, mas nada resolvem. Assim, desde essa primeira grande crise, o capitalismo vem se mostrando cada vez mais vulnerável, cada vez mais contraditório, cada vez mais desumano. Não é difícil hoje apontar inúmeros pontos pelos quais seria justo reivindicar um novo modelo de sociedade, e se pararmos para analisar, a única tentativa que poderia ter dado certo foi a realizada por Lênin, ou a proposta de Marx. Mas como sempre, ainda há hoje os que defendem esse modelo econômico e criticam o projeto marxista apontando para os defeitos da Rússia socialista ou de Cuba. Afirmamos que, se estes julgam ser o socialismo negativo, é porque se beneficiam do capitalismo, e como tal, não enxergam nada além do próprio lucro. Estes certamente não são artistas, pois como escreve Huberman, a revolução é uma arte.

Um comentário:

Anônimo disse...

resumo bom, porém mais de esquerda impossivel